São Paulo, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

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Irã apresenta a Brasil "novas ideias" sobre urânio

Chanceler do país persa não detalha plano, e Amorim destaca chance de contribuição brasileira ao debate

DO ENVIADO A DAVOS

O chanceler iraniano Manoucher Mottaki apresentou ontem a seu colega brasileiro Celso Amorim o que chamou de "novas ideias" para o envio ao exterior de urânio para ser enriquecido e depois devolvido ao Irã.
É esse item o que parece, no momento, representar o que o jargão diplomático chama de "make or break" (fazer um acordo ou romper definitivamente uma negociação) entre o Irã e as potências que com ele negociam (Estados Unidos, Reino Unido, França, China, Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança, e a Alemanha).
Mottaki não quis dizer qual era a nova ideia. A que foi originalmente apresentada aos seis grandes, meses atrás, era a de enviar o urânio para França e Rússia, que o enriqueceriam até o nível necessário para utilização para fins medicinais e o devolveriam.
Por esse caminho, ficaria dificultada ou até mesmo eliminada a hipótese de o Irã enriquecer seu urânio até o ponto necessário para fazer a bomba.
Depois, o Irã recuou da proposta, que havia sido recebida com simpatia pelos interlocutores. Voltou-se assim ao impasse que caracteriza as relações de Teerã com os países ocidentais.
Se há de fato "novas ideias", abre-se a possibilidade de romper o impasse. A troca de ideias reforça o desejo brasileiro de desempenhar um papel mais ativo nessa questão como em outros temas quentes da agenda internacional.
O reforço fica claro pela declaração de Mottaki de que, embora não queira chamar de "mediador" o papel do Brasil, acha que Brasil e Irã "podem ajudar um ao outro".
O chanceler Amorim não falou aos jornalistas após o encontro, mas, antes dele, havia dito que a discussão sobre o programa nuclear iraniano "não é fácil", mas o Brasil poderia dar uma contribuição por, na sua opinião, "gozar da confiança dos dois lados".
Pelo menos a confiança do Irã foi reafirmada por seu chanceler, que chegou a dizer que havia "completo acordo" sobre temas bilaterais.
Os dois ministros passaram em revista os temas que serão discutidos quando o presidente Lula for ao Irã em maio.
À televisão brasileira Amorim afirmou que o governo Lula condena a pena de morte, ainda mais quando aplicada por motivos políticos, em resposta a uma pergunta sobre a execução de dissidentes iranianos. Mas acrescentou que a condenação não significa que o Brasil não deve conversar com países que a aplicam.
"As relações são com Estados, não com governos", diz o chanceler, expressão que usou para falar a respeito da situação de Honduras após a posse do presidente Porfirio Lobo.
Amorim considerou "positivo" o fato de Lobo ter tomado a iniciativa de ir à Embaixada do Brasil para dela sair com o presidente deposto Manuel Zelaya, ao lado do presidente dominicano, Leonel Fernández.
(CLÓVIS ROSSI)


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