São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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Bergamo "censura" rua de imigrantes

Cidade no norte da Itália impõe horário para lojas e restringe bebidas em área de chineses, africanos e latinos

Para oposição, medida do governo de extrema direita visa vincular presença de imigrantes ao tráfico e gerar medo

RICARDO SANGIOVANNI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERGAMO (ITÁLIA)


A Prefeitura de Bergamo, no norte da Itália, decretou uma espécie de toque de recolher numa das principais ruas da cidade, um gueto de imigrantes latino-americanos, orientais e africanos.
A cidade, a 50 km de Milão, é administrada há dois anos por uma coalizão entre o Povo da Liberdade (PDL, partido do primeiro-ministro Silvio Berlusconi) e a Liga Norte (partido separatista de extrema direita).
A prefeitura diz que a medida que proíbe a reunião e o consumo de bebidas à noite somente nessa rua, além de obrigar o comércio a fechar mais cedo, pretende combater o tráfico de drogas. A iniciativa é inédita na cidade.
As regras penalizam de modo indiscriminado todo o comércio na área, que possui licença municipal para funcionar e que, nos últimos anos, passou a ser controlado principalmente por chineses, senegaleses e latinos.
Alguns comerciantes temem a desertificação da rua e pretendem entrar na Justiça contra a medida do prefeito, Franco Tentorio.
A oposição diz que a decisão é uma estratégia para associar a ocupação legal da rua por comerciantes e moradores estrangeiros ao tráfico de drogas e, assim, disseminar "medo".
Berço da Liga Norte, Bergamo é um dos principais nichos da extrema-direita italiana. Tentorio foi eleito com 51% dos votos, impedindo a reeleição de uma administração de centro-esquerda.
A implantação do "toque de recolher" foi decidida sem aprovação do Legislativo, por meio de decreto. Isso passou a ser possível há três anos, fruto de lei federal que deu aos prefeitos mais poder em "medidas de segurança".
A oposição afirma que, em cidades menores, a lei tem sido usada para limitar direitos civis, como a livre reunião em locais públicos, e para impedir que estrangeiros pobres estabeleçam moradia.
Desde anteontem, as lojas da rua Quarenghi (salões de beleza, lan-houses, comércios de roupas e bijuterias) têm que fechar às 20h -a maioria fechava após as 21h. Os restaurantes só podem funcionar até a meia-noite.
No restante da cidade, o horário-limite de abertura dos estabelecimentos é 2h.
Foi também proibido o uso de bebidas alcoólicas na rua após as 16h, além da venda de bebidas para consumo externo, em qualquer horário.
As multas podem chegar a 500 (cerca de R$ 1.145), e os estabelecimentos podem ser fechados caso haja reincidência. As medidas valem por dois meses, podendo ser estendidas a outras áreas.
Anteontem, cerca de 300 pessoas, a maior parte jovens italianos, além de políticos da oposição, fizeram um protesto no local: uma festa com música e malabaristas que cuspiam fogo, e com consumo de cerveja na rua.
A polícia local acompanhou a manifestação. Os estabelecimentos cumpriram a norma, mas quem bebeu não foi preso.


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