São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Sem licença, RCTV quer virar canal a cabo

Emissora venezuelana cuja concessão foi suspensa por Chávez está fora do ar desde ontem; protestos deixam seis feridos

Presidente do grupo que controla o canal de TV diz, porém, que governo está pressionado empresas de cabo a boicotar a RCTV

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Fora do ar desde a 0h de ontem, a emissora RCTV pretende voltar a transmitir por cabo "em breve" caso o governo não imponha entraves, disse o diretor-geral da TV Globovisión, Alberto Federico Ravell.
Ontem os protestos contra o fim da concessão entraram no terceiro dia. Houve novos confrontos, com um saldo de pelo menos seis feridos. Dois estudantes foram baleados e estão em estado grave. "Se o governo não impedir, não impuser travas, a RCTV sairá por todos os serviços de TV a cabo em breve", disse Ravell à Folha.
O empresário disse que a Globovisión, que transmite apenas por cabo na maior parte do país, ajudará a RCTV a voltar ao ar com apoio técnico. "A primeira ajuda que estamos dando é espaço para tudo que tem acontecido, mas na área da empresa podemos colaborar com a transmissão."
O governo tem dito que o fim da concessão é apenas para o sinal livre e que não se oporá à transmissão por cabo. "Não estamos fechando o canal, estamos deixando de renovar uma concessão do Estado", segundo o ministro das Comunicações, Willian Lara. Já o presidente do grupo empresarial 1BC, que controla a RCTV, Marcel Granier, disse anteontem que, "apesar de o governo sugerir que podemos usar cabo ou satélite, pressiona as empresas de cabo para nos tirar do ar".
Desde as 0h19 de ontem o canal 2 é ocupado pelo novo canal estatal Tves. Criada no improviso, a Tves passou quase todo o dia de ontem transmitindo "enlatados", como programa de ginástica e desenhos infantis com problemas de dublagem. Seu noticiário deve estrear hoje. Para as 21h estava prevista a estréia da novela argentina "Padre Corage", que substituirá o maior sucesso da RCTV, o folhetim "Mi Prima Ciela". Já a RCTV, que encerrou as transmissões com o hino nacional cantado por funcionários, transmitiu ontem de manhã seu tradicional programa informativo "O Observador" por sites da internet, enfatizando a onda de protestos registrada anteontem em Caracas.
Estudantes universitários saíram ontem às ruas de Caracas e de outras cidades do país para protestar contra o governo Chávez. Houve confrontos com forças de segurança e com supostos militantes chavistas. O incidente mais grave ocorreu em Valencia (noroeste). Segundo o ministro do Interior, Pedro Carreño, quatro pessoas foram baleadas em dois centros universitários.
Segundo a imprensa local, foram seis feridos, dos quais dois estudantes baleados que correm risco de morte. Os relatos atribuem os disparos a supostos militantes chavistas.
Em Caracas, estudantes de três universidades realizaram protestos. A Polícia Metropolitana tentou dispersar com gás lacrimogêneo ao menos duas manifestações, sob a alegação de que não havia autorização.
Na maior manifestação na capital estudantes universitários comandaram um protesto que chegou a reunir alguns milhares no final da tarde. Também houve confrontos com a Polícia Metropolitana no local. Quatro jornalistas da emissora Venevisíon, do magnata Gustavo Cisneros, se uniaram ao protestos dos estudantes. A Folha apurou que um grupo de funcionários convocou reunião ontem com os diretores para protestar contra a linha editorial do canal, que vem dando pouco destaque aos protestos.
A Procuradoria venezuelana disse ontem que levará ao tribunal 15 pessoas detidas no domingo durante manifestações.

Brasil
O governo brasileiro considerou a decisão uma questão interna da Venezuela, evitando se pronunciar oficialmente a respeito do tema. Procurado ontem, o Itamaraty informou apenas que o governo brasileiro não deveria se manifestar sobre o assunto. O Palácio do Planalto recusou-se ontem a comentar a decisão de Chávez. Segundo a Secretaria de Imprensa da Presidência do Brasil, "trata-se de assunto de política interna do governo da Venezuela".


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