São Paulo, terça-feira, 29 de março de 2011

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Jornal protesta e publica capa em branco

Argentino "Clarín" reage contra bloqueio de sindicalistas pró-governo que o impediu de circular anteontem

Ato teria sido motivado por reportagem sobre suposta lavagem de dinheiro praticada por líder de central sindical

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Em protesto contra o bloqueio de sindicalistas pró-governo que o impediu de circular anteontem, o "Clarín", maior jornal argentino, saiu ontem com a sua primeira página em branco.
O diário, com 300 mil exemplares diários (o dobro aos domingos), foi alvo de um ato de trabalhadores ligados ao governo Cristina Kirchner, que impediram a saída de caminhões do seu parque gráfico. A medida afetou ainda o jornal esportivo "Olé", do mesmo grupo.
Outro grande jornal do país, o "La Nación", também sofreu com a ação, mas o bloqueio, suspenso no meio da madrugada de anteontem, não impediu a circulação.
Cerca de cem manifestantes, alguns ex-trabalhadores da gráfica do "Clarín", ocuparam a entrada do parque gráfico do jornal, ainda no sábado à noite, reclamando a incorporação de funcionários demitidos.
Segundo denunciou o "Clarín", no grupo havia integrantes do sindicato dos caminhoneiros, controlado por Hugo Moyano, maior líder trabalhista do país.
Aliado de Cristina e secretário-geral da CGT (Confederação Geral do Trabalho), a maior central sindical da Argentina, ele nega ingerência no episódio.
Acusado de corrupção, o sindicalista, há duas semanas, ameaçou bloquear a circulação de jornais que publicassem "notícias infundadas" a seu respeito, referência a uma investigação contra ele na Suíça pela suspeita de lavagem de dinheiro.
A edição barrada do "Clarín" trazia reportagem sobre o crescimento do patrimônio de Moyano, que seria incompatível com sua renda.

AÇÃO JUDICIAL
Cristina considera inimigos o "Clarín" e o "La Nación", críticos de sua gestão.
Desde dezembro ocorreram cinco manifestações na porta das gráficas dos diários, mas a de anteontem foi a primeira que impediu a circulação de um jornal.
Em janeiro, ao atender a pedido dos veículos, a Justiça ordenou que o governo federal promova meios para assegurar a distribuição.
Acionada, a Polícia Federal (controlada pelo governo) esteve no local do bloqueio, mas nada fez para impedi-lo.
Segundo disse à Folha Martín Etchevers, gerente de comunicação do "Clarín", o jornal vai entrar na Justiça com uma ação contra o governo, por ter descumprido uma sentença judicial, e outra contra o grupo de manifestantes, por extorsão.
A Sociedade Interamericana de Imprensa considerou o bloqueio um grave atentado à "liberdade de expressão". Em nota, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) do Brasil considerou o ato "intolerante e antidemocrático".
Ministros do governo Kirchner dizem que o episódio é trabalhista, não representando uma ameaça à liberdade de imprensa.


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