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ARGENTINA
No momento em que o índice de corrupção no país piora, governador manda funcionários publicarem declaração de renda
Buenos Aires tenta conter corrupção
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O governo da Província de Buenos Aires vai exigir que todos os
seus funcionários, especialmente
os secretários de pastas que administram volumes consideráveis de
recursos públicos, disponibilizem
pela internet informações detalhadas sobre suas declarações de
bens e rendimentos. A meta é deixar mais transparente a administração e se enquadrar no clima de
"moralização institucional" propagado desde a posse do presidente Néstor Kirchner, em maio.
O próprio governador, Felipe
Solá, deu o exemplo. Exibiu no site oficial da Província uma lista
que enumera todo o seu patrimônio, avaliado em US$ 350 mil.
"Quem não quiser informar
quanto possui, que se demita do
cargo", disse, em tom de ameaça.
"Essa medida é importante porque, no final do mandato, os eleitores poderão conferir se estamos
mais ricos ou não."
Segundo o governador, que se
reelegeu para mais quatro anos de
mandato pelo Partido Justicialista
-o mesmo de Kirchner-, é preciso restabelecer a confiança dos
cidadãos nos políticos. "Temos de
amenizar essa associação direta
que se faz entre política e corrupção", afirmou.
Os principais secretários já
atenderam ao pedido. A maioria
tem patrimônio que supera o do
governador. Raúl Rivera, responsável pela pasta de Obras e Serviços Públicos, informou possuir
US$ 2,4 milhões. Ele é o mais rico
dos secretários e disse ter acumulado a fortuna com a sua atividade
no setor privado. Rivera é dono
de uma empresa exportadora de
grãos e foi diretor do Banco Província entre 1995 e 1997.
A medida atingiu inicialmente
os cargos de confiança, mas a intenção é estendê-la a todos os funcionários, entre eles fiscais e subsecretários, que também têm
acesso aos recursos da Província.
A decisão foi vista com bons olhos
pela população, mas não deixa de
causar ceticismo entre alguns
analistas. O que se questiona é se
as informações serão realmente
compatíveis com a realidade.
Mesmo assim, dizem alguns analistas políticos, é melhor começar
de alguma forma.
Corrupção
A crise política, econômica, social e institucional vivida pela Argentina nos últimos anos agravou
os índices de corrupção do país.
Pesquisa recente divulgada pela
organização Transparência Internacional mostrou uma piora na
sua posição no ranking mundial
de corrupção. Numa escala de 0 a
10 (em que quanto mais baixa a
pontuação, mais desacreditada é
a imagem), a Argentina apareceu
com 2,5, atrás de Brasil (3,9), Colômbia, Peru, El Salvador e México, para comparar com países da
América Latina. Está à frente apenas de Bolívia, Equador, Paraguai,
Uganda e Bangladesh.
Mario Rejtman Farah, diretor
da ONG Poder Ciudadano, representante da Transparência Internacional na Argentina, afirma
que a crise fez piorar os níveis de
corrupção no governo e nas instituições.
"Prova disso é que o resultado
está pior do que o que tínhamos
durante o governo Menem, reconhecidamente envolvido com escândalos de corrupção."
Um outro levantamento, da
Fundação Konrad Adenauer,
mostrou que a Argentina retrocedeu no ranking de institucionalidade democrática, um levantamento realizado pela instituição
em 17 países da região. A Argentina aparece em 11º lugar, atrás do
Brasil, que ocupa a 7ª posição, e
do Chile, que está em primeiro lugar como o mais desenvolvido democraticamente.
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