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São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

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ARGENTINA

No momento em que o índice de corrupção no país piora, governador manda funcionários publicarem declaração de renda

Buenos Aires tenta conter corrupção

ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

O governo da Província de Buenos Aires vai exigir que todos os seus funcionários, especialmente os secretários de pastas que administram volumes consideráveis de recursos públicos, disponibilizem pela internet informações detalhadas sobre suas declarações de bens e rendimentos. A meta é deixar mais transparente a administração e se enquadrar no clima de "moralização institucional" propagado desde a posse do presidente Néstor Kirchner, em maio.
O próprio governador, Felipe Solá, deu o exemplo. Exibiu no site oficial da Província uma lista que enumera todo o seu patrimônio, avaliado em US$ 350 mil. "Quem não quiser informar quanto possui, que se demita do cargo", disse, em tom de ameaça. "Essa medida é importante porque, no final do mandato, os eleitores poderão conferir se estamos mais ricos ou não."
Segundo o governador, que se reelegeu para mais quatro anos de mandato pelo Partido Justicialista -o mesmo de Kirchner-, é preciso restabelecer a confiança dos cidadãos nos políticos. "Temos de amenizar essa associação direta que se faz entre política e corrupção", afirmou.
Os principais secretários já atenderam ao pedido. A maioria tem patrimônio que supera o do governador. Raúl Rivera, responsável pela pasta de Obras e Serviços Públicos, informou possuir US$ 2,4 milhões. Ele é o mais rico dos secretários e disse ter acumulado a fortuna com a sua atividade no setor privado. Rivera é dono de uma empresa exportadora de grãos e foi diretor do Banco Província entre 1995 e 1997.
A medida atingiu inicialmente os cargos de confiança, mas a intenção é estendê-la a todos os funcionários, entre eles fiscais e subsecretários, que também têm acesso aos recursos da Província. A decisão foi vista com bons olhos pela população, mas não deixa de causar ceticismo entre alguns analistas. O que se questiona é se as informações serão realmente compatíveis com a realidade. Mesmo assim, dizem alguns analistas políticos, é melhor começar de alguma forma.

Corrupção
A crise política, econômica, social e institucional vivida pela Argentina nos últimos anos agravou os índices de corrupção do país. Pesquisa recente divulgada pela organização Transparência Internacional mostrou uma piora na sua posição no ranking mundial de corrupção. Numa escala de 0 a 10 (em que quanto mais baixa a pontuação, mais desacreditada é a imagem), a Argentina apareceu com 2,5, atrás de Brasil (3,9), Colômbia, Peru, El Salvador e México, para comparar com países da América Latina. Está à frente apenas de Bolívia, Equador, Paraguai, Uganda e Bangladesh.
Mario Rejtman Farah, diretor da ONG Poder Ciudadano, representante da Transparência Internacional na Argentina, afirma que a crise fez piorar os níveis de corrupção no governo e nas instituições.
"Prova disso é que o resultado está pior do que o que tínhamos durante o governo Menem, reconhecidamente envolvido com escândalos de corrupção."
Um outro levantamento, da Fundação Konrad Adenauer, mostrou que a Argentina retrocedeu no ranking de institucionalidade democrática, um levantamento realizado pela instituição em 17 países da região. A Argentina aparece em 11º lugar, atrás do Brasil, que ocupa a 7ª posição, e do Chile, que está em primeiro lugar como o mais desenvolvido democraticamente.


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