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ARTIGO
Sem poder mudar adversário, Israel reescreve regras do jogo
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A escala do ataque, o maior
desde a guerra de 1967, e os alvos escolhidos deixam poucas
dúvidas: o objetivo de Israel é
bem mais ambicioso do que as
operações "cirúrgicas" do passado: no máximo, tenta tirar o
Hamas do poder; no mínimo,
quer impor um novo cessar-fogo, sob as suas condições.
Mais de duzentos foguetes
foram disparados de Gaza contra Israel desde que o Hamas
declarou o fim da trégua de seis
meses. A pressão em Israel vinha crescendo por uma retaliação e o governo decidiu aproveitar o momento para tentar
mudar o status quo.
Com um pé fora do governo e
coberto de suspeitas de corrupção, o desprestigiado premiê
Ehud Olmert deu sinal verde
para a ação, talvez o último ato
de seu melancólico governo.
Mas as atenções estão em seus
dois principais ministros, Tzipi
Livni e Ehud Barak, que são
candidatos ao cargo de Olmert
nas eleições de fevereiro.
A chanceler Livni já tinha endurecido o discurso nesta semana, em visita ao Cairo, ao dizer abertamente que pretende
tirar o Hamas do poder se for
eleita. Barak, por sua vez, é um
dos arquitetos da operação iniciada ontem e quer provar que
o país pode contar com sua experiência como ex-comandante do Exército.
Isso não significa aventuras
desnecessárias. Barak sabe que
o custo militar e político de reocupar a faixa de Gaza é alto demais e considera irrealista pensar em derrubar o Hamas neste
momento, como defendem
Livni e outros membros do gabinete. É também a chance de
mostrar que o país tem um comando mais profissional que
durante a guerra do Líbano, em
2006, quando mais de um mês
de ataques não derrotaram o
movimento fundamentalista
Hizbollah.
Sem poder mudar o adversário em Gaza, Israel busca reescrever as regras do jogo. Admite a contragosto o poder do Hamas, mas avisa que não mais tolerará o disparo de mísseis. De
nada adiantarão as previsíveis
condenações da comunidade
internacional contra a resposta
"desproporcional". A idéia é
exatamente mostrar que cada
ataque contra Israel terá contra-ataque multiplicado e não
poupará centros urbanos.
Mesmo isolado e sob cerco, o
Hamas conseguiu conquistar o
apoio da maioria da população
desde que pegou em armas para assumir o controle de Gaza,
há um ano e meio. Prova disso
foram os milhares de simpatizantes que compareceram à
festa pelos 21 anos de existência do grupo extremista, há menos de duas semanas.
Isso só aumenta a aversão israelense pela reocupação, embora não sejam poucos os que
querem ver o Hamas longe do
poder. "Israel nunca faria um
ataque dessa magnitude sem o
sinal verde de quem conta",
disse o especialista em política
islâmica Azzam Tamimi, comentarista da TV Al Jazeera.
"Neste caso, quem conta são
os Estados Unidos, a União Européia e, provavelmente, o Egito e [a liderança palestina em]
Ramallah".
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