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Senador republicano adere a Obama
Depois de 43 anos, Arlen Specter muda de partido e deixa presidente democrata perto de controle absoluto do Congresso
Presidente entra no 100º dia menos dependente da oposição para passar leis polêmicas; supermaioria depende de disputa judicial
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Na véspera de completar 100
dias no poder, o presidente democrata Barack Obama ganhou
um presente que pode lhe dar a
"supermaioria" no Senado, ou
seja, 60 dos 100 votos -o que
impede manobras regimentais
da oposição republicana para
emperrar as votações de leis
mais polêmicas.
Na tarde de ontem, Arlen
Specter, senador republicano
pelo Estado de Pensilvânia,
anunciou que concorrerá à reeleição em 2010 pelo partido do
presidente. Moderado, o político de 79 anos, 43 dos quais no
Partido Republicano, já vinha
rompendo a orientação da oposição e havia votado com a situação em pelo menos uma situação, na aprovação do pacote
de estímulo de Obama.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, a mudança de partidos no Congresso americano
é rara, embora o próprio Specter tenha sido democrata entre
1948 e 1965. Apesar da pluralidade de legendas, o sistema é
bipartidário de fato, com os
dois partidos majoritários, Democrata e Republicano, dominando a maioria das cadeiras.
Obama já contava com a
maioria tanto na Câmara dos
Representantes (deputados federais) como no Senado, mas
esta era frágil no segundo caso.
Agora, se a contestada vitória
do democrata Al Franken for
confirmada pela Suprema Corte de Minnesota, o que analistas preveem que aconteça em
junho, o presidente terá votos
suficientes para passar suas
medidas mais polêmicas.
Uma delas é uma ampla reforma no sistema de saúde pública, que encontra resistência
dos republicanos. Outra são aspectos importantes do Orçamento de 2010, cujo esboço foi
aprovado pelas duas Casas com
modificações e que tem de virar
lei até setembro.
Pesquisas
Specter não fez o anúncio para adoçar a celebração dos 100
dias de Obama, que começa hoje com uma viagem ao Missouri, em que ele realiza um encontro com a população local, e
culmina com uma entrevista
coletiva na Casa Branca, a ser
transmitida em rede nacional.
O ex-republicano vinha se
encontrando reservadamente
com representantes democratas, mas só decidiu de vez virar
a casaca após receber pesquisas
de intenção de voto em seu Estado para a corrida de 2010, que
renova parte do Senado. Nelas,
ele aparecia perdendo a vaga
nas primárias republicanas.
Ainda assim, o anúncio de
Specter agrava ainda mais a crise dos republicanos, que estão
em busca de um norte desde a
acachapante derrota de novembro, em que perderam a
Presidência, o Congresso e a
maior parte dos 50 governos
estaduais. Ao anunciar sua saída, o veterano político de Pensilvânia culpou a guinada à direita dada por seu ex-partido.
A reação negativa foi imediata por parte de seus ex-pares.
"Isso só tem a ver com o senso
de autopreservação política de
Specter", disse o texano John
Cornyn, presidente do comitê
de senadores republicanos.
"Ele sabia que seria difícil
vencer as primárias republicanas e, como não estava pronto
para desistir da vida política,
desistiu de seu partido."
Specter avisou, no entanto,
que não será o 60º voto democrata automaticamente.
"Quando o Partido Democrata
exigir muito de mim" ideologicamente, disse, "não vou votar
com ele". Disse que ilustraria
sua posição de independência
ao votar contra a legislação trabalhista atualmente em discussão, que facilita a capacidade de
organização dos sindicatos.
Obama soube da mudança
durante uma reunião, na qual
recebeu um papel de um assessor que dizia que Specter mudara de lado. Minutos depois,
ligou ao senador, disse que ele
contava com seu apoio e prometeu fazer campanha para ele
em seu Estado em 2010.
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