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Egito não quer Hamas em sua fronteira
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TABA (EGITO)
O governo egípcio manifestou ontem apoio à pretensão do
presidente palestino, Mahmoud Abbas, de enviar suas
forças de segurança para controlar a fronteira de Gaza que
foi aberta há uma semana depois que militantes radicais
derrubaram o muro.
Com isso, reiterou sua oposição ao movimento islâmico Hamas, que detém o poder em Gaza desde junho e mantém fortes vínculos com a Irmandade
Muçulmana, principal grupo
de oposição ao regime do ditador egípcio, Hosni Mubarak.
Apesar das diferenças políticas, autoridades egípcias e
membros das forças de segurança do Hamas agiram em
conjunto nos últimos dias para
fechar a fronteira e conter o fluxo de milhares de palestinos
que circularam entre os dois
territórios, em busca de suprimentos e de um alívio ao rigoroso bloqueio imposto por Israel em retaliação ao disparo de
foguetes contra seu território.
Brechas fechadas
Ontem, a maioria das brechas abertas no muro que separa Gaza e Rafah, no lado egípcio, haviam sido fechadas, e a quantidade de palestinos que
passaram pela fronteira caiu
drasticamente. No primeiro
dia, o número chegou a 700 mil,
equivalente a quase metade da
população de Gaza. Segundo o
jornal egípcio Elbadeel, somente na maior cidade da fronteira,
El Arish, os palestinos deixaram cerca de U$ 250 milhões
em cinco dias de compras desenfreadas.
O chanceler do Egito, Ahmed
Aboul Gheit, pediu a ajuda da
União Européia e dos Estados
Unidos para retomar o controle
da fronteira, com o envio das
forças de segurança da Autoridade Nacional Palestina (ANP),
presidida por Abbas.
Na prática, o Egito apóia o retorno ao status quo anterior a
junho, quando o grupo islâmico
Hamas tomou o poder em Gaza
e expulsou o Fatah do presidente Abbas. O Hamas, porém,
já avisou que não respeitará o
acordo selado em 2005, quando Israel se retirou de Gaza e
entregou o controle da fronteira ao Egito e à ANP, com a ajuda
de monitores da UE.
A abertura de sua fronteira
com a faixa de Gaza colocou o
ditador Mubarak em um dilema: por um lado, precisa conter
a ameaça doméstica do islamismo radical, que pode sair fortalecido com um triunfo do Hamas; por outro, quer evitar acusações no mundo árabe de que
negou ajuda aos palestinos e
endossou o bloqueio imposto
com Israel, com quem assinou
um acordo de paz em 1979.
Dividido, o regime egípcio
concluiu que a única solução é
promover algum tipo de pacificação entre Fatah e Hamas.
Amanhã, no Cairo, Mubarak
deve se encontrar separadamente com líderes do Hamas e
com o presidente Abbas, para
tentar chegar a um acordo sobre a fronteira de Gaza.
Será necessária uma boa dose de criatividade diplomática e
capacidade de pressão: enquanto Abbas tem o apoio dos
EUA, da UE, de Israel e da
maioria dos países árabes, o
Hamas, mesmo isolado, é quem
segura as rédeas em Gaza.
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