São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Cúpula promete paz em acordo vago

Reunião israelo-palestina patrocinada pelos EUA, em Annapolis, termina com intenção de retomar Mapa do Caminho

Questões fundamentais não ganharam menção no texto, mas diplomatas afirmam que expectativas foram superadas em encontro

Larry Downing/Reuters
Olmert, Bush e Abbas na Base Naval de Annapolis, EUA, onde compromisso de firmar acordo até o fim de 2008 foi anunciado


SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A ANNAPOLIS (EUA)

Sob supervisão dos EUA, Israel e a Autoridade Nacional Palestina aceitaram tentar chegar a um acordo de paz até o final de 2008. Para tanto, o premiê israelense, Ehud Olmert, e o líder palestino Mahmoud Abbas vão se encontrar duas vezes por mês para discutir a implementação do Mapa do Caminho, proposta de paz feita em 2003 pelo Quarteto (EUA, UE, Rússia e ONU) e que nunca chegou a ser posta em prática.
O anúncio foi feito com a leitura do documento conjunto por George W. Bush, texto que era finalizado e mudado até minutos antes da apresentação e pela manhã corria o risco de não existir -o Departamento de Estado trabalhava com a hipótese de soltar só um resumo da reunião, que seria lido pela secretária Condoleezza Rice.
"Nós concordamos em estabelecer negociações vigorosas, contínuas e ininterruptas e faremos todo o esforço para chegar a um acordo antes do final de 2008", recitou o presidente Bush na Base Naval de Annapolis, capital do Estado de Maryland, a 50 km de Washington.
As duas partes se comprometeram a seguir imediatamente as obrigações determinadas pelo plano, que prevê a implantação permanente de dois Estados como solução para o conflito israelo-palestino. Concordaram ainda com a criação de um comitê bilateral, que se encontrará freqüentemente a partir de 12 de dezembro para discutir cada ponto da proposta, e um mecanismo a ser liderado pelos EUA para supervisionar a implantação do plano.
A sugestão de uma data limite e a divulgação do documento conjunto foram considerados avanços nas relações israelo-palestinas -o processo de paz estava interrompido havia pelo menos sete anos. Mas os termos vagos do texto e a série de condições impostas pelos dois líderes nos discursos que se seguiram emprestam ceticismo tanto ao resultado do evento como à sua viabilidade prática.
Abbas mencionou a necessidade de levar à discussão, entre outras coisas, as fronteiras finais de um Estado palestino e o status de Jerusalém. Temas espinhosos para Israel, como os assentamentos na Cisjordânia e o direito de retorno dos refugiados palestinos, não foram citados no documento.

Expectativas superadas
A reação dos representantes dos 49 países e organizações convidados foi positiva. Os discursos superaram as expectativas, inclusive dos países árabes, disse o chanceler Celso Amorim. O compromisso público dos países com o prazo "aumenta o preço do fracasso", acredita o brasileiro. "Há um engajamento muito corajoso dos EUA." Ou, como resumiu o chanceler espanhol, Miguel Ángel Moratinos, "existe um sentimento do peso da história neste momento".
Ao longo do dia, outras iniciativas seriam anunciadas. O chanceler saudita, príncipe Saud al Faiçal, pediu que fossem retomadas as negociações de paz entre Israel, Síria e Líbano o quanto antes. Já o chanceler russo, Sergei Lavrov, propôs uma nova conferência no primeiro trimestre de 2008, em seu país.
Em seu discurso, Bush foi realista ao citar as dificuldades que surgirão pós-encontro. "Atingir essa meta não será fácil", disse. "Se fosse fácil, teria acontecido há muito tempo." Para ter paz e liberdade, afirmou, palestinos e israelenses terão de fazer "escolhas difíceis". Na seqüência, em fala que citou Abraham Lincoln, Abbas diria aos palestinos que o mundo inteiro estendia a mão "para nos ajudar a pôr fim ao nosso holocausto, que já dura muito tempo". E, ao povo israelense: "Estendemos nossas mãos a vocês como parceiros na paz".
Por fim, Olmert afirmou que vinha a Annapolis porque estava preparado para assumir "esse compromisso doloroso, cheio de riscos". "A hora é chegada. Nós estamos prontos." E, dirigindo-se aos representantes de países árabes: "A maioria deles não tem relações diplomáticas com Israel. A hora é chegada para vocês também".
Os três discursaram em seus idiomas, não sem antes posar para fotos em que Bush primeiro segurava as mãos do israelense e do palestino e depois os observava cumprimentar-se, numa cena que o mundo já viu muito últimos 40 anos, com protagonistas diferentes, mas resultados semelhantes.


NA INTERNET - Leia a íntegra do comunicado em www.folha.com.br/073314


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