São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Egito não quer Hamas em sua fronteira

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TABA (EGITO)

O governo egípcio manifestou ontem apoio à pretensão do presidente palestino, Mahmoud Abbas, de enviar suas forças de segurança para controlar a fronteira de Gaza que foi aberta há uma semana depois que militantes radicais derrubaram o muro.
Com isso, reiterou sua oposição ao movimento islâmico Hamas, que detém o poder em Gaza desde junho e mantém fortes vínculos com a Irmandade Muçulmana, principal grupo de oposição ao regime do ditador egípcio, Hosni Mubarak.
Apesar das diferenças políticas, autoridades egípcias e membros das forças de segurança do Hamas agiram em conjunto nos últimos dias para fechar a fronteira e conter o fluxo de milhares de palestinos que circularam entre os dois territórios, em busca de suprimentos e de um alívio ao rigoroso bloqueio imposto por Israel em retaliação ao disparo de foguetes contra seu território.

Brechas fechadas
Ontem, a maioria das brechas abertas no muro que separa Gaza e Rafah, no lado egípcio, haviam sido fechadas, e a quantidade de palestinos que passaram pela fronteira caiu drasticamente. No primeiro dia, o número chegou a 700 mil, equivalente a quase metade da população de Gaza. Segundo o jornal egípcio Elbadeel, somente na maior cidade da fronteira, El Arish, os palestinos deixaram cerca de U$ 250 milhões em cinco dias de compras desenfreadas.
O chanceler do Egito, Ahmed Aboul Gheit, pediu a ajuda da União Européia e dos Estados Unidos para retomar o controle da fronteira, com o envio das forças de segurança da Autoridade Nacional Palestina (ANP), presidida por Abbas.
Na prática, o Egito apóia o retorno ao status quo anterior a junho, quando o grupo islâmico Hamas tomou o poder em Gaza e expulsou o Fatah do presidente Abbas. O Hamas, porém, já avisou que não respeitará o acordo selado em 2005, quando Israel se retirou de Gaza e entregou o controle da fronteira ao Egito e à ANP, com a ajuda de monitores da UE.
A abertura de sua fronteira com a faixa de Gaza colocou o ditador Mubarak em um dilema: por um lado, precisa conter a ameaça doméstica do islamismo radical, que pode sair fortalecido com um triunfo do Hamas; por outro, quer evitar acusações no mundo árabe de que negou ajuda aos palestinos e endossou o bloqueio imposto com Israel, com quem assinou um acordo de paz em 1979.
Dividido, o regime egípcio concluiu que a única solução é promover algum tipo de pacificação entre Fatah e Hamas.
Amanhã, no Cairo, Mubarak deve se encontrar separadamente com líderes do Hamas e com o presidente Abbas, para tentar chegar a um acordo sobre a fronteira de Gaza.
Será necessária uma boa dose de criatividade diplomática e capacidade de pressão: enquanto Abbas tem o apoio dos EUA, da UE, de Israel e da maioria dos países árabes, o Hamas, mesmo isolado, é quem segura as rédeas em Gaza.


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