São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Correa promete "reforma profunda" no Equador

Esquerdista diz que convocará Constituinte e não renovará acordo militar com EUA

Com 50,14% das urnas apuradas, economista obteve 68,1% dos votos, contra 31,8% do candidato direitista Álvaro Noboa

DA REDAÇÃO

O economista de esquerda Rafael Correa, eleito presidente do Equador, afirmou ontem que irá promover uma profunda reforma política no país, apoiado pela ampla vantagem de votos que obteve sobre seu adversário. Entre suas primeiras medidas, ele anunciou a realização de uma Assembléia Constituinte e a não renovação do acordo que permite que os EUA utilizem a base militar de Manta, no litoral do país.
Com 50,14% das urnas apuradas, Correa obteve 68,1% dos votos no segundo turno realizado no domingo - 36,3 pontos acima do empresário conservador Álvaro Noboa (31,8%), segundo dados divulgados ontem pelo Supremo Tribunal Eleitoral. O resultado oficial deve sair hoje, e o novo governo toma posse em 15 de janeiro.
"O povo me deu um mandato claro, com a segunda maior margem nos últimos 30 anos de democracia", afirmou Correa em Guayaquil. "Queremos uma reforma política profunda."
Noboa, o homem mais rico do Equador e pela terceira vez derrotado em eleições presidenciais, pediu a recontagem de votos, mas o pedido foi rejeitado pelo TSE.
A missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) disse que o processo ocorreu sem incidentes maiores e que foi "legítimo, transparente e correto".
Em Washington, o Departamento de Estado limitou-se a dizer que os EUA estão "prontos para trabalhar" com o novo governo equatoriano.
Coube ao secretário-geral da OEA, o chileno José Miguel Insulza, explicar a ampla vitória de Correa -que havia chegado em segundo lugar no primeiro turno. "Correa fez um grande esforço, um esforço maciço, para apresentar no segundo turno um programa moderado que atraiu uma quantidade imensa de eleitores." Mas alertou: "[Ele] terá de responder por todo esse eleitorado".

Governabilidade
Oitavo presidente no Equador em dez anos, Correa porá novamente à prova a governabilidade do país diante de um Congresso recém-eleito dominado por adversários - ele decidiu não apresentar candidatos a deputado - e que irá limitar sua capacidade de levar adiante uma agenda legislativa.
O principal ponto de fricção será precisamente a convocação de uma Assembléia Constituinte por consulta popular, sua principal bandeira de campanha, além do Tratado de Livre Comércio com os EUA, a que o presidente se opõe.
"Prevemos que o impasse e a confrontação entre o Executivo e o Legislativo irão subir a novos níveis sob um governo Correa", afirmou em nota a consultoria Goldman Sachs.
Outro tema espinhoso é a prometida renegociação da dívida externa equatoriana. Ricardo Patino, futuro ministro da Economia, disse ao jornal equatoriano "El Comercio" que não descarta a possibilidade de uma moratória do pagamento dos juros da dívida.
Sobre a base em Manta, centro das operações militares dos EUA na região, Correa disse ontem que irá esperar que o convênio expire, em 2009, para então pedir a retirada dos militares americanos. Sua intenção, disse, é construir aí um aeroporto internacional. "Respeitamos os tratados internacionais, mas em 2009, quando vence a vigência do acordo de Manta, não o renovaremos."
Correa relembrou ainda sua aliança ao venezuelano Hugo Chávez, mas disse que seu governo será independente de Caracas. "Vamos nos aproximar muito, muito de Chávez", disse em entrevista ao Canal 8 de TV. "Chávez é meu amigo pessoa, mas na minha casa não mandam meus amigos, mando eu. E no Equador, serão os equatorianos."


Com agências internacionais

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