São Paulo, sábado, 29 de maio de 2010

Texto Anterior | Índice

63% da população venezuelana rejeita nacionalizações

Pesquisa diz ainda que 51% dos eleitores votariam em qualquer um que não fosse Chávez no pleito de 2012

Levantamento é mais uma mostra de que a popularidade do líder vem sendo duramente afetada por crise no país

ENVIADA A BOGOTÁ

Para 63% da população venezuelana, as nacionalizações de empresas -compras compulsórias pelo Estado- ou expropriações de companhias ou terras pelo governo Hugo Chávez são ruins para o desenvolvimento do país, segundo pesquisa do instituto Alfredo Keller e Associados divulgada nesta semana.
Ainda segundo a pesquisa, com entrevistas feitas entre abril e maio, 27% dos venezuelanos dizem que uma das desvantagens das nacionalizações é que elas provocam escassez de produtos.
O respeitado instituto Datanalisis também aponta, segundo seu diretor Luis Vicente León, que 50,9% acreditam que as expropriações piorarão o desabastecimento, contra só 13,8% que creem o contrário. O levantamento da empresa, feito para clientes privados, não foi divulgado na íntegra.
A combinação de resultados não é boa para o presidente Hugo Chávez, que intensificou neste ano nacionalizações e expropriações de empresas fabricantes de alimentos -como usinas de açúcar e fábricas de farinha de milho, entre outros- e ainda nacionalizou uma rede de supermercados francesa.
Chávez amarga uma dura conjuntura econômica com mescla de recessão -o PIB recuou 5,8% no primeiro trimestre desde ano- com inflação, com alta de 5,2% só em abril.
A queda da economia pelo quarto trimestre consecutivo, em contraste com a recuperação da região, se deve, entre outros fatores, segundo o Banco Central da Venezuela, à crise energética, à redução do consumo e investimentos privados e à falta de divisas no mercado.
O governo enfrenta crise no mercado de dólar paralelo, que abastece o rarefeito mercado de divisas. Caracas anunciou mudanças no tipo de câmbio na semana passada, mas até agora o mercado segue paralisado.

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS
A reação do presidente tem sido minimizar a crise e intensificar o discurso contra a propriedade privada. Na quarta, após a divulgação do PIB, Chávez disse que o resultado era "o velório do capitalismo", mas bom para a transição da economia venezuelana ao socialismo.
A aposta de Chávez de redobrar os ataques retóricos acontece a poucos meses das eleições legislativas de setembro, quando o governismo tentará manter o domínio da nova Assembleia.
Para analistas, o presidente venezuelano arrisca-se a perder os votos dos chamados ni-ni (nem chavistas nem antichavistas). Ele ainda é forte entre os pobres, mais castigados pela inflação.
Segundo a pesquisa Keller e Associados, 32% dos venezuelanos dizem que vão votar no chavismo em setembro, ante 25% que pretendem apoiar a oposição. Não desprezíveis 22% afirmam que votarão em independentes -ligados à oposição, sublinha a pesquisa.
O estudo também pergunta sobre a eleição presidencial de 2012, e 51% dizem que votarão em qualquer candidato que não seja Chávez.
Luis Vicente León afirma que os seus levantamentos também registram queda de popularidade de Chávez, mas reitera que essa queda ainda não conseguiu ser capitalizada por nenhuma liderança da oposição.
"Quanto mais agressivo for o ideólogo, mais estímulos há para o surgimento de uma oferta alternativa. Se ela surge ou não, é outro tema", escreveu León em sua página no Twitter.
(FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.