São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Prossegue a matança no Quênia; mortos são 800

Etnias rivais lutam com machados e arco-e-flecha

DA REDAÇÃO

Conflitos étnicos no Quênia continuaram a provocar ontem mortes maciças com machadadas, arco-e-flecha e outras armas brancas. A Reuters informa que 64 cadáveres haviam sido recolhidos ao necrotério da cidade de Nakuru, enquanto 32 outros aguardavam serem entregues a familiares na cidade próxima de Naivasha.
Entre elas estão as 19 vítimas queimadas vivas dentro de uma casa em Naivasha, no domingo. Cálculos conservadores indicam que 800 pessoas já morreram desde o início dos confrontos, desencadeados depois das eleições presidenciais do último 27 de dezembro.
A reeleição de Mwai Kibaki, em processo que observadores externos consideraram fraudulento, desencadeou ações violentas contra os kikuyus, etnia à qual ele pertence e que tem monopolizado a economia e os melhores empregos públicos.
O candidato derrotado, Raila Odinga, pertence à etnia luo. Uma terceira etnia, os kalenjins, é bem mais agressiva, polarizando com os kikuyus.
Não estava claro quantas mortes datavam de ontem, quando novos confrontos eclodiram a oeste do país. Na cidade de Kisimu, domicílios de quenianos kikuyus foram incendiados. Um ônibus foi queimado com o motorista dentro.
A polícia diz ter prendido 254 na noite de domingo para segunda. O ministro do Interior, George Saitoti, foi vaiado ao tentar apaziguar grupos que só não se enfrentavam por estarem separados por policiais.
O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan procura um acordo que ponha fim à violência. Mas tanto ele quanto Mark Malloch-Brown, negociador britânico, argumentam que a pacificação é difícil, diante da crescente animosidade.
Annan pediu que o presidente e o chefe da oposição indicassem negociadores capazes de encontrar uma saída à crise. Mas o prosseguimento da violência impediu que se desse esse primeiro passo.

Acusação de genocídio
O governo tem acusado a oposição da prática de genocídio no vale do Rift, o mais fértil do Quênia, controlado majoritariamente por kikuyus.
A entidade humanitária Human Rights Watch reitera essa acusação, mas ressalva que policiais da etnia kikuyu se juntaram a uma milícia de criminosos, a Mungiki, para a caça aos partidários de Raia Odinga.
Cerca de 250 mil pessoas já foram obrigadas a deixar seus domicílios. É o maior contingente de refugiados desde a independência do país, em 1963.
O "Le Monde" relata a destruição completa de uma cidadezinha, Mau Summit, localizada num entroncamento rodoviário. John Ndungu, dono de um pequeno estúdio fotográfico e da etnia kikuyu, disse que rivais da etnia kalenjin têm usado armas brancas e arco-e-flecha para assassinar os suspeitos de afinidades étnicas com o presidente Kibaki.
Mau Summit teve todos os seus domicílios queimados. Ontem seus ex-moradores reviravam os escombros para tentar recuperar algum bem ou utensílio calcinado.


Com agências internacionais


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