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ARTIGO
Coréia do Norte atrai EUA para armadilha política
HOWARD FRENCH
DO "THE NEW YORK TIMES"
A decisão da Coréia do Norte de
remover os controles internacionais sobre seus reatores nucleares
e sobre um grande suprimento de
combustível nuclear passível de
ser usado para armas é tanto um
desafio político quanto militar,
segundo especialistas.
Por mais sério que isso possa
parecer, porém, muitos analistas
vêem outra ameaça nas ações arrogantes da Coréia do Norte, capaz de se materializar ainda mais
cedo: um enfraquecimento da
aliança formada há meio século
entre a Coréia do Sul e os EUA.
Um novo presidente sul-coreano, inexperiente em diplomacia,
vai assumir em fevereiro e quer
relações mais estreitas com o país
vizinho. Por trás das recentes
ações de Pyongyang, os analistas
detectam um desejo de tirar vantagem da nova disposição sul-coreana, em detrimento dos EUA,
no momento mesmo em que os
americanos passam por um período de popularidade muito baixa entre os sul-coreanos.
O comportamento norte-coreano claramente tem por objetivo
aprofundar as brechas que já vêm
tornando a relação sul-coreana
com Washington frágil, e analistas dizem que o momento escolhido por Pyongyang não poderia ter sido mais melhor.
O governo Bush, que passou
dois anos evitando iniciativas diplomáticas sérias com relação a
Pyongyang, insiste em que não
pode haver diálogo com a Coréia
do Norte enquanto ela continuar
violando seus importantes compromissos de controle de armas.
Para complicar as coisas, Washington vem concentrando suas
atenções em uma possível guerra
com o Iraque, o que permitiu que
a Coréia do Norte agisse sabendo
que seria difícil para os EUA encarar dois conflitos importantes a
um só tempo.
Este ano viu grandes manifestações antiamericanas na Coréia do
Sul, incitadas pela morte de duas
estudantes atropeladas por um
veículo militar americano. Os
protestos revelaram um imenso
ressentimento contra a presença
militar americana e em relação ao
que muitos sul-coreanos encaram
como rebaixamento do país ao
papel de um parceiro menor.
Ao mesmo tempo, o sentimento
com relação à Coréia do Norte se
atenuou: a população olha para os
vizinhos mais com pena do que
com medo e anseia ajudá-los.
O presidente eleito da Coréia do
Sul, Roh Moo-hyun, que saiu vitorioso na semana passada em
parte devido à força desses sentimentos, é um ardente advogado
do envolvimento com a Coréia do
Norte e prometeu agir com vigor
em suas relações com os EUA.
O atual desafio da Coréia do
Norte é parecido com a crise nuclear de 1994, quando o governo
Clinton preparou planos para um
ataque contra as instalações nucleares do país depois que Pyongyang decidiu reprocessar combustível nuclear gasto, ostensivamente para produzir bombas.
Algumas vozes em Washington
já pedem que os EUA renovem
sua ameaça de destruir a central
nuclear da Coréia do Norte em
Yongbyon. "O propósito da Coréia do Norte é transferir o combustível nuclear a vários pontos do país, onde poderá ser usado
em armas. É uma maneira de nos
dizer que não seria possível um
ataque preventivo", disse Chuck
Downs, autor de "Over the Line:
North Korea's Negotiating Strategy" (além da linha: estratégia de
negociação da Coréia do Norte).
"Temos de informar ao regime
norte-coreano, de maneira muito
clara, que isso é inaceitável", disse
Downs. "E o governo Bush não
quer fazê-lo porque estamos distraídos com o Iraque e queremos
selecionar nossas batalhas."
Os críticos de um ultimato
agressivo dizem que os mesmos
obstáculos que convenceram o
governo Clinton a não atacar a
Coréia do Norte continuam válidos. Seul e mais de 30 mil soldados americanos estão ao alcance
da artilharias da Coréia do Norte,
dizem especialistas militares.
E mais: se Washington for
adiante com uma abordagem
mais agressiva, corre o risco de
desgastar suas relações com Roh.
"Essa é exatamente a armadilha
que está sendo preparada pela
Coréia do Norte", disse Scott
Snyder, representante da Asia
Foundation na Coréia do Sul e autor de "Negotiating on the Edge:
North Korean Negotiating Behavior" (negociando no limite: o
comportamento norte-coreano
em negociações). Snyder diz que
sem a aquiescência de Seul, "um
confronto custaria nossa aliança e
poderia infligir danos a outros interesses regionais dos EUA".
"Os norte-coreanos não merecem essa vantagem, mas a oportunidade de dividir a aliança foi criada por dois anos de vacilação
em nossa política sobre a Coréia, e
o momento que eles escolheram é
impecável", diz Snyder.
Embora alguns analistas tenham enfatizado a potencial
ameaça militar das ações norte-coreanas, outros dizem que o
comportamento do país, por mais
alarmante que pareça, continua
firmemente concentrado em
atrair Washington de volta às negociações. O desejo frequentemente reafirmado pela Coréia do
Norte é de obter garantias de segurança dos EUA.
"São passos sérios para produzir plutônio com fins bélicos, mas
também são tentativas determinadas de nos fazer negociar", disse Donald Gregg, ex-especialista
em Ásia da CIA. "Não acho que
esses sujeitos sejam loucos. Como
jogadores de pôquer, sempre tiveram capacidade de jogar bem
com cartas ruins, e isso está acontecendo de novo."
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