|
Texto Anterior | Índice
Para ex-refém, resgate militar é "loucura"
Ex-deputado ficou em poder das Farc por 8 anos e fugiu com ajuda de desertor que vai receber cerca de US$ 500 mil de prêmio
Parentes de cerca de 500 seqüestrados apelam por acordo com rebeldes; Uribe diz que soltura foi "resgate provocado" e promete mais
DA REDAÇÃO
Um dia após ser encontrado
na selva depois de fugir com a
ajuda de um guerrilheiro desertor, o ex-deputado Óscar Lizcano comoveu ouvintes das rádios colombianas ontem ao
narrar momentos dramáticos
de seus oito anos como cativo
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Ele incentivou os ainda reféns
(cerca de 500 pessoas) e afirmou que uma ação de resgate
militar seria "uma loucura".
Lizcano, 62, era deputado pelo Partido Conservador quando
foi seqüestrado em 2000. Passou muito tempo isolado de outros reféns e nem os rebeldes
de sua escolta podiam lhe dirigir a palavra, contou. "A solidão
era terrível. Inventava alternativas para romper."
Ex-professor universitário,
ele disse ter inventado alunos
imaginários a quem dava aulas
diárias, de duas ou três horas.
"Havia momentos em que eu
plantava paus [no chão] e colocava nome neles. Começava a
dar aula. Também escrevia
poesia", disse Lizcano, internado numa clínica em Cali desde
domingo, após três dias vagando na selva. Ele sofre de anemia, desnutrição e infecção urinária, entre outras doenças que
adquiriu no cativeiro.
O drama de Lizcano e sua
oposição à ação militar deram
novo vigor aos pedidos dos familiares dos ainda reféns por
um acordo humanitário entre
Bogotá e a guerrilha. As Farc
ainda têm em seu poder 28 reféns "políticos", que desejam
trocar por guerrilheiros presos.
Desde a exitosa operação que
libertou a franco-colombiana
Ingrid Betancourt e outros 14
reféns, em julho, a opção parece cada vez mais distante.
US$ 500 mil de prêmio
A libertação de Lizcano ocorre num momento em que Uribe
é acossado por protestos de indígenas -cuja repressão violenta ganhou holofotes internacionais-, greves e a investigação de um escândalo de espionagem de opositores.
Depois de o governo anunciar que a soltura do ex-deputado havia sido resultado de uma
ação militar, ontem o presidente Álvaro Uribe chamou-a de
"resgate provocado", por conta
da pressão do Exército na zona,
em Cauca (sudoeste). O ex-guerrilheiro, Wilson Bueno
Largo, o "Isaza", deve receber
recompensa em torno de US$
500 mil por entregar o refém,
disse o Ministério da Defesa.
A proposta a Isaza foi feita
por meio da ex-companheira
dele, que desertara meses antes. Enquanto isso, militares
pressionavam os guerrilheiros.
O roteiro, que o governo disse ontem que pretende repetir,
cumpre a estratégia de combinar ofensiva armada, infiltração e oferecimento de dinheiro
que tem debilitado a guerrilha
militar e moralmente.
O ex-guerrilheiro gravou depoimento convocando os rebeldes a desistir das Farc. Segundo o governo colombiano,
ele e sua companheira devem
viver agora na França, em liberdade. Paris disse manter a disposição de receber os ex-rebeldes desde que "estejam em dia
com a Justiça" colombiana.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Investigação: Advogada russa não foi vítima de envenenamento Índice
|