|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Bergamo "censura" rua de imigrantes
Cidade no norte da Itália impõe horário para lojas e restringe bebidas em área de chineses, africanos e latinos
Para oposição, medida do governo de extrema direita visa vincular presença de imigrantes ao tráfico e gerar medo
RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERGAMO (ITÁLIA)
A Prefeitura de Bergamo,
no norte da Itália, decretou
uma espécie de toque de recolher numa das principais
ruas da cidade, um gueto de
imigrantes latino-americanos, orientais e africanos.
A cidade, a 50 km de Milão, é administrada há dois
anos por uma coalizão entre
o Povo da Liberdade (PDL,
partido do primeiro-ministro
Silvio Berlusconi) e a Liga
Norte (partido separatista de
extrema direita).
A prefeitura diz que a medida que proíbe a reunião e o
consumo de bebidas à noite
somente nessa rua, além de
obrigar o comércio a fechar
mais cedo, pretende combater o tráfico de drogas. A iniciativa é inédita na cidade.
As regras penalizam de
modo indiscriminado todo o
comércio na área, que possui
licença municipal para funcionar e que, nos últimos
anos, passou a ser controlado principalmente por chineses, senegaleses e latinos.
Alguns comerciantes temem a desertificação da rua
e pretendem entrar na Justiça
contra a medida do prefeito,
Franco Tentorio.
A oposição diz que a decisão é uma estratégia para associar a ocupação legal da
rua por comerciantes e moradores estrangeiros ao tráfico
de drogas e, assim, disseminar "medo".
Berço da Liga Norte, Bergamo é um dos principais nichos da extrema-direita italiana. Tentorio foi eleito com
51% dos votos, impedindo a
reeleição de uma administração de centro-esquerda.
A implantação do "toque
de recolher" foi decidida sem
aprovação do Legislativo,
por meio de decreto. Isso passou a ser possível há três
anos, fruto de lei federal que
deu aos prefeitos mais poder
em "medidas de segurança".
A oposição afirma que, em
cidades menores, a lei tem sido usada para limitar direitos
civis, como a livre reunião
em locais públicos, e para
impedir que estrangeiros pobres estabeleçam moradia.
Desde anteontem, as lojas
da rua Quarenghi (salões de
beleza, lan-houses, comércios de roupas e bijuterias)
têm que fechar às 20h -a
maioria fechava após as 21h.
Os restaurantes só podem
funcionar até a meia-noite.
No restante da cidade, o
horário-limite de abertura
dos estabelecimentos é 2h.
Foi também proibido o uso
de bebidas alcoólicas na rua
após as 16h, além da venda
de bebidas para consumo externo, em qualquer horário.
As multas podem chegar a
500 (cerca de R$ 1.145), e os
estabelecimentos podem ser
fechados caso haja reincidência. As medidas valem
por dois meses, podendo ser
estendidas a outras áreas.
Anteontem, cerca de 300
pessoas, a maior parte jovens
italianos, além de políticos
da oposição, fizeram um protesto no local: uma festa com
música e malabaristas que
cuspiam fogo, e com consumo de cerveja na rua.
A polícia local acompanhou a manifestação. Os estabelecimentos cumpriram a
norma, mas quem bebeu não
foi preso.
Texto Anterior: Rubens Ricupero: Decifra-me ou devoro-te! Próximo Texto: Moradores temem ser alvo de represálias Índice | Comunicar Erros
|