São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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Protestos ameaçam ditadura no Egito

Após mandar Exército à rua e decretar toque de recolher, Mubarak anuncia dissolução de gabinete, mas fica no poder

Dia de caos e conflitos no país deixa ao menos 18 mortos; Casa Branca ameaça rever sua ajuda financeira aos egípcios

Khaled Desouki/FrancePresse
Manifestantes em volta da sede do partido governista, incendiada durante protesto no Cairo

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O ditador Hosni Mubarak, 82, que governa o Egito desde 1981, anunciou a dissolução de seu gabinete de ministros, na tentativa de conter os maiores protestos contra o seu regime em três décadas.
Mubarak não deu, porém, nenhuma indicação de que pretenda sair do governo, principal reivindicação das manifestações que tomaram o Egito. Em discurso na TV, ele disse que era seu papel manter a segurança no país e que havia uma tênue linha entre a liberdade e o caos.
Antes do pronunciamento, feito por volta da meia-noite de ontem (20h, no horário de Brasília), o ditador havia decretado toque de recolher e, em uma medida inédita, mandado o Exército para conter as manifestações nas ruas das principais cidades.
Dezenas de milhares participaram de protestos na capital, Cairo, e em grandes centros como Alexandria e Suez. As informações sobre mortes são desencontradas, mas fontes médicas estimam que, no país todo, 18 pessoas tenham morrido. No Cairo, o total de feridos supera 1.030, segundo a agência Reuters.
Inicialmente válido para Cairo, Alexandria e Suez, o toque de recolher, que vai até as 7h de hoje (3h de Brasília), foi estendido ao país todo.
Apesar disso, na noite de ontem, ainda era grande a circulação de pessoas pelas ruas das principais cidades.

REVOLTA NA REDE
Os conflitos de ontem, dia de orações para os muçulmanos, foram os mais violentos desde terça, data dos protestos iniciais contra a ditadura.
Carros e prédios como o escritório do partido governista no Cairo foram incendiados, e soldados do Exército tiveram de conter uma tentativa de ocupar a TV estatal.
Em Suez, uma delegacia foi invadida, e os presos, soltos. A polícia reprimiu os protestos com gás lacrimogêneo, cassetetes, canhões d'água e balas de borracha.
Segundo forças de segurança egípcias, o ex-diretor da agência nuclear das Nações Unidas e Nobel da Paz Mohamed ElBaradei foi colocado em prisão domiciliar.
ElBaradei estava entre os manifestantes atacados com gás lacrimogêneo e canhões d'água na saída de uma mesquita na capital.
Outro líder oposicionista, Aymad Nour, foi hospitalizado após levar uma pedrada na nuca, segundo seu filho.
Em entrevista à Folha, um ativista egípcio que mora no Brasil afirmou que os protestos vêm sendo planejados pela internet há um ano. No Cairo desde quarta para participar das manifestações, ele pediu para não ser identificado por questões de segurança. Ontem, o governo egípcio bloqueou o acesso à rede.
Entre as principais causas da revolta no Egito estão fatores semelhantes aos que derrubaram Ben Ali, ditador da Tunísia, duas semanas atrás: crise econômica, com 40% da população do país vivendo abaixo da linha da pobreza, e corrupção endêmica.
Mubarak nunca indicou substituto, e há rumores de que prepara seu filho Gamal para a sucessão, ideia que é vista com maus olhos pela elite militar do Egito.
Raro caso de país árabe que mantém boas relações com Israel, o Egito é um dos principais aliados dos EUA na região e recebe dos americanos grande montante de ajuda militar e auxílio financeiro.
O Departamento de Estado recomendou a cidadãos americanos que, por enquanto, evitem viajar ao Egito. Ontem, a companhia aérea Egypt Air suspendeu voos que partiam do Cairo.

Colaborou DANIELA LORETO, de São Paulo


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