São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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PAQUISTÃO CONFLAGRADO

Bush teme colapso de plano para levar democracia ao país

EUA queriam que reconciliação de Benazir com ditador criasse regime eficaz no combate ao terrorismo islâmico

Para Bush, foi "ato covarde de extremistas assassinos"; Brown diz em Londres que terroristas não vão impor as diretrizes para o Paquistão

DA REDAÇÃO

O assassinato de Benazir Bhutto compromete o pilar central da política americana no Paquistão, que consistia em reconciliar a ex-primeira-ministra com o ditador Pervez Musharraf para permitir o retorno do país à democracia.
O presidente George W. Bush reagiu ao atentado em termos bastante duros. "Os Estados Unidos condenam com vigor esse ato covarde de extremistas assassinos que estão tentando destruir a democracia paquistanesa." Afirmou que "esses criminosos devem ser levados à Justiça" e que Benazir, "ao voltar ao Paquistão, sabia que sua vida estaria correndo risco e mesmo assim recusou delegar aos assassinos a missão de ditar os rumos de seu país".
Em Londres, o primeiro-ministro, Gordon Brown, disse que não se deve permitir que os terroristas que mataram a ex-premiê "possam matar a democracia no Paquistão". Qualificou o atentado de "atrocidade" e disse que o terrorismo não sairá vencedor do confronto.
Brown tem razões históricas para se pronunciar. O Paquistão integrava o território da Índia, parte do Império Britânico até 1947. Benazir formou-se em Oxford, a exemplo de parte da elite paquistanesa, e os imigrantes paquistaneses compõem a maior comunidade islâmica no Reino Unido.

Combate ao terrorismo
Mais recentemente, Londres se engajou ao lado dos Estados Unidos no vizinho Afeganistão, onde o governo local -a exemplo, aliás, de Musharraf- não consegue neutralizar os radicais islâmicos do Taleban e seus aliados da Al Qaeda.
Quanto aos Estados Unidos, o Paquistão é uma das "peças-chave" na guerra ao terrorismo, desencadeada após o 11 de Setembro. Mas é uma guerra ineficiente e cara para o contribuinte americano -US$ 10 bilhões enviados ao ditador local e outros US$ 785 milhões prometidos para 2008.
Para Washington, o Exército e a burocracia paquistaneses ganhariam em eficácia com a abertura do regime. A democratização teria como contrapartida um controle mais transparente do arsenal nuclear paquistanês, que teoricamente pode cair em mãos de grupos extremistas islâmicos.
A administração Bush destacou o subsecretário de Estado John Negroponte para pressionar pessoalmente Musharraf a suspender a prisão domiciliar imposta a Benazir depois de seu retorno do exílio.
A reconciliação do ditador com a ex-premiê foi monitorada por outro diplomata, Richard Boucher, secretário-assistente de Estado para a região. No plano interno, Bush precisou também se curvar ao Congresso, que sabia que a ditadura paquistanesa estava minada pela corrupção e, por isso, condiciona a liberação de verbas a iniciativas concretas de abertura política.
Na última quarta-feira, o Congresso liberou US$ 300 milhões, mediante a garantia de que a secretária Condoleezza Rice obtivesse do Paquistão iniciativas democratizantes.
O Congresso é particularmente sensível à libertação de prisioneiros políticos e à independência do Judiciário -Musharraf chegou a destituir o presidente da Corte Suprema para viabilizar sua candidatura presidencial.


Com agências internacionais


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