São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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Disputa para 2012 começa empatada

Oposição se anima para eleição presidencial, daqui a dois anos, mas sofre nas áreas rurais e não tem candidato

Líder venezuelano terá de vencer medo do povo de inflação, violência e insegurança jurídica para ter novo mandato

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS

Se, como disse o presidente Hugo Chávez, a eleição legislativa de domingo equivalia a aquecer os motores para o pleito mais importante, o que decidirá em 2012 a sucessão presidencial, a disputa começou empatada.
É verdade que a oposição teve ligeira maioria no total de votos (51%), mas só é um número animador quando comparado às duas mais recentes eleições relevantes: na presidencial de 2006, Chávez reelegeu-se com espetaculares 62,84% dos votos, mais de 16 pontos a mais do que os 46,4% que seu partido obteve domingo.
No plebiscito que lhe assegurou o direito a disputar reeleições indefinidamente, em 2009, ficou com 54%.
Vista pela oposição, é uma curva claramente declinante.
Ou, como diz Michael McCarthy, doutorando em ciência política pela Johns Hopkins University: "Se a oposição foi capaz de chegar aos 50% dos votos, mesmo que não obtenha a maioria da Assembleia Nacional, é muito encorajador, porque a eleição presidencial é baseada no voto popular".
McCarthy alude ao fato de que, mesmo com a maioria dos votos, a oposição ficou com apenas 40% da Assembleia por conta do sistema distrital que favorece regiões rurais onde o chavismo é muito forte. "Nas áreas rurais, a oposição basicamente inexiste no mapa político", confirma McCarthy.
Observadores internacionais neutros, que pedem anonimato, lembram que, anteontem, Chávez teve que se empenhar -com o uso despudorado da máquina pública- para eleger outras pessoas, em geral insípidas.
O caudilhismo, de que Chávez é o maior representante na América Latina, tem esse efeito de não permitir que nasçam rivais à sombra do líder. Acontece que, em 2012, o líder será o candidato.
Joga com uma vantagem: a oposição não tem ainda um candidato natural. Diz, por exemplo, Peter DeShazo, diretor do Programa das Américas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington: "A oposição não tem líder nacional e não oferece programa coerente ou visão alternativa que não seja apenas oposição a Chávez".
Por isso mesmo, o marqueteiro brasileiro Hiram Pessoa de Melo, que foi contratado pela oposição, defende a tese de que a Mesa de Unidade Democrática, o conglomerado oposicionista de 16 organizações, elabore, desde já, uma agenda que escape da polarização com Chávez.

MEDOS
Hiram cunhou o slogan que acha ter sido fundamental para a relativa vitória oposicionista: "Queremos vivir sin miedo". A ideia, agora, é explorar o que a oposição chama de coleção de medos dos venezuelanos, a saber: 1) Medo da violência. Uma morte violenta a cada meia hora é, de fato, de aterrorizar até os mais destemidos. A taxa de homicídios é 75 para 100 mil habitantes, o dobro da Colômbia em guerra há 50 anos e o triplo do Brasil.
2) Medo da insegurança jurídica. As ameaças frequentes de expropriações pelo governo desestabilizam os negócios. Chávez ameaça até atacar os campos de golfe.
3) Medo da inflação. Não baixa de 24% desde janeiro de 2008. Os alimentos e bebidas subiram mais nos últimos 12 meses (38%).
4) Medo do desemprego.
Um dos fatores da popularidade de Chávez foi a redução do desemprego. Mas ele voltou a subir, como consequência da crise internacional.
Cresceu 42% em um ano e meio, o que é inevitável se se considera que a Venezuela vive seis trimestres consecutivos de recessão, na contramão dos vizinhos.
Mas a oposição tem seus próprios medos. O principal deles é saber o que Chávez fará agora que sofreu um baque, embora parcial. Vai negociar ou vai manter o estilo de confronto que vem sendo a sua marca registrada desde que a oposição de então tentou o golpe em 2002?
"Quando ele é colocado contra a parede, se põe terno", palpita Carmen Beatriz Fernández, presidente da DataStrategia Consultores, que também trabalhou com a oposição.
Mas é uma ternura apenas para ganhar tempo. Quanta ternura e quanto tempo é o que começará a se ver agora.

FOLHA.com
Leia a coluna de Clóvis Rossi na Folha.com
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