São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / LIGAÇÕES PERIGOSAS

Ex-pastor volta à cena e põe Obama na berlinda

Rivais vêm usando discursos de Jeremiah Wright para atacar senador democrata

Religioso fala de terrorismo e racismo; a uma semana de prévias na Carolina do Norte e em Indiana, candidato diz que não tem mesma opinião

DA REDAÇÃO

O ex-pastor Jeremiah Wright -que por quase 20 anos liderou a igreja cristã freqüentada pelo pré-candidato democrata à Presidência dos EUA Barack Obama- voltou com força total à cena eleitoral americana, em discursos com o potencial de elevar a vulnerabilidade do senador antes de prévias cruciais no partido.
No Clube Nacional de Imprensa, em Washington, Wright repetiu ontem alguns de seus comentários mais incendiários -que há divisão racial nos EUA e razões para o país ser alvo terrorista. Mas também rebateu a acusação de antipatriotismo: "Servi seis anos nas Forças Armadas. Isso me torna patriota? Quantos anos o [vice-presidente Dick] Cheney serviu?", indagou.
As frases de Wright têm sido freqüentemente usadas pelos adversários de Obama nos dois partidos como um suposto sinal de que o pré-candidato é condescendente com radicais.
Ontem, o ex-pastor afirmou que Obama concorda com ele na esfera privada, ainda que não possa admitir isso publicamente. "Ele teve de se distanciar porque é um político e a mídia estava me retratando como antiamericano", afirmou.
A versão on-line do "New York Times" sugere que a campanha de Obama está furiosa com Wright. O pré-candidato convocou entrevista às pressas na Carolina do Norte, Estado que vota dia 6, para reiterar que a opinião do ex-pastor não reflete a sua. "Os últimos dias mostram que não estamos trabalhando juntos", disse.

11 de Setembro
A controvérsia sobre Wright começou há cerca de um mês, quando foram divulgados na internet trechos de seus sermões. Sua fala mais célebre -repetida por ele em Washington- é a de que os EUA "atraíram para si" os atentados de 11 de setembro de 2001. "Você não pode praticar o terrorismo e esperar que isso nunca se volte contra você. São princípios bíblicos", disse ontem.
Sobre a discriminação racial, disse que "não há desculpas para o que o governo deste país já fez". "Se Obama vencer, no dia 5 de novembro vou atrás dele, pois representará um governo [historicamente] opressor."
Ele também defendeu a importância de Louis Farrakhan, polêmico líder do grupo de muçulmanos afro-americanos Nação do Islã. Segundo pesquisa da Associated Press, cerca de 15% dos eleitores acham que Obama é muçulmano, o que gera reações algumas negativas -o senador é protestante.
Wright também disse que os ataques a ele são, na verdade, ataques contra a igreja negra americana, que ele representa.
O Partido Republicano tem comerciais associando o religioso a Obama para dizer que o último é "muito radical", e a rival democrata Hillary Clinton diz que Wright "não seria seu pastor". A mídia americana repercute o tema com estrondo.
Em pesquisa da Associated Press divulgada ontem sobre a eleição presidencial, na qual há simulações com os dois pré-candidatos democratas, Hillary aparece nove pontos à frente do republicano John McCain (50% a 41%). Já Obama tem 46%, contra 44% de McCain. Há sete dias, todos empatavam.


Com agências internacionais


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