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Violência é sombra em eleição na Colômbia
País elegerá hoje governadores e prefeitos após campanha deixar 29 políticos mortos
37% das cidades têm risco de violência política; alvo de dois atentados, candidato a prefeito diz que insegurança tira legitimidade da disputa
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Héctor Copete, candidato a
prefeito da cidade colombiana
de Buenaventura, chega às eleições regionais de hoje com
chances remotas de ganhar.
Mas ter sobrevivido à campanha já é quase uma vitória: alvo
de dois atentados, por pouco
não aumentou a lista dos 29 políticos mortos desde o início da
campanha, em agosto.
"Não tivemos a mesma mobilidade que os outros candidatos, não pudemos chegar com
tranqüilidade aos eleitores nos
bairros. O Estado nos deu toda
a proteção, mas não podíamos
colocar a comunidade em risco
porque poderia haver um atentado", disse Copete à Folha,
por telefone.
"Muitos simpatizantes retiraram meus cartazes por medo
de ataques. Diziam: "Estamos
com você, mas não vamos fazer
reunião'", continuou.
Copete realizou seu último
evento público no dia 9 de setembro -uma caminhada com
simpatizantes. Dois dias mais
tarde, levou um tiro de raspão
nas costas quando saía de casa.
E, no dia 6, uma granada lançada contra a sua casa feriu quatro policiais encarregados de
fazer a segurança.
Buenaventura, uma cidade
portuária de pouco mais 300
mil habitantes de onde sai boa
parte da cocaína colombiana, é
a mais perigosa do país: sua taxa de homicídio é 144 por 100
mil habitantes, sete vezes
maior do que o índice de Bogotá. Mas, quando se trata de violência política, não é exceção.
Um estudo feito pela Defensoria do Povo -órgão do Estado que monitora os direitos humanos- mostra que em 403
dos 1.098 municípios do país
(37% do total) existe o risco de
violência política.
De acordo com a ONG Missão de Observação Eleitoral
(MOE), até quinta-feira houve
151 ações violentas contra candidatos, como seqüestros e
ameaças. Desse total, 29 foram
homicídios, o mesmo número
registrado quatro anos atrás.
Já um estudo comparativo
da Fundação Segurança e Democracia, divulgado ontem, revela que a violência política diminuiu nos últimos anos. No
caso de assassinatos, caiu de
94, em 2003, para 64 neste ano,
variação de 32%. O levantamento incluiu não apenas candidatos mas também vereadores e outras funções.
A visão mais otimista é a do
governo colombiano, que só reconhece risco em 79 municípios, embora admita que tem
fornecido proteção a cerca de
9.000 candidatos, de um total
de 86.449. "Hoje, há uma guerrilha debilitada [Farc] e um paramilitarismo desaparecido. É
bom registrar isso a 48 horas
das eleições", discursou o presidente Álvaro Uribe anteontem, em relação aos dois grupos aos quais os ataques são
freqüentemente atribuídos.
Legitimidade
Candidato pelo governista
Partido de la U (Partido Social
de Unidade Social), Copete discorda do presidente. Para ele,
apesar da melhoria da segurança pública sob o governo direitista de Uribe, a violência política tira a legitimidade do processo eleitoral.
"No caso de Buenaventura,
se as ameaças tivessem sido a
todos os candidatos, haveria
igualdade de condições. Mas,
quando afetam apenas um candidato -e obviamente não estou defendendo que tenha de
atingir os outros-, a democracia e a legitimidade [da eleição]
ficam prejudicadas", disse ele.
"Hoje [sexta-feira], já posso
dizer que, se eu não for eleito
nesta campanha, isso terá tido
muito a ver com a violência. De
alguma maneira, o atentado
contra a minha vida já cumpriu
parte do objetivo", continuou.
Estão em disputa 18.527 cargos, entre governadores, deputados departamentais (estaduais), vereadores e membros
de juntas locais (espécie de Câmara em nível de bairro ou distrito). Mais de 27,5 milhões de
eleitores estão registrados, mas
o voto não é obrigatório, e a
abstenção costuma ser alta.
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