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Reintegração do Taleban divide potências
Em conferência em Londres, países ocidentais resistem a conciliação com líderes extremistas, mas apoiam ofertas a militantes
Hamid Karzai diz contar com Paquistão e Arábia Saudita para contatos; estrangeiros querem afegãos chefiando a segurança do país em 2014
DA REDAÇÃO
Em meio a negociações para
um prazo de retirada de tropas
estrangeiras do Afeganistão, o
presidente do país, Hamid Karzai, encontrou reações divididas quanto a seu polêmico plano de conciliação com líderes
do Taleban entre os mais de 60
países reunidos em conferência em Londres ontem.
Por um lado, o comunicado
final do encontro deu apoio à
organização por Karzai de uma
grande "jirga" (conselho tribal)
para tratar da conciliação nacional. O Taleban não é citado
no texto, mas Karzai reafirmou
ontem sua intenção de colocar
em movimento na "jirga" o plano de oferecer espaços a membros do grupo extremista para
que renunciem à violência.
O Taleban foi publicamente
convidado a comparecer a esse
conselho -o grupo sinalizou
porém que não irá. "Cada um
de nós deve estender a mão a
nossos homens, especialmente
aos irmãos desencantados, para que aceitem a Constituição
afegã", disse Karzai.
A intenção de Cabul é oferecer vias para a reintegração de
membros de todos os níveis do
Taleban. Os 20 mil a 30 mil
combatentes receberão ofertas
de dinheiro e empregos, financiados por doações de aliados
internacionais. Já os líderes do
grupo extremista islâmico,
muitos abrigados no Paquistão,
poderiam obter espaços na estrutura de governo nacional.
Em indicação do ritmo avançado da iniciativa, um funcionário da ONU afirmou a repórteres ontem que membros do
conselho de líderes do Taleban
se reuniram secretamente com
o representante do organismo
no Afeganistão, Kai Eide, para
discutir o fim da luta armada.
Se há apoio para ofertas aos
militantes, o movimento em direção aos líderes obteve resposta reticente, já que vários países
(especialmente os EUA) consideram inaceitável a associação
com acusados de coconspiração para o 11 de Setembro.
Richard Holbrooke, enviado
da Casa Branca para o Afeganistão e o Paquistão, disse que
os EUA não estão envolvidos
em nenhuma aproximação
com a liderança do grupo. A secretária de Estado americana,
Hillary Clinton, afirmou que "é
preciso engajar os inimigos para criar uma situação de fim da
insurgência" -mas manteve os
comentários circunscritos à
conciliação com militantes de
baixo escalão.
Karzai afirmou contar com a
ajuda do Paquistão e da Arábia
Saudita -2 dos 3 países que reconheceram o regime do Taleban antes de sua derrubada em
2001, além dos Emirados Árabes Unidos- para mediar contatos com líderes do grupo.
Teme-se, porém, que o Taleban veja a oferta como prova de
que está vencendo a batalha e
incremente suas operações.
Segurança
A conferência também estipulou que em dezembro próximo ou em janeiro de 2011 terá
início a passagem gradual da
responsabilidade pela segurança de cada Província para forças
afegãs. O comunicado final prevê que as forças locais deverão
conduzir a maior parte das operações em áreas de conflitos em
até três anos e serão responsáveis pela segurança física de todo o país em cinco anos.
O próprio Karzai alertou, porém, que necessitará da ajuda
estrangeira por muito tempo.
"Quanto ao treinamento de
forças afegãs, 5 a 10 anos deverão ser suficientes", disse.
"Quanto a sustentá-las até que
o Afeganistão seja capaz de pagar as tropas, o prazo deve ser
alongado para até 15 anos."
As potências envolvidas nas
operações no Afeganistão pretendem aumentar as forças de
segurança do país para 171,6
mil soldados e 134 mil policiais
até outubro do ano que vem.
Em troca dos apoios, os aliados internacionais exigiram
medidas fortes de Cabul contra
a corrupção. Karzai, reeleito
por uma eleição claramente
fraudulenta em 2009, deverá
instalar em um mês um escritório independente para "investigar e punir" membros corruptos do governo.
Com agências internacionais
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