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Morre teórico do "choque de civilizações"
Aos 81 anos e no centro dos debates internacionais, Samuel Huntington enfatizava dicotomia entre Ocidente e islã
Polêmicas como a defesa de uma abertura democrática "lenta" nos anos 70 marcam a trajetória intelectual
do veterano de Harvard
DA REDAÇÃO
Samuel Phillips Huntington,
autor do célebre artigo "O Choque de Civilizações?" e um dos
mais proeminentes teóricos
políticos dos últimos 50 anos,
morreu na quarta-feira, véspera do Natal, aos 81 anos, anunciou ontem a Universidade
Harvard. Nascido em Nova
York, Huntington formou-se
na Universidade Yale e aos 23
já lecionava em Harvard.
Professor por 58 anos e mentor de gerações de intelectuais,
Huntington foi um dos fundadores da revista "Foreign Affairs" e aposentou-se de Harvard no ano passado. Suas opiniões polêmicas em temas como a imigração hispânica nos
EUA, que via com pessimismo,
e a influência de sua tese sobre
os conflitos internacionais contemporâneos o mantinham no
centro dos debates.
"Ele foi certamente um dos
mais influentes cientistas políticos dos últimos 50 anos", disse o economista Henry Rosovsky, colega e amigo de Huntington por seis décadas.
Huntington morreu em casa,
na ilha de Martha's Vineyard,
Massachusetts. Deixa mulher,
dois filhos, quatro netos e inúmeros discípulos acadêmicos.
Embora suas idéias tenham
influenciado políticas conservadoras -como o ritmo lento
da redemocratização do Brasil
e a doutrina de "guerra ao terror" de George W. Bush- ,
Huntington foi durante toda a
vida um defensor da democracia, segundo a viúva, Nancy.
Controvérsias marcam a trajetória intelectual de Huntington desde seu primeiro livro,
publicado em 1957. No início
dos anos 1970, ele defendeu
uma transição lenta e gradual
dos regimes autoritários do
bloco capitalista, alertando sobre os riscos de uma abertura
política súbita. A tese, que em
larga medida influenciou a
transição democrática brasileira, foi criticada pela esquerda
latino-americana.
Sexagenário, Huntington
transformou-se em celebridade midiática internacional após
lançar a sua mais famosa tese, a
de que os conflitos mundiais
têm como principal origem a
competição entre identidades
culturais de "sete ou oito civilizações". A idéia, inicialmente
controvertida, ganhou força
após o 11 de Setembro.
A hipótese de Huntington sobre os conflitos no pós-Guerra
Fria -publicada pela primeira
vez no artigo "O Choque de Civilizações?", em 1993, e desenvolvida em livro lançado em
1996-, foi vista como profética
por muitos intelectuais.
Para o acadêmico, as fricções
ideológico-culturais entre as
civilizações se tornariam "a
fonte fundamental de conflito"
após a dissolução do bloco soviético, com crescente animosidade entre a civilização islâmica e a ocidental -para ele
constituída apenas pela Europa
ocidental e países anglófonos
desenvolvidos.
"Estados-nação continuarão
os atores mais poderosos das
relações internacionais, mas os
principais conflitos da política
global irão ocorrer entre nações e grupos de diferentes civilizações", escreveu em 1993.
A tese do "conflito de civilizações" -apresentada como contraponto à tese do "fim da história" elaborada por Francis
Fukuyama após a queda da
União Soviética- foi criticada
por intelectuais como Edward
Said, da Universidade Columbia, por perpetuar a mentalidade de "Ocidente versus resto do
mundo". Aclamada ou combatida, a hipótese de Huntington
está no centro do debate contemporâneo sobre relações internacionais.
Com o "New York Times"
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