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TRAGÉDIA NA ÁSIA
Sismólogo afirma que rede de detecção e aviso de tsunamis como a que existe no oceano Pacífico poderia ter salvo vidas no Índico
Para especialista, mortes eram evitáveis
ANDREW C. REVKIN
DO "NEW YORK TIMES"
O abalo sísmico que teve origem
ao noroeste de Sumatra, Indonésia, ao raiar do dia no domingo,
era uma máquina perfeita de criação de ondas, e a falta de um sistema de alerta contra tsunamis no
oceano Índico garantiu a devastação que varreu comunidades costeiras em toda a região sul da Ásia,
disseram especialistas.
Ainda que as ondas tenham encoberto parte da costa de Sumatra
e de ilhas vizinhas em questão de
minutos, teria havido tempo para
alertar comunidades mais distantes caso o oceano Índico dispusesse de uma rede de alerta como a
que existe no Pacífico, disse Tad
Murty, especialista nos tsunamis
da região, da Universidade de
Manitoba, no Canadá. Na Índia,
por exemplo, a onda só chegou à
costa após três horas.
Apenas 15 minutos depois do
abalo, de fato, os cientistas que
operam o sistema de alerta sobre
tsunamis existente no Pacífico enviaram um alerta, de sua central
em Honolulu, a 26 países participantes, entre os quais Tailândia e
Indonésia, no sentido de que ondas destrutivas poderiam ser geradas pelo tremor em Sumatra.
Mas não havia como transmitir
essa informação rapidamente a
países e comunidades localizados
a um oceano de distância, disse
Laura S. L. Kong, sismóloga do do
Centro Internacional de Informações sobre Tsunamis, uma organização que funciona sob os auspícios das Nações Unidas.
Telefonemas a países na região
ameaçada do Índico foram tentados com a máxima urgência, mas
sem a velocidade que teria sido
possível caso houvesse planos de
emergência preestabelecidos.
"Fora do Pacífico, essas coisas
não ocorrem com grande freqüência, de modo que o desafio é
como conscientizar as pessoas e
as autoridades", disse ela.
Os tsunamis, também conhecidos como maremotos, são gerados quando um abalo sísmico,
erupção ou deslizamento de terra
causa movimentos abruptos no
leito do oceano, abalando as
águas que o recobrem.
As ondas resultantes podem
cruzar milhares de quilômetros
de oceano a até 800 km/h, na forma de perturbações quase invisíveis, até que se empilham em regiões costeiras mais rasas e criam
vagalhões de 10 metros ou mais.
Mas mesmo em velocidades como essas, alertas oportunos podem garantir tempo suficiente para a evacuação.
O Índico também já havia registrado tsunamis, disseram oceanógrafos ontem, mencionando um
maremoto que matou centenas
de pessoas perto de Bombaim
(Índia), em 1945, e outro que devastou Bangladesh em 1762.
Com a imensa densidade populacional de muitas regiões na área
costeira do sul da Ásia, a região
deveria ter começado a instalar
uma rede de alerta desse tipo há
muito tempo, disse Murty.
Outros cientistas expressaram
preocupações semelhantes. Em
reunião da Comissão Oceanográfica Intergovernamental, uma
agência das Nações Unidas, realizada em junho, especialistas concluíram que "o oceano Índico oferece ameaça significativa tanto no
caso de tsunamis locais quanto no
de tsunamis distantes".
Murty disse que Índia, Tailândia, Malásia e outros países da região "consideram que tsunamis
sejam um problema do Pacífico".
O abalo de anteontem ocorreu
em uma das muitas juntas na
crosta sempre mutável do planeta, em que placas deslizam umas
sob as outras em um processo incessante, mas espasmódico.
As falhas em que os terremotos
tendem a causar abrupto movimento vertical, como as que existem ao longo da Indonésia ocidental, representam um risco
maior de geração de tsunamis,
porque agem como um grande
pistão, deformando o mar. Em
abalos submarinos como esses, a
gravidade e a incompressibilidade da água forçam os mares acima
a reagir imediatamente a mudanças milhares de metros abaixo.
A maior parte das pesquisas sobre essas ondas, e dos esforços para criar sistemas de advertência,
se concentrou no Pacífico, onde o
Cinturão de Fogo, uma grande
junta de atividade vulcânica e tectônica, causa um tsunami significativo por década, em média.
Qualquer abalo submarino de
magnitude superior a 6,5 dá início
ao processo, segundo Murty, e se
uma única onda indica aos detectores que o oceano está reagindo,
um alerta é divulgado. "Não existe
motivo para que uma única pessoa tenha de morrer vítima de um
tsunami", disse Murty. "As ondas
são completamente previsíveis."
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