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ARTIGO
Falta um plano para lidar com Hamas
CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO
O bombardeio de Gaza, com
a desproporcionalidade típica
das operações militares israelenses, tem como objetivo tático declarado enfraquecer a capacidade armada do Hamas,
matando milicianos e destruindo quartéis e estoques de munição. Israel pretende voltar assim a impor uma trégua nas
fronteiras do território sem
considerar a contrapartida, exigida pelo grupo islâmico para
renovar a "calma" acertada em
junho último, de que o fluxo de
mercadorias e combustível fosse normalizado.
Mas o principal alvo estratégico do ataque israelense parece ser a eleição geral de 10 de fevereiro. A atual coalizão de governo, liderada pelo Kadima, da
chanceler Tzipi Livni, e pelo
Partido Trabalhista, do ministro da Defesa Ehud Barak, vinha sendo ameaçada pela ascensão nas pesquisas do ex-premiê Binyamin Netanyahu,
do Likud. Netanyahu e seus potenciais aliados da extrema direita pregavam uma reação dura contra os lançamentos de foguetes de Gaza.
A estratégia tão circunstancial se impõe porque, como
também é o caso com o Hizbollah libanês, Israel não tem um
projeto de longo prazo para lidar com o Hamas. Para destruir
o grupo islâmico, seria preciso
voltar a ocupar Gaza, com a
previsão de um número astronômico de vítimas civis e uma
condenação internacional
maior do que a provocada pelos
atuais cerco econômico e isolamento físico do território onde
vivem 1,5 milhão de palestinos.
Entre a maioria dos analistas
israelenses, é consenso que todas as táticas já utilizadas contra o Hamas deram errado,
quando não o fortaleceram.
Primeiro, foram os assassinatos em série de alguns de
seus principais dirigentes, entre eles o líder espiritual, xeque
Ahmed Yassin, alvejado de um
helicóptero em 2004. Em seguida, veio a promoção do isolamento internacional do grupo, após sua vitória nas eleições
legislativas de janeiro de 2006.
O problema é que os fatores
que deram ao Hamas o voto de
44% dos palestinos persistem.
Em primeiro lugar, a perda de
credibilidade do Fatah do falecido líder Iasser Arafat, que
nunca pôde entregar aos palestinos o Estado independente
prometido no início dos anos
90, com os Acordos de Oslo discutidos em segredo com Israel.
A criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP), sob hegemonia do Fatah, como um
suposto estágio interino até o
estabelecimento de um Estado
em Gaza e na Cisjordânia, virou
uma situação permanente crivada de dubiedades. Os dirigentes da ANP, receptores da ajuda
internacional que sustenta a
maior parte da população palestina, passaram a ser vistos
como corruptos e muitas vezes
autoritários.
A retirada unilateral de Gaza,
promovida em 2005 pelo então
premiê Ariel Sharon, sem negociações com a ANP, permitiu
que o Hamas a apresentasse como vitória de sua resistência
armada -assim como o Hizbollah tirou proveito político da
retirada unilateral israelense
do sul do Líbano.
O isolamento do Hamas por
Israel, EUA e União Européia
foi apresentado como meio de
fortalecer o Fatah, que o aceitou com aparente bom grado.
Essa política bloqueou negociações para um governo de
união nacional palestino, promovidas por Qatar, e incentivou o episódio de guerra civil
que culminou com a expulsão
do Fatah de Gaza, em 2007. No
mês passado, o Hamas abandonou o diálogo com os rivais mediado pelo Egito.
Não por acaso, esse abandono ocorreu no mesmo período
em que se concluiu que o chamado "processo de Annapolis",
mais uma rodada de negociações entre Israel e a ANP, promovida tardiamente pelo governo Bush, não funcionaria.
Oficialmente, Israel e EUA
recusam negociações diretas
com o Hamas -a "calma" vigente até o início do mês foi
mediada pelo Egito- porque a
carta fundadora da organização
prega o fim do Estado judeu.
Mas analistas, tanto israelenses quanto americanos, vêem
sinais de pragmatismo em declarações de alguns dirigentes
do grupo favoráveis a uma trégua longa dentro das fronteiras
de 1967, anteriores à Guerra
dos Seis Dias, quando Israel
ocupou a Cisjordânia e Gaza.
Mesmo Richard Haass e
Martin Indik, dois especialistas
americanos próximos das posições israelenses, recomendaram em artigo recente que os
EUA se abram à possibilidade
de aceitar um governo palestino que inclua o Hamas. Seria
um dos caminhos que restam
para revigorar a idéia dos dois
Estados prometida na década
passada, e que vem caindo em
descrédito na opinião pública
dos dois lados.
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