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Sem licença, RCTV quer virar canal a cabo
Emissora venezuelana cuja concessão foi suspensa por Chávez está fora do ar desde ontem; protestos deixam seis feridos
Presidente do grupo que controla o canal de TV diz, porém, que governo está pressionado empresas de cabo a boicotar a RCTV
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Fora do ar desde a 0h de ontem, a emissora RCTV pretende voltar a transmitir por cabo
"em breve" caso o governo não
imponha entraves, disse o diretor-geral da TV Globovisión,
Alberto Federico Ravell.
Ontem os protestos contra o
fim da concessão entraram no
terceiro dia. Houve novos confrontos, com um saldo de pelo
menos seis feridos. Dois estudantes foram baleados e estão
em estado grave. "Se o governo
não impedir, não impuser travas, a RCTV sairá por todos os
serviços de TV a cabo em breve", disse Ravell à Folha.
O empresário disse que a
Globovisión, que transmite
apenas por cabo na maior parte
do país, ajudará a RCTV a voltar ao ar com apoio técnico. "A
primeira ajuda que estamos
dando é espaço para tudo que
tem acontecido, mas na área da
empresa podemos colaborar
com a transmissão."
O governo tem dito que o fim
da concessão é apenas para o
sinal livre e que não se oporá à
transmissão por cabo. "Não estamos fechando o canal, estamos deixando de renovar uma
concessão do Estado", segundo
o ministro das Comunicações,
Willian Lara. Já o presidente
do grupo empresarial 1BC, que
controla a RCTV, Marcel Granier, disse anteontem que,
"apesar de o governo sugerir
que podemos usar cabo ou satélite, pressiona as empresas
de cabo para nos tirar do ar".
Desde as 0h19 de ontem o canal 2 é ocupado pelo novo canal
estatal Tves. Criada no improviso, a Tves passou quase todo
o dia de ontem transmitindo
"enlatados", como programa
de ginástica e desenhos infantis com problemas de dublagem. Seu noticiário deve estrear hoje. Para as 21h estava
prevista a estréia da novela argentina "Padre Corage", que
substituirá o maior sucesso da
RCTV, o folhetim "Mi Prima
Ciela". Já a RCTV, que encerrou as transmissões com o hino
nacional cantado por funcionários, transmitiu ontem de manhã seu tradicional programa
informativo "O Observador"
por sites da internet, enfatizando a onda de protestos registrada anteontem em Caracas.
Estudantes universitários
saíram ontem às ruas de Caracas e de outras cidades do país
para protestar contra o governo Chávez. Houve confrontos
com forças de segurança e com
supostos militantes chavistas.
O incidente mais grave ocorreu
em Valencia (noroeste). Segundo o ministro do Interior, Pedro Carreño, quatro pessoas
foram baleadas em dois centros universitários.
Segundo a imprensa local,
foram seis feridos, dos quais
dois estudantes baleados que
correm risco de morte. Os relatos atribuem os disparos a supostos militantes chavistas.
Em Caracas, estudantes de
três universidades realizaram
protestos. A Polícia Metropolitana tentou dispersar com gás
lacrimogêneo ao menos duas
manifestações, sob a alegação
de que não havia autorização.
Na maior manifestação na
capital estudantes universitários comandaram um protesto
que chegou a reunir alguns milhares no final da tarde. Também houve confrontos com a
Polícia Metropolitana no local.
Quatro jornalistas da emissora
Venevisíon, do magnata Gustavo Cisneros, se uniaram ao protestos dos estudantes. A Folha
apurou que um grupo de funcionários convocou reunião
ontem com os diretores para
protestar contra a linha editorial do canal, que vem dando
pouco destaque aos protestos.
A Procuradoria venezuelana
disse ontem que levará ao tribunal 15 pessoas detidas no domingo durante manifestações.
Brasil
O governo brasileiro considerou a decisão uma questão
interna da Venezuela, evitando
se pronunciar oficialmente a
respeito do tema. Procurado
ontem, o Itamaraty informou
apenas que o governo brasileiro
não deveria se manifestar sobre
o assunto. O Palácio do Planalto recusou-se ontem a comentar a decisão de Chávez. Segundo a Secretaria de Imprensa da
Presidência do Brasil, "trata-se
de assunto de política interna
do governo da Venezuela".
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