São Paulo, quarta-feira, 29 de abril de 2009

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Senador republicano adere a Obama

Depois de 43 anos, Arlen Specter muda de partido e deixa presidente democrata perto de controle absoluto do Congresso

Presidente entra no 100º dia menos dependente da oposição para passar leis polêmicas; supermaioria depende de disputa judicial

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Na véspera de completar 100 dias no poder, o presidente democrata Barack Obama ganhou um presente que pode lhe dar a "supermaioria" no Senado, ou seja, 60 dos 100 votos -o que impede manobras regimentais da oposição republicana para emperrar as votações de leis mais polêmicas.
Na tarde de ontem, Arlen Specter, senador republicano pelo Estado de Pensilvânia, anunciou que concorrerá à reeleição em 2010 pelo partido do presidente. Moderado, o político de 79 anos, 43 dos quais no Partido Republicano, já vinha rompendo a orientação da oposição e havia votado com a situação em pelo menos uma situação, na aprovação do pacote de estímulo de Obama.
Diferentemente do que ocorre no Brasil, a mudança de partidos no Congresso americano é rara, embora o próprio Specter tenha sido democrata entre 1948 e 1965. Apesar da pluralidade de legendas, o sistema é bipartidário de fato, com os dois partidos majoritários, Democrata e Republicano, dominando a maioria das cadeiras.
Obama já contava com a maioria tanto na Câmara dos Representantes (deputados federais) como no Senado, mas esta era frágil no segundo caso. Agora, se a contestada vitória do democrata Al Franken for confirmada pela Suprema Corte de Minnesota, o que analistas preveem que aconteça em junho, o presidente terá votos suficientes para passar suas medidas mais polêmicas.
Uma delas é uma ampla reforma no sistema de saúde pública, que encontra resistência dos republicanos. Outra são aspectos importantes do Orçamento de 2010, cujo esboço foi aprovado pelas duas Casas com modificações e que tem de virar lei até setembro.

Pesquisas
Specter não fez o anúncio para adoçar a celebração dos 100 dias de Obama, que começa hoje com uma viagem ao Missouri, em que ele realiza um encontro com a população local, e culmina com uma entrevista coletiva na Casa Branca, a ser transmitida em rede nacional.
O ex-republicano vinha se encontrando reservadamente com representantes democratas, mas só decidiu de vez virar a casaca após receber pesquisas de intenção de voto em seu Estado para a corrida de 2010, que renova parte do Senado. Nelas, ele aparecia perdendo a vaga nas primárias republicanas.
Ainda assim, o anúncio de Specter agrava ainda mais a crise dos republicanos, que estão em busca de um norte desde a acachapante derrota de novembro, em que perderam a Presidência, o Congresso e a maior parte dos 50 governos estaduais. Ao anunciar sua saída, o veterano político de Pensilvânia culpou a guinada à direita dada por seu ex-partido.
A reação negativa foi imediata por parte de seus ex-pares. "Isso só tem a ver com o senso de autopreservação política de Specter", disse o texano John Cornyn, presidente do comitê de senadores republicanos.
"Ele sabia que seria difícil vencer as primárias republicanas e, como não estava pronto para desistir da vida política, desistiu de seu partido."
Specter avisou, no entanto, que não será o 60º voto democrata automaticamente. "Quando o Partido Democrata exigir muito de mim" ideologicamente, disse, "não vou votar com ele". Disse que ilustraria sua posição de independência ao votar contra a legislação trabalhista atualmente em discussão, que facilita a capacidade de organização dos sindicatos.
Obama soube da mudança durante uma reunião, na qual recebeu um papel de um assessor que dizia que Specter mudara de lado. Minutos depois, ligou ao senador, disse que ele contava com seu apoio e prometeu fazer campanha para ele em seu Estado em 2010.


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