São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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Presença da Síria em Annapolis visa isolar Irã no Oriente Médio

DO ENVIADO A ANNAPOLIS

A surpresa da conferência de ontem não foi só a aceitação na última hora por israelenses e palestinos da divulgação de um documento conjunto e do prazo de 2008 para o tratado de paz. Há uma improvável aliança sendo formada entre países árabes, EUA e, por tabela, Israel. O objetivo comum: conter a ascensão do Irã no Oriente Médio.
Nesse sentido, a adesão mais importante foi a da Síria. Apesar de ter tratado com aparente desprezo a reunião de ontem -foi enviado um funcionário de segundo escalão, e apenas na última hora-, o presidente Bashar Assad fez questão de marcar presença no encontro, mesmo depois de supostamente ter recebido telefonema do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pedindo que o boicotasse.
Alguns diplomatas acreditavam que a aliança de 25 anos entre Teerã e Damasco pode ter começado a desmoronar na terça-feira. Se for isso mesmo, a vitória é não só de Israel, que há poucas semanas atacou uma suposta instalação para fins nucleares na Síria, mas dos EUA, que teriam finalmente conseguido cortar o duto que mantém vivos os grupos extremistas islâmicos alocados no sul do Líbano e em partes dos territórios palestinos.
Editorial de ontem do diário estatal sírio "Tishrin" defendia a presença do país em Annapolis, afirmando que a Síria está disposta "a ir até o fim da Terra" para atingir seus objetivos pacíficos.
Não é o que pensa David Schenker, expert em política árabe do Washington Institute for Near East Policy, para quem Damasco consultou Teerã antes de enviar representante á cúpula, e o ato representa interesses comuns.
O fato é que a Síria tem mostrado boa vontade ao controlar com mais eficiência, por exemplo, sua fronteira com o Iraque. Segundo o comando militar norte-americano, caiu o número de homens-bomba e insurgentes estrangeiros de origem síria naquele país, ao mesmo tempo em que aumentou o dos de origem saudita.
Mas analistas acreditam que há mais por trás da decisão de Bashar Assad. A Síria quer de volta as colinas do Golã, tomadas por Israel em 1967, posição apoiada por diversos países presentes em Annapolis. Damasco acha que o momento é bom para que Washington faça pressão sobre seu principal aliado no Oriente Médio.
À tarde, indagada sobre o convite feito ao país, a porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que a Síria foi convidada no contexto do Comitê Árabe de Follow-Up, que faz parte do processo de paz. "Eles foram convidados, mandaram seu vice-chanceler", disse. Sobre Golã, foi evasiva: "Se Israel e Síria estão negociando algo, teremos de esperar para ver". (SD)


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