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Irã apresenta a Brasil "novas ideias" sobre urânio
Chanceler do país persa não detalha plano, e Amorim destaca chance de contribuição brasileira ao debate
DO ENVIADO A DAVOS
O chanceler iraniano Manoucher Mottaki apresentou
ontem a seu colega brasileiro
Celso Amorim o que chamou
de "novas ideias" para o envio
ao exterior de urânio para ser
enriquecido e depois devolvido
ao Irã.
É esse item o que parece, no
momento, representar o que o
jargão diplomático chama de
"make or break" (fazer um
acordo ou romper definitivamente uma negociação) entre o
Irã e as potências que com ele
negociam (Estados Unidos,
Reino Unido, França, China,
Rússia, membros permanentes
do Conselho de Segurança, e a
Alemanha).
Mottaki não quis dizer qual
era a nova ideia. A que foi originalmente apresentada aos seis
grandes, meses atrás, era a de
enviar o urânio para França e
Rússia, que o enriqueceriam
até o nível necessário para utilização para fins medicinais e o
devolveriam.
Por esse caminho, ficaria dificultada ou até mesmo eliminada a hipótese de o Irã enriquecer seu urânio até o ponto
necessário para fazer a bomba.
Depois, o Irã recuou da proposta, que havia sido recebida
com simpatia pelos interlocutores. Voltou-se assim ao impasse que caracteriza as relações de Teerã com os países
ocidentais.
Se há de fato "novas ideias",
abre-se a possibilidade de romper o impasse. A troca de ideias
reforça o desejo brasileiro de
desempenhar um papel mais
ativo nessa questão como em
outros temas quentes da agenda internacional.
O reforço fica claro pela declaração de Mottaki de que,
embora não queira chamar de
"mediador" o papel do Brasil,
acha que Brasil e Irã "podem
ajudar um ao outro".
O chanceler Amorim não falou aos jornalistas após o encontro, mas, antes dele, havia
dito que a discussão sobre o
programa nuclear iraniano
"não é fácil", mas o Brasil poderia dar uma contribuição por,
na sua opinião, "gozar da confiança dos dois lados".
Pelo menos a confiança do
Irã foi reafirmada por seu
chanceler, que chegou a dizer
que havia "completo acordo"
sobre temas bilaterais.
Os dois ministros passaram
em revista os temas que serão
discutidos quando o presidente
Lula for ao Irã em maio.
À televisão brasileira Amorim afirmou que o governo Lula
condena a pena de morte, ainda
mais quando aplicada por motivos políticos, em resposta a
uma pergunta sobre a execução
de dissidentes iranianos. Mas
acrescentou que a condenação
não significa que o Brasil não
deve conversar com países que
a aplicam.
"As relações são com Estados, não com governos", diz o
chanceler, expressão que usou
para falar a respeito da situação
de Honduras após a posse do
presidente Porfirio Lobo.
Amorim considerou "positivo" o fato de Lobo ter tomado a
iniciativa de ir à Embaixada do
Brasil para dela sair com o presidente deposto Manuel Zelaya, ao lado do presidente dominicano, Leonel Fernández.
(CLÓVIS ROSSI)
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