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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Em 45 minutos, ataques atingem Comitê Internacional da Cruz Vermelha e delegacias; EUA ressaltam coordenação

Atentados matam ao menos 35 em Bagdá

Jamal Saidi/Reuters
Policiais e civis observam cratera aberta pelo ataque em Al Shaab


DA REDAÇÃO

Quatro ataques a bomba aparentemente coordenados mataram ontem, em Bagdá, ao menos 35 pessoas num intervalo de 45 minutos (civis iraquianos em sua maioria). Mais de 200 pessoas foram feridas nos atentados, que tiveram como alvo três delegacias e a sede do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no país.
Nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado. Autoridades iraquianas e militares americanos levantaram suspeitas sobre forças leais ao ex-ditador Saddam Hussein e combatentes estrangeiros.
Para George W. Bush, os ataques são um sinal de que a resistência iraquiana está "desesperada" com o progresso americano no país. Anteontem, o hotel Rashid, que hospedava Paul Wolfowitz, subsecretário da Defesa dos EUA, fora atacado com mísseis.
É a primeira vez que o CICV sofre um ataque no Iraque, onde opera desde 1980. Foram mortos dois funcionários iraquianos do organismo, que evita esquemas especiais de segurança.
"O CICV não aceita proteção armada e conta só com a percepção sobre seu trabalho pelas partes envolvidas no conflito", disse um porta-voz. "Não usamos capacete nem colete a prova de balas."
Há relatos que citam até 43 mortos ao todo. Entretanto, segundo o vice-ministro do Interior do Iraque, general Ahmed Ibrahim, 26 civis e oito policiais foram mortos, e o comando dos EUA anunciou a morte de um soldado.
"Parece uma campanha de terror coordenada para coincidir com o início do mês sagrado do Ramadã e criar pânico", disse Samir Sumaidy, do Conselho de Governo Iraquiano.
Além dos constantes ataques a soldados dos EUA, cresceu o número de atentados contra organismos internacionais e representações estrangeiras no Iraque -nos últimos dois meses foram atacadas a ONU, a embaixada da Jordânia e a da Turquia. Delegacias também são alvo frequente, pois os policiais são vistos como colaboradores da ocupação.

Coordenação
Embora os atentados de ontem tenham mostrado pouca sofisticação, o grau de coordenação e planejamento é inédito no Iraque após a guerra.
Às 8h30 (horário local), um terrorista suicida uniformizado como um policial e dirigindo um carro de polícia carregado de explosivos detonou-o na delegacia de Baya (zona sul). Cinco minutos depois, uma ambulância-bomba explodiu a 20 metros da sede do CICV (centro), destruindo parte de sua fachada.
Às 8h55, outro suicida detonou um carro-bomba na delegacia de Al Shaab (zona norte). Às 9h15, a delegacia de Al Khudra (zona sul) foi alvo de ataque semelhante.
Um quinto terrorista foi pego pela polícia iraquiana quando tentava detonar seu carro-bomba em uma delegacia no bairro de Nova Bagdá (zona leste).
"Ele estava gritando: "Morte à polícia iraquiana! Vocês são colaboradores'", disse um policial.

Estrangeiros e baathistas
Funcionários graduados do Pentágono disseram crer que os responsáveis pelos ataques sejam forças leais ao Baath, o extinto partido de Saddam, e afirmaram que os últimos dias mostraram mais coordenação da resistência.
O general Ibrahim, por sua vez, acusou combatentes estrangeiros contrários à ocupação americana, afirmando que o terrorista pego pela polícia portava um passaporte sírio. "Infelizmente, alguns países estão tentando enviar gente para conduzir ataques", afirmou.
O general Mark Hertling, da 1ª Divisão Blindada do Exército dos EUA, endossou a versão. "Há indícios de que esses ataques seguem o modo de operar dos combatentes estrangeiros", disse, acrescentando que ataques suicidas não são típicos dos baathistas, que adotam ataques de guerrilha, usando granadas-foguetes e revólveres contra soldados.
Durante a madrugada, três soldados americanos haviam sido mortos em dois ataques na capital, elevando para 113 as baixas dos EUA em ataques no pós-guerra. Em Fallujah (oeste), testemunhas disseram que quatro civis foram mortos por soldados dos EUA que abriram fogo após uma bomba explodir quando seu veículo passava.

Com agências internacionais

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