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GUERRA SEM LIMITES
Relatório americano elogia ações do país, mas critica leis que dificultam extradição e lista problemas
Para EUA, Brasil falha na guerra ao terror
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Relatório anual do Departamento de Estado norte-americano conclui que algumas leis brasileiras atrapalham a chamada
"guerra ao terror", embora elogiem ações do governo nessa área.
O governo do Brasil "condena
vigorosamente o terrorismo",
mas não provê o suporte material
e político necessário para fortalecer as instituições antiterror, conclui o texto, divulgado ontem em
Washington.
"Uma comissão governamental
(brasileira) propôs uma nova estrutura antiterror entre agências,
mas o governo não apresentou legislação para implementá-la", defende o texto.
O relatório do governo dos Estados Unidos, que faz uma avaliação anual das atividades terroristas no mundo (leia texto nesta página), critica o Brasil por não classificar regimes de outros países
como "terroristas" e por aceitar o
Hizbollah como partido político
legítimo.
Afirma ainda que a lei local
proíbe a extradição de cidadãos
brasileiros e "impõe severas restrições" à extradição de cidadãos
naturalizados e estrangeiros, o
que pode "atrapalhar os esforços
de governos estrangeiros de levar
terroristas foragidos à Justiça".
"Prefiro não comentar, pois
ainda não li o relatório, mas é uma
afirmação absolutamente despropositada, pois o governo faz tudo
o que pode, o que está a seu alcance e tem colaborado no combate
ao terrorismo", disse o embaixador do Brasil em Washington,
Roberto Abdenur, respondendo a
uma pergunta da Folha. "Não sei
o que eles querem dizer com isso,
me surpreende, me parece equivocado."
O relatório aponta duas regiões
como especificamente problemáticas no país: a Tríplice Fronteira
(com Argentina e Paraguai) e a divisa com a Colômbia. Sobre a primeira, afirma que suspeitos de
apoiar grupos terroristas islâmicos, incluindo o Hizbollah e o Hamas, "aproveitam um território
pouco vigiado e a proximidade
com comunidades muçulmanas"
para levantar fundos ilícitos e participar de atividades ilegais -embora, concede o órgão, não haja
informações mais precisas de que
esses grupos tenham "presença
operacional" ali.
Quanto à fronteira com a Colômbia, a "falta de governo" criou
um "paraíso para grupos insurgentes e terroristas", incluindo as
Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia (Farc). "Brasil,
Equador, Peru e Panamá têm
adotado uma política não-oficial
que mistura contenção e não-confrontamento".
Na mesma área, diz o texto, "as
forças de segurança (desses países) continuam seguindo ordens
formais ou informais de evitar
confrontos militares" com narcoterroristas.
Outro alvo latino-americano do
relatório é o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que manteria "uma simpatia ideológica"
com o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as Farc. O venezuelano teria defendido "publicamente terroristas iraquianos" e
"aprofundou" as relações de seu
país com outros que apóiam o terrorismo segundo a classificação
de Washington, como Cuba e Irã.
"A cooperação venezuelana na
campanha internacional contra o
terrorismo continua sendo insignificante", conclui o texto.
Elogios
O texto do Departamento do Estado norte-americano, no entanto, elogia iniciativas brasileiras.
"No geral, o Brasil continua a desenvolver suas capacidades antiterrorismo", utilizando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de maneira eficiente para "monitorar e prevenir
possível financiamento de grupos
terroristas".
O texto aponta que o banco de
dados do Coaf "foi aperfeiçoado
com ajuda americana". Diz ainda
que "o governo também está investindo em infra-estrutura repressiva para controlar gradualmente o fluxo de bens pela Tríplice Fronteira, cujos ganhos podem
ser desviados para apoiar grupos
de terror".
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