São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2008

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Austríaco confessa incesto e prisão da filha por 24 anos

Josef Fritzl engravidou Elisabeth sete vezes; mãe da jovem diz desconhecer cativeiro

Assistência social visitava casa da família e não notava nada anormal; no subsolo estava a filha do casal, desaparecida aos 18 anos

Reuters/Reprodução/Polícia
Porta do porão onde Elisabeth e três filhos viviam; bebê morreu

DA REDAÇÃO

O engenheiro elétrico Josef Fritzl, 73, confessou ontem ter mantido a filha trancada no porão de sua casa por 24 anos, desde que ela tinha 18, na próspera cidadezinha austríaca de Amstetten, a 130 km de Viena.
Ele confirmou ser pai das sete crianças nascidas durante o cativeiro, mas diz que as relações incestuosas foram consensuais. Uma das crianças morreu ainda bebê e teve o corpo incinerado por Fritzl no sistema de calefação da casa.
Autoridades e vizinhos dizem jamais ter desconfiado que algo estranho ocorresse no que a imprensa austríaca vem chamando de "casa dos horrores".
Elisabeth Fritzl, hoje com 42 anos, desapareceu em 1984 após supostamente se envolver em uma seita. A moça -que diz ter sofrido abusos sexuais desde os 11 anos- afirma que, na realidade, foi atraída pelo pai até o porão, sedada e mantida refém em compartimentos com isolamento acústico.
Desde então, ela ficou trancafiada no porão do celeiro anexo à casa. Nas sete vezes em que Elisabeth engravidou e deu à luz sem assistência médica, ela não atraiu a atenção da vizinhança. Nem mesmo quando três dos seus filhos foram adotados pelos avós Rosemeire, 69, e o próprio Josef, em 1993, 1994 e 1997. Nas ocasiões, Joseph alegara à mulher que as crianças haviam sido abandonados à sua porta pela filha.

Avó surpresa
As três crianças recebiam visitas de assistentes sociais, que nunca notaram algo anormal. A avó Rosemeire Fritzl -mãe de Elisabeth- disse que não sabia de nada. Ela está em "estado psicológico preocupante", segundo o responsável pela assistência social de Amstetten, Heinz Lenz. Segundo os filhos de Rosemeire, o pai era autoritário e controlava a mulher.
Outros três filhos da relação incestuosa, que hoje têm 19, 18 e cinco anos, foram mantidos por toda a vida no porão. Segundo a polícia, eles nunca tinham visto a luz do sol e viveram sempre nos cômodos do subsolo, de 1,70 m de altura, isolado por uma porta de concreto armado, com fechadura eletrônica, cujo código apenas Fritzl conhecia. No espaço de 60 m2 havia cozinha, banheiro e três pequenos quartos.
Mas a filha mais velha de Fritzl e Elisabeth adoeceu e, dado seu grave estado, o pai acabou por levá-la ao hospital. Foi quando Elisabeth e os dois filhos subitamente reapareceram na casa da família.
A história veio à tona quando o hospital, diante de uma doença grave e não diagnosticada, indagou sobre a mãe e o histórico clínico da moça, que nunca tinha freqüentado escola nem recebido atendimento médico.
Kerstin, 19, está em coma induzido. Não há sinais físicos de que ela também tenha sofrido abuso sexual. Elisabeth e os filhos estão em observação em uma clínica psiquiátrica e aparentemente passam bem. O estado psicológico dos irmãos, criados sem contato com o mundo exterior e submetidos ao autoritarismo de Fritzl, preocupa as autoridades.
"Olha só para isso, é uma área residencial", disse Sabine Ilk, observando a vizinhança de casas claras, com jardins bem cuidados, enquanto os peritos em uniformes brancos vasculhavam a casa coletando evidências. "Cresci em Amstetten; é inacreditável que ninguém soubesse o que estava acontecendo por todos esses anos."
"É como o caso Kampusch, mas muito pior", disse o aposentado Joachim Wasser, 75. Natascha Kampusch, seqüestrada aos dez anos em Viena, foi mantida por oito anos no porão de Walfgang Priklopil, em um subúrbio da capital. Priklopil era parente distante de Natascha e suicidou-se horas após a fuga da jovem, em 2006.


Com agências internacionais

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