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México põe em xeque luta militar antidrogas
Mobilização emergencial das Forças Armadas tende a se tornar permanente diante da debilidade das forças policiais civis
Corrupção derrubou metade da polícia de Ciudad Juárez, campeã de violência no país; disputa de cartéis responde por maior parte das mortes
Tomas Bravo-07.mar.09/Reuters
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Homem passa por loja de serigrafia com a imagem do Coração de Jesus em Ciudad Juárez, a cidade mais violenta do México; à esquerda, logotipo da Dickies, marca americana de roupas
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A
CIUDAD JUÁREZ (MÉXICO)
Importante rota do narcotráfico aos Estados Unidos, Ciudad Juárez se transformou nos
últimos meses na cidade mais
violenta do México. A onda de
assassinatos só foi parcialmente debelada há cerca de 15 dias,
após a chegada de mais 5.000
soldados. Mas a crescente dependência da força militar na
segurança pública tem alimentado dúvidas sobre a eficácia da
política de linha dura adotada
por Felipe Calderón ao assumir
o cargo de presidente, em dezembro de 2006.
Na semana passada, quando
a reportagem da Folha visitou
a região, o número diário de assassinatos havia sido reduzido
em 95%, diz a prefeitura. Mas
as patrulhas de camionetes
com soldados armados ainda
não estimulam as pessoas a saírem de casa -a maior parte dos
restaurantes fica vazio à noite.
É o primeiro respiro da cidade em vários meses, após níveis
inéditos de violência. Num dos
casos mais emblemáticos, o diretor da polícia de Juárez (controlada pela prefeitura), Roberto Orduña, renunciou no mês
passado depois que traficantes
prometeram matar um policial
a cada 48h até que ele saísse.
Ele deixou o cargo depois do
segundo assassinato.
"Vários fatores explicam a
violência", disse à Folha o prefeito de Juárez, José Reyes
Ferriz, em entrevista em seu
gabinete, a poucos metros da linha fronteiriça com os EUA. "O
primeiro é que a polícia de Juárez deveria ter 4.000 homens e
tem apenas 1.600. O segundo é
a forte corrupção policial. E o
terceiro é a guerra entre o cartel do Pacífico e o cartel de Juárez pelo controle da rota. A
maior parte dessa guerra era
matar policiais."
Como em outras partes do
país, mais de 90% das mortes
em Juárez são atribuídas à disputa entre cartéis. "Há duas
guerras, uma entre narcotraficantes e outra, em nível muito
menor, do Estado contra esses
narcotraficantes", disse Samuel González, ex-procurador
antidrogas da Procuradoria
Geral da República.
Reyes, que anda com seis seguranças armados de fuzis,
afirma que dispensou cerca de
metade de sua força policial
por suspeita de envolvimento
com o crime.
Saulo Reyes, ex-diretor da
polícia local, foi preso em 2008
nos EUA quando negociava a
venda de uma tonelada de maconha.
Atualmente, os cargos de direção da polícia de Juárez estão
ocupados por militares enviados pela Secretaria da Defesa
Nacional. O prefeito acredita
que serão necessários de seis
meses a um ano para que a força volte ao comando civil e que
a cidade dispense o reforço de
mais de 10 mil homens, entre
militares e policiais federais.
A falta de um cronograma
claro para o fim da intervenção
militar preocupa ativistas de
direitos humanos. "Temos 10
mil pessoas que não conhecem
a cidade e se consideram impunes. Os custos colaterais preocupam muito", diz Gustavo de
la Rosa, da Comissão Estadual
de Direitos Humanos. Segundo
ele, há nove denúncias de desaparecimento. Desde 2008, foram 160 queixas de abusos.
Com 1,4 milhão de habitantes, Ciudad Juárez enfrenta
ainda um difícil momento econômico por abrigar cerca de
300 "maquiladoras", empresas
que aproveitam a mão-de-obra
barata mexicana e a proximidade com os EUA para montar
e exportar produtos. Cerca de
15 mil funcionários foram despedidos por causa da crise.
Incapacidade civil
"Ciudad Juárez representa o
maior exemplo da incapacidade da autoridade civil para
construir segurança", afirma o
analista Ernesto López, do Instituto para a Segurança e a Democracia, da Cidade do México.
"Neste momento, temos mais
violência, mais droga, mais delinquência organizada, mais
violação dos direitos por parte
das autoridades do que três
anos atrás. Ninguém ganha nada, exceto o crime organizado."
López cita um recente relatório do Congresso mexicano segundo o qual 7 de 10 crimes não
chegam à polícia. Para ele, é o
reflexo de uma crise de legitimidade e eficácia que atinge
quase todas as polícias: cada
um dos 32 Estados mexicanos
tem a sua, além de mais de
1.600 forças municipais.
Outra debilidade apontada
por analistas é o Judiciário. Dos
1.607 assassinatos ocorridos
em Juárez no ano passado, por
exemplo, apenas 50 chegaram à
Justiça, segundo a Comissão
Estadual de Direitos Humanos.
Calderón vem tentando reformar nas duas frentes. Em janeiro, uma nova lei padronizou
regras de seleção e treinamento
dos policiais. Desde 2006, o número de policiais federais aumentou de 9.000 para 26 mil.
Na área judicial, uma recente
reforma aprovada pelo Congresso promete agilizar a tramitação do processos.
O governo argumenta ainda
que a violência ligada ao narcotráfico, embora crescente, está
concentrada em três cidades:
além de Juárez, Tijuana e Culiacán (centro-norte). A maior
parte das mortes estaria ligada
à disputa entre cartéis pelos espaços cada vez menores.
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