São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Confrontos de rua voltam a agitar capital de Timor

Saqueadores, partidários e adversários de ex-premiê queimam casas e lojas

Mari Alkatiri acusa oposição de "destruir" Dili e convoca seus partidários a irem às ruas no país, onde 150 mil já fugiram de casa por medo


DA REDAÇÃO

Partidários e adversários de Mari Alkatiri, primeiro-ministro de Timor Leste que renunciou sob pressão segunda-feira, enfrentaram-se ontem em Dili, capital da ex-colônia portuguesa. Cerca de 20 casas e seis lojas foram incendiadas por partidários do ex-premiê, que se misturaram a grupos de saqueadores sem motivação política.
Foi o dia mais violento nas últimas três semanas no pequeno país asiático de 1 milhão de habitantes, independente desde 2002 e que atravessa sua pior crise interna.
Os ânimos se acirraram após o pronunciamento que Alkatiri fez anteontem à noite pela emissora pública de televisão.
Em tom inflamado, acusou genericamente seus opositores pela "destruição de Dili, incêndios e saques". Também lançou um apelo aos seus 1.200 partidários, acampados em Metinaro, a 40 km da capital, para que manifestassem em defesa da Fretilin, partido do qual é dirigente e que tem 55 das 88 cadeiras do Parlamento.
Apesar de uma tentativa de bloqueio por soldados neozelandeses, que integram as forças internacionais de paz, os partidários de Alkatiri chegaram em caminhões e passaram ao confronto com centenas de adversários do ex-premiê.
Estes, sobretudo do oeste do país, autodenominam-se Frente Nacional Justiça e Paz e são liderados pelo major Alves Tara, que ao fim da noite anunciou à agência Lusa estar se retirando de Dili a pedido do presidente Xanana Gusmão.
Ninguém morreu, mas há dezenas de feridos, e entre 13 e 20 pessoas foram detidas.
O pior incidente aconteceu na zona portuária de Dili, numa praça chamada jardim dos Heróis, onde saqueadores, desta vez atuando ao lado de adversários de Alkatiri, atacaram o campo que abriga parte dos 150 mil refugiados timorenses. O grupo enfrentou com pedras soldados australianos.
O mesmo grupo cercou as dependências da TV pública timorense. Ameaçou e feriu jornalistas. A emissora saiu do ar e só voltará a funcionar com condições mínimas de segurança.
A TV australiana acredita que os incidentes não devam se repetir hoje, já que partidários e adversários de Alkatiri haviam deixado Dili ao anoitecer.
A crise é agora política. O presidente Xanana Gusmão ainda não se reuniu com a Fretilin para que ela indique o novo premiê, disse à Agência Lusa a número dois do governo demissionário, Ana Pessoa, cujo nome é cogitado para chefiar o novo gabinete.
Gusmão disse na terça à noite que uma das alternativas seria dissolver o Parlamento e antecipar as eleições legislativas do ano que vem. O ministro demissionário da Defesa e das Relações Exteriores, José Ramos Horta, Nobel da Paz de 1996, disse que apenas em caso extremo aceitaria o cargo de premiê.


Com agências internacionais

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