São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Violência é sombra em eleição na Colômbia

País elegerá hoje governadores e prefeitos após campanha deixar 29 políticos mortos

37% das cidades têm risco de violência política; alvo de dois atentados, candidato a prefeito diz que insegurança tira legitimidade da disputa

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Héctor Copete, candidato a prefeito da cidade colombiana de Buenaventura, chega às eleições regionais de hoje com chances remotas de ganhar. Mas ter sobrevivido à campanha já é quase uma vitória: alvo de dois atentados, por pouco não aumentou a lista dos 29 políticos mortos desde o início da campanha, em agosto.
"Não tivemos a mesma mobilidade que os outros candidatos, não pudemos chegar com tranqüilidade aos eleitores nos bairros. O Estado nos deu toda a proteção, mas não podíamos colocar a comunidade em risco porque poderia haver um atentado", disse Copete à Folha, por telefone.
"Muitos simpatizantes retiraram meus cartazes por medo de ataques. Diziam: "Estamos com você, mas não vamos fazer reunião'", continuou.
Copete realizou seu último evento público no dia 9 de setembro -uma caminhada com simpatizantes. Dois dias mais tarde, levou um tiro de raspão nas costas quando saía de casa. E, no dia 6, uma granada lançada contra a sua casa feriu quatro policiais encarregados de fazer a segurança.
Buenaventura, uma cidade portuária de pouco mais 300 mil habitantes de onde sai boa parte da cocaína colombiana, é a mais perigosa do país: sua taxa de homicídio é 144 por 100 mil habitantes, sete vezes maior do que o índice de Bogotá. Mas, quando se trata de violência política, não é exceção.
Um estudo feito pela Defensoria do Povo -órgão do Estado que monitora os direitos humanos- mostra que em 403 dos 1.098 municípios do país (37% do total) existe o risco de violência política.
De acordo com a ONG Missão de Observação Eleitoral (MOE), até quinta-feira houve 151 ações violentas contra candidatos, como seqüestros e ameaças. Desse total, 29 foram homicídios, o mesmo número registrado quatro anos atrás.
Já um estudo comparativo da Fundação Segurança e Democracia, divulgado ontem, revela que a violência política diminuiu nos últimos anos. No caso de assassinatos, caiu de 94, em 2003, para 64 neste ano, variação de 32%. O levantamento incluiu não apenas candidatos mas também vereadores e outras funções.
A visão mais otimista é a do governo colombiano, que só reconhece risco em 79 municípios, embora admita que tem fornecido proteção a cerca de 9.000 candidatos, de um total de 86.449. "Hoje, há uma guerrilha debilitada [Farc] e um paramilitarismo desaparecido. É bom registrar isso a 48 horas das eleições", discursou o presidente Álvaro Uribe anteontem, em relação aos dois grupos aos quais os ataques são freqüentemente atribuídos.

Legitimidade
Candidato pelo governista Partido de la U (Partido Social de Unidade Social), Copete discorda do presidente. Para ele, apesar da melhoria da segurança pública sob o governo direitista de Uribe, a violência política tira a legitimidade do processo eleitoral.
"No caso de Buenaventura, se as ameaças tivessem sido a todos os candidatos, haveria igualdade de condições. Mas, quando afetam apenas um candidato -e obviamente não estou defendendo que tenha de atingir os outros-, a democracia e a legitimidade [da eleição] ficam prejudicadas", disse ele.
"Hoje [sexta-feira], já posso dizer que, se eu não for eleito nesta campanha, isso terá tido muito a ver com a violência. De alguma maneira, o atentado contra a minha vida já cumpriu parte do objetivo", continuou.
Estão em disputa 18.527 cargos, entre governadores, deputados departamentais (estaduais), vereadores e membros de juntas locais (espécie de Câmara em nível de bairro ou distrito). Mais de 27,5 milhões de eleitores estão registrados, mas o voto não é obrigatório, e a abstenção costuma ser alta.

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