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Presidente da Romênia cai, em nova crise no Leste
Traian Basescu é afastado pelo Parlamento logo depois de o país ingressar na UE
De língua afiada e popular entre os pobres, chefe de Estado eleito foi acusado de abuso de poder; Comissão Européia hesita em intervir
PAULO REBÊLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE
BUCARESTE
Enquanto o mundo inteiro
olha para as eleições na França,
um pouco mais ao leste, na Romênia, cai um presidente eleito
democraticamente e a União
Européia (UE) se encontra sem
saber o que fazer diante de mais
uma crise política nos novos
países-membros do Leste Europeu. Por 322 votos a favor e
108 contra, o Parlamento aprovou o impedimento do presidente Traian Basescu, eleito
para o cargo em 2004.
A Romênia passou a integrar
a UE em janeiro deste ano, junto com a Bulgária. Em Bucareste, a capital romena, mais de 10
mil pessoas se reuniram no
centro da cidade e em frente à
Praça da Constituição durante
toda a semana passada para pedir a permanência de Basescu
no poder. Ele é acusado pela
oposição de abuso de autoridade, envolvendo atos ilícitos.
Entre as principais acusações
estão seguidas críticas públicas
a juízes, influência política sobre procuradores e ordens ilegais para que o serviço secreto
do país instale grampos nos telefones de vários ministros.
Membro do Partido Democrata, Traian Basescu é considerado o político mais popular
da Romênia e um dos mais conhecidos no Leste Europeu, em
grande parte por conta do estilo populista e dos discursos em
que não mede palavras para criticar seus opositores.
Em geral aclamado pela população mais pobre, nos últimos meses Traian Basescu entrou em atritos com o primeiro-ministro, o liberal Calin Popescu Tariceanu. Basescu acusa o premiê de ter vínculos
"suspeitos" com empresários
do setor energético e os parlamentares de terem "vendido os
ideais da aliança democrática
entre liberais e democratas que
foi responsável pela vitória nas
eleições em 2004".
A Constituição romena garante que o Parlamento convoque um referendo em até 30
dias para que o impedimento
seja oficializado. Até lá, a Romênia segue governada por
uma coalizão liderada pelo pós-comunista Nicolae Vacaroiu,
ex-primeiro-ministro (1992-1996) e senador desde 1996. Há
temores de que o Parlamento
consiga encontrar uma brecha
constitucional para adiar ou
mesmo vetar o referendo, marcado para 19 de maio.
Assim como em boa parte do
Leste Europeu, na Romênia o
poder real de presidentes eleitos é reduzido, às vezes simbólico. No entanto, a crise no país
coloca em xeque uma série de
reformas sociais e econômicas
exigidas pela UE para que o
país fosse aceito no bloco.
Poucos dias antes da votação
no Parlamento, o presidente
Basescu garantiu que, caso fosse aprovado o impeachment,
ele renunciaria ao cargo. Pela
lei romena, com a renúncia o
Parlamento precisa convocar
novas eleições e o próprio Basescu poderia se candidatar,
mas ele não cumpriu a promessa. "Vários debates em andamento sobre as reformas serão
suspensos", diz a analista política Laura Radulescu.
Até agora a Comissão Européia parece ignorar os acontecimentos. O presidente da Comissão, José Manuel Durão
Barroso, limitou-se a dizer que
espera um desfecho o mais breve possível e uma resolução
institucional da crise.
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