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Lula deve apresentar iniciativa de paz quando visitar Israel
Viagem do presidente, que também incluirá territórios palestinos, será em março
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO
O governo brasileiro pretende dar um passo além da retórica em seu desejo de ter um papel político relevante no Oriente Médio. O chanceler Celso
Amorim disse ontem no Cairo
que a ideia é apresentar alguma
iniciativa de paz durante a visita do presidente Lula a Israel e
territórios palestinos, prevista
para meados de março.
Até lá, o ministro continuará
mantendo encontros com representantes dos principais
países da região, para avaliar
como o Brasil pode contribuir
no processo de paz. Após o Egito, a próxima parada é a Turquia, no início de janeiro.
"Isso vai criando as condições para que você possa oferecer uma coisa concreta. Não é
algo que se elabora num gabinete", disse Amorim em entrevista à Folha. Ele não quis dizer de que tipo será a proposta.
"Pode ser de conteúdo ou de
procedimento. Até março teremos algo específico."
As tensões regionais foram o
principal tema dos encontros
mantidos pelo ministro brasileiro em sua rápida passagem
pelo Cairo. Na agenda, conversas com o ditador Hosni Mubarak, o chanceler, Abul-Gheit, e
o chefe do serviço de inteligência, Omar Suleiman, além do
secretário-geral da Liga Árabe,
Amr Moussa.
Foi a primeira viagem do
chanceler brasileiro ao Oriente
Médio desde as visitas em série
de personalidades da região a
Brasília, no mês passado, e uma
chance de avaliar como é recebida num dos mais importantes países do mundo árabe a
penetração do Brasil.
Na entrevista conjunta de
Amorim e Abul-Gheit, um jornalista egípcio perguntou como as presenças dos presidentes de Israel, da Autoridade Nacional Palestina e do Irã em
Brasília em menos de duas semanas se encaixavam nas ambições do Brasil para a região.
"Não temos uma fórmula
mágica para resolver os problemas", respondeu o chanceler.
"Mas acreditamos que novos
atores trazem novos ares, e isso
pode ajudar."
A proposta de "arejar" as negociações já havia sido apresentada por Amorim em janeiro, durante visita a Israel, Síria,
territórios palestinos e Egito,
em plena ofensiva israelense
contra a faixa de Gaza. Na época, o ministro sofreu severas
críticas, inclusive de seus dois
antecessores no cargo, por praticar uma diplomacia de muita
visibilidade e pouco resultado.
Mas em sua terceira visita ao
Egito neste ano, o chanceler
brasileiro disse que está convencido de que o desejo brasileiro de ser mais atuante no
Oriente Médio é cada vez mais
bem-vindo na região.
Ele deu como exemplo o pedido feito por Mubarak para
que o Brasil faça parte da força
de manutenção da paz entre Israel e Egito, estacionada no deserto do Sinai. Amorim respondeu que o pedido terá de ser
avaliado do ponto de vista legal.
Com o envolvimento crescente do Brasil na região e o interesse do país em se fazer ouvir, diz o chanceler, é natural
que surja uma proposta concreta para lidar com o conflito.
"A proposta surge quando
você participa do diálogo. O
Brasil não vai criar um plano de
fora, mas, estando dentro do
diálogo, ele pode surgir."
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