São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

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Favorito em Honduras quer procurar Lula

Porfirio Lobo diz que vai "bater na porta" do presidente brasileiro para convencê-lo a reconhecer eleição de amanhã

Concorrente que lidera nas pesquisas de intenção de voto se esquiva de opinar sobre queda de Zelaya e diz se opor a ele e a Micheletti


Yuri Cortez/France Presse
Soldado guarda cédulas de eleição de amanhã em Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

O candidato favorito para a eleição presidencial hondurenha de amanhã, Porfirio Lobo, disse ontem que vai "bater na porta" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar da posição brasileira de não reconhecer o resultado.
"Estamos muito interessados em ter relações com todos os países. No caso do Brasil, é um país que muito admiramos. Estamos muito interessados em ir ao Brasil para ver os programas que tem, como o Bolsa Família. Bateremos na porta do presidente Lula para que ele nos receba", disse Lobo, 61, do conservador Partido Nacional (PN), em entrevista coletiva ontem. "Nenhum país poderá negar o que é o direito de um povo de poder eleger."
"Vamos buscar o presidente Lula para que reconsidere a sua posição e sejamos tão amigos como temos sido sempre, talvez mais amigos", disse Lobo, que, questionado três vezes sobre a posição brasileira, chegou a brincar, ensaiando algumas palavras em português.
Lobo disse que, se eleito, a sua prioridade será recompor as relações internacionais. Será uma tarefa difícil: embora os EUA, principal parceiro comercial, defendam as eleições como solução para a crise, países como Brasil e Argentina consideram que o pleito só deveria ocorrer com Zelaya restituído.
Como isso não ocorreu, alegam que não reconhecerão o resultado, o que na prática pode resultar no congelamento de relações diplomáticas e institucionais com o governo eleito.
No dia 28 de junho, o PN votou a favor da deposição de Manuel Zelaya no Congresso, horas depois de ele ter sido detido e expulso do país por militares. Com o tempo, a agremiação se distanciou do governo interino, de Roberto Micheletti, filiado ao rival Partido Liberal, como o presidente deposto.
"Sou o candidato da oposição. Seja Zelaya ou Micheletti, quero tirar os dois daqui", disse Lobo, que novamente não se posicionou sobre se apoia ou não a volta do presidente deposto -o tema será votado quarta-feira pelo Congresso.
Questionado várias vezes na entrevista, Lobo disse não saber quem é o presidente legítimo e evitou dizer se considerou correta a expulsão de Zelaya.
Sobre a ameaça de abstenção no domingo, Lobo disse que será menor do que 2005, quando 45% dos eleitores deixaram de votar. Naquela eleição, o candidato nacionalista perdeu para Zelaya por 73,7 mil votos.
Lobo, porém, acredita que haverá incidentes violentos em Tegucigalpa -no resto do país, prevê, a votação será calma.
O principal adversário de Lobo amanha é o candidato liberal Elvin Santos, também de perfil conservador. Ex-vice de Zelaya, sua campanha sofre com o desgaste provocado pela disputa entre Zelaya e Micheletti.
Segundo pesquisa CID-Gallup de outubro, Lobo tinha 37% das intenções de voto, contra 21% de Santos e 3% do esquerdista Cesar Ham. Os indecisos eram 35%. A margem de erro é de 2,8 pontos. Não há segundo turno, e o mandato é de quatro anos, sem reeleição.
Durante a campanha, Lobo buscou se distanciar ao máximo da crise política, usando sempre a palavra "diálogo", sem se aproximar de nenhum dos lados. Uma de suas propostas mais repetidas ao longo da campanha é uma versão hondurenha do Bolsa Família: o candidato promete dar 833 lempiras (R$ 77) por mês às 600 mil famílias mais pobres de Honduras, país de cerca de 7,5 milhões de habitantes.
Além de presidente, os hondurenhos escolherão amanhã novos deputados (o Congresso do país é unicameral), prefeitos e vereadores.
Refugiado desde 21 de setembro na embaixada brasileira, Zelaya tem exortado seguidores a não sair a votar no domingo. Mas o partido esquerdista Unificação Democrática (UD), um dos seus principais aliados, decidiu participar das eleições.


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