São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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Teerã condiciona diálogo a pedido de desculpas dos EUA

Ahmadinejad cobra fim do apoio a Israel e da presença militar americana no exterior

Discurso responde ao aceno de Obama por contatos diretos; assessor confirma que o presidente iraniano tentará reeleição em junho

DA REDAÇÃO

No dia em que confirmou oficialmente sua candidatura à reeleição no pleito de junho deste ano, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, condicionou ontem a retomada do diálogo com o governo americano a "profundas mudanças" que incluam um pedido de desculpas dos EUA pelos "crimes cometidos contra o Irã".
A exigência de Ahmadinejad, feita em discurso em Kermanshah, 525 km a oeste de Teerã, foi uma resposta ao novo presidente americano, Barack Obama, que reiterou em entrevista segunda-feira à rede saudita Al Arabiya sua disposição em conversar com o Irã, rompendo com a política de confrontação do antecessor George W. Bush.
"Os que falam em mudanças devem pedir desculpas ao povo iraniano e tratar de consertar os grandes males do passado e os crimes cometidos contra o Irã", disse Ahmadinejad.
O presidente alinhou os motivos da indignação: a operação secreta da CIA que derrubou o governo do premiê Mohammed Mossadegh em 1953, a rejeição à Revolução Islâmica de 1979 e o apoio ao Iraque na guerra contra o Irã (1980-88).
Aliados entre os anos 50 e 70, Washington e Teerã romperam relações diplomáticas depois que militantes, no rastro da Revolução Islâmica, mantiveram 52 reféns por 444 dias na Embaixada dos EUA em Teerã.
Sob Bill Clinton (1993-2001), os EUA estiveram próximos da retomada do diálogo com o Irã, então governado pelo reformista Mohammed Khatami.
Mas Bush, sucessor de Clinton, incluiu o país no "eixo do mal", com Iraque e Coreia do Norte, e acusou Teerã de fomentar o terrorismo e de desenvolver um programa nuclear secreto -o Irã nega.
Além das desculpas, Ahmadinejad impôs duas outras condições para dialogar: o fim do apoio incondicional a Israel e a retirada das tropas americanas estacionadas no Iraque, no Afeganistão e em outros países.

Reeleição
Apesar de enumerar as exigências, Ahmadinejad não tem plenos poderes para tratar com outros países. Pelo sistema iraniano, a palavra final em assuntos de diplomacia e segurança cabe ao líder supremo da Revolução, aiatolá Ali Khamenei.
As declarações de Ahmadinejad são consideradas parte da campanha para a eleição presidencial de junho. A sua candidatura era dada como certa, mas só foi oficialmente confirmada ontem.
"Naturalmente será candidato, porque os programas e políticas que lançou não podem ser efetivados em um mandato de quatro anos", disse Akbar Javanfekr, diretor de comunicação do gabinete presidencial.
Criticado pelo desemprego e pela queda do poder de compra, o conservador Ahmadinejad deve enfrentar o também direitista Mohammad-Baqer Qalibaf, prefeito de Teerã, e o reformista Mohammed Khatami, que foi presidente por dois mandatos (1997-2005).


Com agências internacionais


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