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Papa diz não ser intimidado por "fofocas"
Em sermão pelo Domingo de Ramos, Bento 16 responde indiretamente às denúncias de pedofilia envolvendo a Igreja Católica
Sem citar escândalos, pontífice afirma que fé em Deus lhe dá coragem contra "opiniões dominantes"; milhares veem cerimônia
Alessandro Bianchi/Reuters
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Bento 16 celebra missa de Domingo de Ramos, que dá início à Semana Santa; em sermão, ele insinuou que denúncias de pedofilia contra igreja são maledicências
DA REDAÇÃO
Alvo de críticas de acobertamento de casos de pedofilia envolvendo religiosos católicos
nos EUA e na Europa, o papa
Bento 16 disse ontem, em homilia da missa do Domingo de
Ramos, na praça de São Pedro
(Vaticano), que sua fé lhe dá coragem para não ser intimidado.
De Deus vem a "coragem que
não se deixa intimidar pelas fofocas das opiniões dominantes", disse o papa.
Durante a missa, ele também
falou de como o homem às vezes pode cair a níveis "vulgares
e baixos" e "mergulhar num
pântano de pecado e desonestidade". E rezou "pelos jovens e
por aqueles que se empenham
em educá-los e protegê-los".
Milhares de pessoas estavam
presentes à celebração que
abre a Semana Santa. Bento 16
não fez referências diretas às
denúncias de escândalos sexuais envolvendo a Igreja Católica. Porém, trechos do seu sermão indicam uma resposta às
críticas de encobrimento, pela
igreja, de casos de abuso sexual
de crianças por clérigos, gerando uma das mais graves crises
do seu pontificado -que completa cinco anos em 20 de abril.
Os escândalos de pedofilia
ganharam notoriedade após
denúncias recentes de abusos
sexuais contra crianças praticados por padres na Irlanda,
entre os anos 1930 e 1990. Em
maio de 2009, dossiês resultantes de nove anos de investigações apontaram a existência,
no país, de uma prática disseminada de molestamentos e
violações por parte da Igreja
Católica irlandesa que atingiu
mais de 15 mil crianças e adolescentes e resultou, até agora,
na renúncia de quatro bispos.
Por isso, Bento 16 enviou, há
nove dias, carta aos católicos irlandeses em que pede "perdão
e renovação interior" a Deus
pela igreja na Irlanda e qualifica os abusos como "atos pecaminosos e criminosos". Nela,
Bento 16 ainda ressalta que os
episódios não se restringem à
Igreja Católica nem à Irlanda.
O escândalo trouxe à tona
outras denúncias de pedofilia
praticados por padres na Holanda, Áustria, Suíça, Alemanha e EUA. Porém, o papa não
se manifestou publicamente
sobre os episódios ocorridos
nesses países.
Na Alemanha, onde nasceu o
papa, a igreja admitiu "erros"
na Arquidiocese de Munique
na passagem das décadas de
1970 para 1980, quando era dirigida pelo então bispo Joseph
Ratzinger. Além disso, ao menos 250 ex-alunos de instituições católicas alemãs sofreram
abusos físicos e psicológicos.
Nos EUA, o jornal "The New
York Times" revelou novo escândalo, que veio se somar à
onda de denúncias, porém com
um agravante que aponta para
a suspeita de omissão por parte
do próprio Ratzinger à época
em que chefiava a Congregação
para a Doutrina da Fé.
O caso envolve abusos praticados pelo padre Lawrence
Murphy contra mais de 200
meninos surdos em Milwaukee, no Estado americano de
Wisconsin, entre 1950 e 1974.
Bispos americanos enviaram
cartas ao Vaticano em 1996 relatando o caso ao então cardeal
Ratzinger. As correspondências foram ignoradas e o padre
Murphy foi poupado de um julgamento canônico depois de
Ratzinger ter recebido uma
carta do acusado.
Nela, o padre apelava para
"viver o tempo que restava com
a dignidade do sacerdócio". O
padre morreu em 1998, aos 72
anos, sem nunca ter sido punido. O Vaticano nega o encobrimento do caso, mas admite os
abusos de Murphy.
Em editorial publicado no
jornal "Osservatore Romano"
na semana passada, a Igreja Católica critica a mídia pela "tentativa ignóbil de atacar o papa
Bento 16 e seus assessores mais
próximos a qualquer custo".
Com agências internacionais
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