São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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Iraquianos reagem com ceticismo

DA REDAÇÃO

Quase 6 em cada 10 iraquianos (59%) acreditam que a coalizão internacional liderada pelos EUA estava errada ao invadir o Iraque, mas metade acha que a coisa que seu país mais precisa nos próximos cinco anos é democracia, de acordo com uma pesquisa de opinião divulgada ontem.
Apesar de um grande descontentamento com as forças da coalizão, quase 60% da população tem a opinião de que os EUA, se quiserem que o governo interino tenha sucesso, devem ajudar na reconstrução do Iraque.
A pesquisa detectou um compromisso com a democracia, mas alguma confusão sobre como alcançá-la em um país instável e dividido, muitas vezes com violência, entre sunitas, xiitas e curdos.
"Os iraquianos sabem o que querem para seu futuro: democracia. Para eles, significa liberdade, justiça, igualdade. Eles apenas não sabem como chegar lá", disse Christoph Sahm, diretor do instituto britânico Oxford Research International, que fez a pesquisa.
Indagados sobre como a vida mudou desde a queda de Saddam Hussein, 44% dos iraquianos disseram que estava muito melhor ou melhor, 32% afirmaram que estava a mesma coisa, e cerca de 25% declararam que estava muito pior ou pior.
Para a grande maioria, 84%, a principal prioridade do Iraque deve ser a segurança pública.
Mais de 80% dizem que não têm confiança nas forças americanas e britânicas -apenas 42% dão apoio à sua presença no Iraque. Somente 28% caracterizam os soldados americanos e britânicos como libertadores ou pacificadores -72% os definem como ocupantes ou exploradores.
No entanto somente um terço da população quer que as tropas saiam agora. "Os iraquianos são pragmáticos. Um iraquiano me disse: "Queremos que as tropas sejam como o vento. Queremos senti-las, mas não queremos vê-las nas ruas'", afirmou Sahm.
Os pesquisadores entrevistaram 3.002 iraquianos entre os dias 19 de maio e 14 de junho. Não foi informada a margem de erro.

Ceticismo
A devolução formal da "soberania" foi tão inesperada que na loja de computadores de Ahmed al Ansary, em Bagdá, a notícia só chegou no meio da tarde, trazida por alguns clientes.
"[O chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, Paul] Bremer foi embora, mas os cordões amarrados no novo governo são muito compridos. Eles podem ser puxados de Washington", disse Ashjan al Akuli, que estava na loja.
Harith Anvar, dono de uma livraria, observou que nada mudou por enquanto. "Os próximos dias dirão se foi bom ou ruim. Temos de ver qual é a diferença. O governo tem de melhorar o básico: eletricidade, água, trânsito. Se conseguirmos isso, vamos apoiar os políticos", disse.
O comerciante Hussein Abdul-Wahid disse que "foi bom fazer a devolução com dois dias de antecedência", porque a manobra confundirá "todos os que quiserem estragar isso". "Isso é o que Saddam costumava fazer. Ele fazia surpresas dessas para frustrar seus inimigos", afirmou.
Mowaffak Noori, técnico em informática, também elogiou a ação. "Foi bastante esperto. Os americanos realmente entenderam a mentalidade aqui."
Apesar disso, ele manifesta alguma preocupação: "Nós simplesmente não sabemos quem nossos líderes são. Quem é Iyad Allawi? Não sabemos quais os objetivos dos EUA aqui. Eles querem que o país e a região sejam estáveis ou não?".


Com agências internacionais e o jornal "The New York Times"


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