São Paulo, domingo, 29 de maio de 2011

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A ressurreição do FMI

Desembolsos do Fundo aumentaram mais de 60 vezes em 3 anos; maioria dos programas beneficia economias em dificuldade na Europa

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

O Fundo Monetário Internacional que agora decide o sucessor de Dominique Strauss-Kahn passou por uma reviravolta desde que o francês assumiu a instituição, em 2007.
A crise de 2008, marcada pelo colapso de bancos americanos e europeus, provocou uma mudança na carteira e no modo de operação que caracterizaram o FMI nos 30 anos anteriores.
Os desembolsos do Fundo, que em 2007 haviam baixado a um irrelevante US$ 1,5 bilhão, aumentaram mais de 60 vezes em três anos. Mais de 60% do valor dos programas hoje em vigor beneficia países da Europa com dificuldade para financiar sua dívida pública.
A África ainda tem o maior número de países (23) sob planos do Fundo, mas seu valor é só 1,9% do total, menos do que a participação do continente no PIB do mundo (2,9%).
A situação contrasta com a existente entre os anos 80 e a virada do milênio, quando os maiores clientes eram países de renda média, entre eles o Brasil, agora credor do FMI.
Naquele período, economias em desenvolvimento foram as mais atingidas pela crise da dívida externa -precipitada em 1979 pelo aumento dos juros americanos- e pela desvalorização forçada das moedas do México (1995) e da Ásia (1998).
A mudança no perfil da clientela, causada também pelo aumento do peso econômico da China e outros emergentes, não foi única. A constatação de que finanças desreguladas estiveram na origem da quebra bancária de 2008 abriu caminho para uma revisão parcial no pensamento do FMI.
Em vez de uma receita padrão -que nos anos 90 incluía liberalização financeira e privatizações-, as condições para os empréstimos passaram a ser menos rígidas (exceto nos pacotes europeus, influenciados pela ortodoxia alemã). Foi criada uma linha de crédito flexível, que põe dinheiro à disposição sem precondições.
A recente admissão do Fundo de que controles dos fluxos de capital podem ser úteis para evitar oscilações abruptas das moedas nacionais foi uma espécie de retorno às origens.
Quando o FMI foi criado nos acordos de Bretton Woods (1944), sua prioridade era evitar a volatilidade das taxas de câmbio e os consequentes desequilíbrios das contas correntes (saldo de todo o dinheiro que entra e sai de um país).
Esse sistema terminou em 1971, quando os EUA, pressionados por deficits externo e interno, abandonaram a paridade fixa entre o dólar e o ouro. Ao condicionar a emissão da moeda internacional de reserva -o dólar- a essa paridade, o objetivo de Bretton Woods tinha sido tornar as finanças globais mais estáveis.


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