São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011

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ANÁLISE CRISE EUROPEIA

Merkel precisa convencer políticos e mercado

Premiê alemã tem duplo desafio de garantir apoio de sua coalizão e persuadir investidor de que plano funcionará

TEM HAVIDO UM DESCOMPASSO ENTRE O RITMO DE AÇÃO DOS POLÍTICOS E AS EXPECTATIVAS DO MERCADO


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A tarefa árdua da premiê alemã, Angela Merkel, nesta semana é convencer dissidentes da sua própria coalizão a aprovar o pacote de ajuda à Grécia e de ampliação dos poderes do fundo de resgate europeu amanhã.
Se passar no teste, a chanceler e demais líderes europeus enfrentarão missão ainda mais difícil: convencer os mercados financeiros de que as ações aprovadas até agora são suficientes para garantir a solvência dos países europeus em crise.
O desafio imediato de Merkel pode ser uma questão de sobrevivência política.
Especialistas acreditam que o pacote será aprovado, de toda forma. Mas a quase certeza em relação a isso se deve ao apoio da oposição ao plano de socorro.
Dentro da coalizão de Merkel, há resistência ao plano. Se mais de 19 membros da sua base de apoio votarem contra o pacote, Merkel perde a "maioria do chanceler".
Segundo especialistas, isso não significaria necessariamente a queda do governo, que enfrenta outros problemas domésticos. Mas seria um golpe duro à sua estabilidade.
O índice de confiança de empresários alemães, divulgado no início da semana, caiu pelo terceiro mês consecutivo, para o nível mais baixo desde setembro de 2010.
O otimismo de consumidores também está em queda nos últimos meses em consequência de uma perda de fôlego na recuperação do mercado de trabalho, assim como da própria crise europeia.
Merkel enfrenta essa deterioração de clima e o desafio -como líder da maior economia da zona do euro- de conquistar a confiança do mercado financeiro. A chanceler tem demonstrado frustração com essa dependência.
Segundo ela própria, tocou no assunto até com o papa Bento 16, que visitou a Alemanha na semana passada.
"Nós falamos sobre os mercados financeiros e o fato de que políticos deveriam ter o poder de fazer políticas para a população, e não ser guiados pelos mercados", afirmou a chanceler depois de encontro com o papa.
Tem havido um descompasso persistente entre o ritmo de ação dos políticos e as expectativas do mercado.
Segundo participantes da reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional) no último fim de semana, líderes europeus se queixavam de que nem aprovaram o segundo plano de socorro à Europa e os mercados já querem discutir o terceiro.
Investidores e analistas têm repetido há algum tempo que um calote da dívida grega é inevitável.
Impasses políticos, como o que ameaça surgir na base de apoio de Merkel, tendem a alimentar as expectativas ruins. Certo ou errado, o mercado tem o poder de precipitar o caos em momentos de pânico.
Esse parece ser o grande temor do momento.


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