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Disputa para 2012 começa empatada
Oposição se anima para eleição presidencial, daqui a dois anos, mas sofre nas áreas rurais e não tem candidato
Líder venezuelano terá de vencer medo do povo de inflação, violência e insegurança jurídica para ter novo mandato
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Se, como disse o presidente Hugo Chávez, a eleição legislativa de domingo equivalia a aquecer os motores para
o pleito mais importante, o
que decidirá em 2012 a sucessão presidencial, a disputa
começou empatada.
É verdade que a oposição
teve ligeira maioria no total
de votos (51%), mas só é um
número animador quando
comparado às duas mais recentes eleições relevantes:
na presidencial de 2006,
Chávez reelegeu-se com espetaculares 62,84% dos votos, mais de 16 pontos a mais
do que os 46,4% que seu partido obteve domingo.
No plebiscito que lhe assegurou o direito a disputar
reeleições indefinidamente, em 2009, ficou com 54%.
Vista pela oposição, é uma
curva claramente declinante.
Ou, como diz Michael
McCarthy, doutorando em
ciência política pela Johns
Hopkins University:
"Se a oposição foi capaz de
chegar aos 50% dos votos,
mesmo que não obtenha a
maioria da Assembleia Nacional, é muito encorajador,
porque a eleição presidencial
é baseada no voto popular".
McCarthy alude ao fato de
que, mesmo com a maioria
dos votos, a oposição ficou
com apenas 40% da Assembleia por conta do sistema
distrital que favorece regiões
rurais onde o chavismo é
muito forte. "Nas áreas rurais, a oposição basicamente
inexiste no mapa político", confirma McCarthy.
Observadores internacionais neutros, que pedem
anonimato, lembram que,
anteontem, Chávez teve que
se empenhar -com o uso
despudorado da máquina
pública- para eleger outras
pessoas, em geral insípidas.
O caudilhismo, de que
Chávez é o maior representante na América Latina, tem
esse efeito de não permitir
que nasçam rivais à sombra
do líder. Acontece que, em
2012, o líder será o candidato.
Joga com uma vantagem:
a oposição não tem ainda um
candidato natural. Diz, por
exemplo, Peter DeShazo, diretor do Programa das Américas do Centro para Estudos
Estratégicos e Internacionais
de Washington:
"A oposição não tem líder
nacional e não oferece programa coerente ou visão alternativa que não seja apenas oposição a Chávez".
Por isso mesmo, o marqueteiro brasileiro Hiram Pessoa
de Melo, que foi contratado
pela oposição, defende a tese
de que a Mesa de Unidade
Democrática, o conglomerado oposicionista de 16 organizações, elabore, desde já,
uma agenda que escape da polarização com Chávez.
MEDOS
Hiram cunhou o slogan
que acha ter sido fundamental para a relativa vitória oposicionista: "Queremos vivir
sin miedo". A ideia, agora, é
explorar o que a oposição
chama de coleção de medos
dos venezuelanos, a saber:
1) Medo da violência. Uma
morte violenta a cada meia
hora é, de fato, de aterrorizar
até os mais destemidos. A taxa de homicídios é 75 para
100 mil habitantes, o dobro
da Colômbia em guerra há 50 anos e o triplo do Brasil.
2) Medo da insegurança jurídica. As ameaças frequentes de expropriações pelo governo desestabilizam os negócios. Chávez ameaça até
atacar os campos de golfe.
3) Medo da inflação. Não
baixa de 24% desde janeiro
de 2008. Os alimentos e bebidas subiram mais nos últimos 12 meses (38%).
4) Medo do desemprego.
Um dos fatores da popularidade de Chávez foi a redução
do desemprego. Mas ele voltou a subir, como consequência da crise internacional.
Cresceu 42% em um ano e
meio, o que é inevitável se se
considera que a Venezuela
vive seis trimestres consecutivos de recessão, na contramão dos vizinhos.
Mas a oposição tem seus
próprios medos. O principal
deles é saber o que Chávez fará agora que sofreu um baque, embora parcial. Vai negociar ou vai manter o estilo
de confronto que vem sendo
a sua marca registrada desde
que a oposição de então tentou o golpe em 2002?
"Quando ele é colocado
contra a parede, se põe terno", palpita Carmen Beatriz
Fernández, presidente da
DataStrategia Consultores, que também trabalhou com a oposição.
Mas é uma ternura apenas
para ganhar tempo. Quanta
ternura e quanto tempo é o
que começará a se ver agora.
FOLHA.com
Leia a coluna de Clóvis Rossi na Folha.com
folha.com.br/pr805372
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