São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Reintegração do Taleban divide potências

Em conferência em Londres, países ocidentais resistem a conciliação com líderes extremistas, mas apoiam ofertas a militantes

Hamid Karzai diz contar com Paquistão e Arábia Saudita para contatos; estrangeiros querem afegãos chefiando a segurança do país em 2014


DA REDAÇÃO

Em meio a negociações para um prazo de retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão, o presidente do país, Hamid Karzai, encontrou reações divididas quanto a seu polêmico plano de conciliação com líderes do Taleban entre os mais de 60 países reunidos em conferência em Londres ontem.
Por um lado, o comunicado final do encontro deu apoio à organização por Karzai de uma grande "jirga" (conselho tribal) para tratar da conciliação nacional. O Taleban não é citado no texto, mas Karzai reafirmou ontem sua intenção de colocar em movimento na "jirga" o plano de oferecer espaços a membros do grupo extremista para que renunciem à violência.
O Taleban foi publicamente convidado a comparecer a esse conselho -o grupo sinalizou porém que não irá. "Cada um de nós deve estender a mão a nossos homens, especialmente aos irmãos desencantados, para que aceitem a Constituição afegã", disse Karzai.
A intenção de Cabul é oferecer vias para a reintegração de membros de todos os níveis do Taleban. Os 20 mil a 30 mil combatentes receberão ofertas de dinheiro e empregos, financiados por doações de aliados internacionais. Já os líderes do grupo extremista islâmico, muitos abrigados no Paquistão, poderiam obter espaços na estrutura de governo nacional.
Em indicação do ritmo avançado da iniciativa, um funcionário da ONU afirmou a repórteres ontem que membros do conselho de líderes do Taleban se reuniram secretamente com o representante do organismo no Afeganistão, Kai Eide, para discutir o fim da luta armada.
Se há apoio para ofertas aos militantes, o movimento em direção aos líderes obteve resposta reticente, já que vários países (especialmente os EUA) consideram inaceitável a associação com acusados de coconspiração para o 11 de Setembro.
Richard Holbrooke, enviado da Casa Branca para o Afeganistão e o Paquistão, disse que os EUA não estão envolvidos em nenhuma aproximação com a liderança do grupo. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou que "é preciso engajar os inimigos para criar uma situação de fim da insurgência" -mas manteve os comentários circunscritos à conciliação com militantes de baixo escalão.
Karzai afirmou contar com a ajuda do Paquistão e da Arábia Saudita -2 dos 3 países que reconheceram o regime do Taleban antes de sua derrubada em 2001, além dos Emirados Árabes Unidos- para mediar contatos com líderes do grupo.
Teme-se, porém, que o Taleban veja a oferta como prova de que está vencendo a batalha e incremente suas operações.

Segurança
A conferência também estipulou que em dezembro próximo ou em janeiro de 2011 terá início a passagem gradual da responsabilidade pela segurança de cada Província para forças afegãs. O comunicado final prevê que as forças locais deverão conduzir a maior parte das operações em áreas de conflitos em até três anos e serão responsáveis pela segurança física de todo o país em cinco anos.
O próprio Karzai alertou, porém, que necessitará da ajuda estrangeira por muito tempo. "Quanto ao treinamento de forças afegãs, 5 a 10 anos deverão ser suficientes", disse. "Quanto a sustentá-las até que o Afeganistão seja capaz de pagar as tropas, o prazo deve ser alongado para até 15 anos."
As potências envolvidas nas operações no Afeganistão pretendem aumentar as forças de segurança do país para 171,6 mil soldados e 134 mil policiais até outubro do ano que vem.
Em troca dos apoios, os aliados internacionais exigiram medidas fortes de Cabul contra a corrupção. Karzai, reeleito por uma eleição claramente fraudulenta em 2009, deverá instalar em um mês um escritório independente para "investigar e punir" membros corruptos do governo.

Com agências internacionais



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