São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011

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Hamas evoca luta armada pela criação da Palestina

Porta-voz do grupo na Síria afirma que nova intifada está próxima

Talal Nasser despreza pedido de adesão da Palestina à ONU e questiona valor de "Estado só no papel"


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A DAMASCO

Cercado por quatro de seus 14 filhos, o porta-voz do Hamas na Síria combina a fala mansa com palavras duras. Talal Nasser, 50, não vê razão para festejar o pedido de adesão da Palestina à ONU.
Para ele, só a luta armada levará à criação da Palestina. "Não há lugar para judeus na Palestina", diz. O escritório do Hamas em Damasco divide a liderança do movimento islâmico, que controla a faixa de Gaza e é rival do laico Fatah, do presidente Mahmoud Abbas.
Situada numa rua sem saída cercada de câmeras de segurança dentro do campo de refugiados palestino de Yarmouk, em Damasco, a sede do Hamas exige dos visitantes que tirem os sapatos, como numa mesquita. Nasser diz que a "terceira intifada" [revolta palestina] está próxima e será liderada pelo Hamas. Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha.

 


Folha - Por que o Hamas é contra o reconhecimento da Palestina na ONU?
Talal Nasser
- É uma decisão individual do governo de Ramallah e de Abu Mazen [apelido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas]. O Hamas não foi consultado. A questão é: qual o valor disso?
Apreciamos o apoio de países como o Brasil, mas o reconhecimento da ONU encerra a questão palestina de forma negativa. Porque a ONU reconhecerá também o direito de Israel. 40% da Cisjordânia continuará nas mãos de Israel. De que adianta um Estado no papel?

Por que o acordo de reunificação Fatah-Hamas assinado em maio não foi adiante?
O problema é que Abu Mazen insiste em manter Salam Fayyad como primeiro-ministro. Fayyad é um traidor que colabora com os EUA e com Israel na perseguição à resistência palestina. Qualquer pessoa aceita pelos EUA não é reconhecida pelos palestinos ou pelo islã.

Haverá uma nova intifada?
Ela está próxima e será liderada pelo Hamas. Como disse Golda Meir [premiê israelense, 1969-1974], um tanque é mais importante do que 50 resoluções das Nações Unidas. Só a luta armada criará o Estado palestino.
Você deve pensar: qual o futuro dos judeus? Que voltem para os lugares de onde vieram. Não há lugar para eles na Palestina.

Como a Primavera Árabe afeta a questão palestina?
São mudanças benéficas. No Egito e na Tunísia, o povo disse que o próximo passo é libertar a Palestina.

E a "primavera síria"?
Não queremos nos intrometer. O Hamas deseja o melhor para a Síria. O escritório continua aqui e esta entrevista foi devidamente autorizada pelo governo sírio.


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