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ARTIGO
Kirchner prepara a mulher à sucessão
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A presença de Cristina Fernandéz na cúpula do Mercosul
"foi parte da sua inserção nos
ambientes onde atuará quando
assumir a sucessão". O que significa que cessam as especulações, "a sua candidatura já está
decidida". A conclusão é de veterano analista político argentino, José Maria Pasquini. Tem
por base fontes palacianas.
Cristina é mulher do presidente Néstor Kirchner, e sua ascensão dá continuidade a um
modelo criado pelo fundador
do peronismo, o de dividir ou
passar o poder a quem se supõe
que seja da mais absoluta confiança, além de discípula aplicada -a própria mulher.
A consagração de Cristina
coincide com as desventuras da
segunda mulher e sucessora de
Perón, Isabel Martínez, a Isabelita, às voltas com acusações
de responsabilidade em assassinatos. O noticiário envolvendo Isabelita, por coincidência
numa hora em que um presidente de extração peronista
inicia o rito de entronização da
sua companheira, fez com que
Tomás Eloy Martínez relembrasse seus quatro dias de gravações com Perón em 1970. Na
época, o general era um exilado
de 75 anos. O autor de "Santa
Evita" conta como se atreveu a
afinal fazer a pergunta que tinha na ponta da língua.
O senhor percebe, general,
que Evita está ganhando a batalha da história? Eva, personagem subalterna da vida noturna argentina, tornou-se Perón
e acabou surpreendendo o próprio marido como um fator paralelo de poder. Coroou a si
mesma rainha dos "descamisados". Seu corpo embalsamado,
espécie de oratório no salão de
entrada da Confederação Geral
do Trabalho, foi seqüestrado
pelos militares golpistas, tornou-se mais um "desaparecido". A reação gravada por Eloy
Martínez mostra que Perón
não se sentia à vontade.
Seria um precedente a considerar? O general encrespou-se
com a pergunta, e os ruídos
produzidos ficaram registrados. "Evita foi produto meu",
bradou Perón, "eu a preparei
para ser o que foi". Os grandes
elogios, no entanto, tomaram o
rumo de Isabelita, citada como
a melhor discípula, "mulher
dócil e inteligente", que "sabia
exatamente o que significava
dar-lhe espaço na fórmula presidencial". Elegeu-se vice de
um Perón que só teria dez meses na Presidência. Acabou golpeada. Perón não contava, escreveu Eloy Martínez, que seu
secretário López Rega, El Brujo, tivesse sobre sua mulher a
influência de um sumo sacerdote, cujo altar de sacrifícios teria sido a Triple A, ainda não
apagada na memória argentina.
E Kirchner na era Cristina?
Reservaria para si, segundo
Pasquini, o papel de articulador
de um amplo "movimento plural" pós-peronismo. Ele já recruta frações partidárias de origens ideológicas as mais diversas. Seriam articuladas sem que
nenhuma tenha a necessidade
de renegar suas convicções originais, "construção similar à
que realizou Perón na fundação
do peronismo, com adaptações
aos dias atuais". E com Cristina
também na linha de frente.
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