São Paulo, quinta-feira, 29 de maio de 2008

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Ministro da Defesa pede a saída de premiê israelense

Ameaça de Barak de retirar apoio ameaça coalizão; Olmert é investigado por corrupção

Chefe de governo diz que não vai renunciar; posto iria para Tzipi Livni em caso de licença; em eleição, o Likud, de direita, levaria vantagem

DA REDAÇÃO

Uma nova tempestade política se abateu ontem sobre Israel, com o apelo do ministro da Defesa e líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak, para que o primeiro-ministro Ehud Olmert se afaste do cargo, em razão de suspeitas de corrupção.
Os trabalhistas são os principais aliados do Kadima, partido de Olmert, na frágil coalizão israelense. Barak, ele próprio um ex-premiê, disse em entrevista que, caso Olmert não renuncie ou se licencie, seu partido abandonaria o governo para forçar a antecipação das eleições previstas para 2010.
Em 2006, depois da desastrada campanha militar israelense contra o grupo islâmico Hizbollah, no sul do Líbano, Barak também havia pedido publicamente o afastamento de Olmert e ameaçado retirar o apoio dos trabalhistas. A ameaça foi em seguida esquecida.
Ontem Olmert declarou que "alguém sendo investigado não deve necessariamente renunciar". Pouco antes, dois de seus auxiliares reiteravam que ele não tinha a intenção de deixar seu posto. Tal Silberstein, assessor em estratégia, disse que ele permaneceria no governo e que a entrevista de Barak "em nada mudou os planos dele".
Por sua vez, o porta-voz Mark Regev disse que "o premiê está convencido de que, conforme o inquérito policial for avançando, ficará claro que ele nada fez de errado".
Olmert já sofreu cinco investigações desde que assumiu a chefia do governo, em janeiro de 2006. A última delas é por corrupção eleitoral. Anteontem o milionário americano Morris Talansky disse em depoimento ter entregue a Olmert US$ 150 mil em espécie quando ele era prefeito de Jerusalém ou ministro da Indústria e Comércio. Também comentou os hábitos fúteis e luxuosos do então amigo.
Mesmo sem comprovar tráfico de influência -Talansky disse nada ter recebido em troca-, o episódio denegriu ainda mais a imagem do premiê. O jornal "Yediot Ahronot" qualificou as novidades de "nojentas".
O clima é francamente desfavorável a Olmert. Um canal de TV informou que sua ex-chefe de gabinete Shula Zaken havia concordado em depor contra ele em troca de imunidade judicial. A assessoria de Olmert desmentiu a informação.

Cenários para a crise
O enfraquecimento de Olmert deixa abertos alguns roteiros caso ele não consiga se manter no cargo. Ele poderia se afastar temporariamente da chefia do governo. Sendo esse o caso, seria substituído por Tzipi Livni, vice-premiê e ministra das Relações Exteriores. Já se o afastamento for definitivo, o Kadima indicaria um novo dirigente, situação em que Livni precisaria disputar internamente o cargo. O general da reserva Shaul Mofaz seria um de seus adversários.
Se ocorrerem eleições antecipadas, o Likud -partido da direita do qual são originários Olmert e seu padrinho político, o ex-premiê Ariel Sharon, em coma há dois anos e meio- é o favorito nas pesquisas. O líder do partido, Benjamin Netanyahu, voltaria à chefia do governo.
Ainda no campo das hipóteses, o Likud precisaria se aliar a pequenos partidos religiosos da direita, que descartam qualquer devolução de terras aos palestinos e à Síria, comprometendo assim duas frentes de negociação em que Olmert está vagarosamente empenhado.
Os Estados Unidos reagiram com cautela ao novo episódio da crise israelense. O porta-voz do Departamento de Estado Tom Casey disse que não opinaria sobre a política interna de Israel e que Washington permanecia empenhada para que aquele país chegasse a um acordo de paz com os palestinos.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, qualificou a ameaça de Barak de questão de política doméstica israelense. Mas seus assessores disseram que ele temia os efeitos de uma possível queda de Olmert.


Com agências internacionais


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