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AMÉRICA LATINA
Para analistas, estrutura política impede cumprimento da promessa
Corrupção é alvo, diz eleito paraguaio
ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O presidente eleito do Paraguai,
Nicanor Duarte Frutos, prometeu
ontem priorizar o combate à corrupção, ao contrabando e à evasão fiscal em seu governo. As promessas, no entanto, são vistas
com reservas pelos analistas, que
apontam a estrutura de poder do
Partido Colorado, que governa o
país há 56 anos, como seu principal empecilho.
"A corrupção no Paraguai é
uma forma de mediação política.
Estão envolvidos com ela vários
dos que têm poder político ou
econômico", diz o cientista político Tomás Palau, do centro de pesquisas Base. "Se combater essas
pessoas, o presidente perderá seu
apoio político", afirma.
Duarte, que deve assumir o cargo em 15 de agosto, para um mandato de cinco anos, foi criticado
também pelo analista político
Carlos Martini, professor da Universidade Católica de Assunção e
comentarista da TV Canal 13. Ao
entrevistar Duarte, após o anúncio do resultado da eleição, Martini questionou-o por ter recebido,
diante das câmeras, as felicitações
de Oswaldo Domínguez Dibb,
presidente do clube de futebol
Olimpia, acusado de contrabandear cigarros ao Brasil. Domínguez, que disputou com Duarte a
indicação do Partido Colorado
para a candidatura à Presidência,
entregou ao eleito uma cópia de
seu programa de governo.
Segundo um ranking publicado
pela organização Transparência
Internacional, o Paraguai é o país
mais corrupto da América Latina.
O presidente eleito defende a tese de que seu grupo político dentro do Partido Colorado -adversário do atual presidente, Luis
González Macchi, que escapou de
um processo de impeachment
por corrupção no início do ano-
poderá promover uma revolução
interna, afastando os corruptos.
"A corrupção chegou a tal nível
que é quase impossível combatê-la internamente, como propõe
Duarte Frutos", diz Palau. "Se
quiser fazer isso, terá de negociar
com contrabandistas e traficantes
de drogas e de armas."
A propalada força política do
ex-general Lino Oviedo saiu abalada das eleições de anteontem.
Além de ter visto seu candidato,
Guillermo Sánchez Guffanti, ficar
em quarto, Oviedo também perdeu aliados no Congresso.
Segundo projeções, o partido
do ex-general, a Unace (União
Nacional dos Cidadãos Éticos),
dissidência do Partido Colorado,
elegeu quatro ou cinco senadores
e entre seis e oito deputados, contra sete senadores e 19 deputados
(de um total de 45 senadores e 80
deputados) antes da eleição.
Oviedo, condenado por tentativa de golpe em 1996 e hoje exilado
no Brasil, apostava numa possível
vitória de Sánchez Guffanti e no
crescimento de seu partido no
Congresso como armas para ser
anistiado e voltar ao Paraguai.
Duarte prometeu dar garantias
a Oviedo de que terá direito a um
processo judicial independente se
retornar ao Paraguai.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva enviou carta de felicitação ao
presidente eleito do Paraguai e o
convidou a visitar Brasília.
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