São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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Para ex-refém, resgate militar é "loucura"

Ex-deputado ficou em poder das Farc por 8 anos e fugiu com ajuda de desertor que vai receber cerca de US$ 500 mil de prêmio

Parentes de cerca de 500 seqüestrados apelam por acordo com rebeldes; Uribe diz que soltura foi "resgate provocado" e promete mais

DA REDAÇÃO

Um dia após ser encontrado na selva depois de fugir com a ajuda de um guerrilheiro desertor, o ex-deputado Óscar Lizcano comoveu ouvintes das rádios colombianas ontem ao narrar momentos dramáticos de seus oito anos como cativo das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Ele incentivou os ainda reféns (cerca de 500 pessoas) e afirmou que uma ação de resgate militar seria "uma loucura".
Lizcano, 62, era deputado pelo Partido Conservador quando foi seqüestrado em 2000. Passou muito tempo isolado de outros reféns e nem os rebeldes de sua escolta podiam lhe dirigir a palavra, contou. "A solidão era terrível. Inventava alternativas para romper."
Ex-professor universitário, ele disse ter inventado alunos imaginários a quem dava aulas diárias, de duas ou três horas. "Havia momentos em que eu plantava paus [no chão] e colocava nome neles. Começava a dar aula. Também escrevia poesia", disse Lizcano, internado numa clínica em Cali desde domingo, após três dias vagando na selva. Ele sofre de anemia, desnutrição e infecção urinária, entre outras doenças que adquiriu no cativeiro.
O drama de Lizcano e sua oposição à ação militar deram novo vigor aos pedidos dos familiares dos ainda reféns por um acordo humanitário entre Bogotá e a guerrilha. As Farc ainda têm em seu poder 28 reféns "políticos", que desejam trocar por guerrilheiros presos. Desde a exitosa operação que libertou a franco-colombiana Ingrid Betancourt e outros 14 reféns, em julho, a opção parece cada vez mais distante.

US$ 500 mil de prêmio
A libertação de Lizcano ocorre num momento em que Uribe é acossado por protestos de indígenas -cuja repressão violenta ganhou holofotes internacionais-, greves e a investigação de um escândalo de espionagem de opositores.
Depois de o governo anunciar que a soltura do ex-deputado havia sido resultado de uma ação militar, ontem o presidente Álvaro Uribe chamou-a de "resgate provocado", por conta da pressão do Exército na zona, em Cauca (sudoeste). O ex-guerrilheiro, Wilson Bueno Largo, o "Isaza", deve receber recompensa em torno de US$ 500 mil por entregar o refém, disse o Ministério da Defesa.
A proposta a Isaza foi feita por meio da ex-companheira dele, que desertara meses antes. Enquanto isso, militares pressionavam os guerrilheiros.
O roteiro, que o governo disse ontem que pretende repetir, cumpre a estratégia de combinar ofensiva armada, infiltração e oferecimento de dinheiro que tem debilitado a guerrilha militar e moralmente.
O ex-guerrilheiro gravou depoimento convocando os rebeldes a desistir das Farc. Segundo o governo colombiano, ele e sua companheira devem viver agora na França, em liberdade. Paris disse manter a disposição de receber os ex-rebeldes desde que "estejam em dia com a Justiça" colombiana.

Com agências internacionais



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