São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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Egito abre fronteira para a passagem de palestinos em Gaza

Bloqueio imposto em 2007 impedia circulação de cerca de 1,5 milhão no território, agravando crise econômica

"É o primeiro fruto da Primavera Árabe para os palestinos", diz líder do Hamas; revolução egípcia levou à inflexão

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Após quatro anos de bloqueio, a faixa de Gaza ganhou ontem uma válvula de escape, com a abertura permanente à passagem de pessoas na fronteira com o Egito.
Segundo dados do Ministério do Interior, 404 pessoas fizeram a travessia ontem. Nos últimos anos, o limite diário permitido era de 300.
Embora a medida adotada pelo governo egípcio ainda mantenha restrições, como a exigência de visto para homens entre 18 e 40 anos, os palestinos comemoraram a abertura como uma bem-vinda rachadura no isolamento vivido desde 2007, quando o grupo islâmico Hamas assumiu o controle de Gaza.
Sentado na primeira fila do primeiro ônibus que entrou no Egito com a abertura do grande portão de ferro, pontualmente às 9h (hora do Egito), o vendedor de carros Youssef Shani, 56, personificava a ansiedade que dominava os palestinos.
"Só acredito quando estiver do outro lado", disse, ao lado do filho, da mulher e da filha adolescente, ambas usando o niqab, máscara muçulmana que deixa apenas os olhos à mostra.
O ceticismo de Youssef se explica pela ambivalência do governo egípcio em relação a Gaza desde 2007, quando anúncios de relaxamento das restrições foram seguidamente revertidos.
A política egípcia em relação ao território sofreu uma reviravolta em fevereiro com a renúncia do ditador Hosni Mubarak, que via o Hamas como uma força hostil e, por isso, cooperava com o bloqueio imposto por Israel.
"Este é o primeiro fruto da Primavera Árabe para os palestinos", disse à Folha Ghazi Hamad, vice-chanceler do Hamas e responsável pelas negociações com o Egito.
A abertura significa um alívio no bloqueio que impedia a saída da vasta maioria do 1,5 milhão de palestinos residentes em Gaza e contribuiu para a grave crise econômica no território.
A medida foi oferecida ao Hamas pela junta militar que governa o Egito como forma de estimular o acordo de reconciliação palestina firmado entre o grupo islâmico e o secular Fatah, há um mês.
Hamad rechaçou a preocupação manifestada pelo governo israelense de que a abertura da passagem facilitará a saída de terroristas e a entrada de armas em Gaza.
"Israel deve manter-se fora de nossos assuntos", disse. "Sempre cumprimos a lei internacional na fronteira, onde jamais houve tráfico. Isso não mudará".
Segundo Hamad, está sendo negociada com o Egito a abertura permanente da fronteira para o fluxo de bens, embora ainda não haja uma data prevista.
Com a imposição do bloqueio, surgiu uma vasta rede de túneis sob a fronteira entre Gaza e o Egito, por onde passa de tudo, de materiais de construção a carros zero quilômetro, e até pessoas.
O Hamas, que controla os túneis e cobra um imposto pelo seu uso, admite que armas também entram pelas passagens subterrâneas. Alegria de uns, tristeza de quem vive da indústria dos túneis.
"Muita gente ficará sem trabalho se a fronteira for totalmente aberta", lamentava Jamal el Shaar, que administra um dos túneis.


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