São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

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Irã prende 8 britânicos por "ingerência"

Funcionários da Embaixada do Reino Unido são acusados de incitar protestos, mas um número indefinido deles é solto depois

Londres nega as acusações; no norte de Teerã, reduto de líder opositor, 3.000 pessoas fazem novo protesto contra resultado do pleito do dia 12

DA REDAÇÃO

Alegando ingerência em assuntos domésticos, o Irã deteve ontem, e depois soltou, funcionários da Embaixada do Reino Unido. No norte da capital, Teerã, foi registrado o primeiro grande protesto de opositores em quase uma semana, com confronto entre forças de segurança e manifestantes.
Segundo a imprensa oficial iraniana, foram oito os funcionários detidos, e um número não especificado deles foi posteriormente libertado. "Temos fotos e vídeos de empregados da embaixada britânica nas manifestações", afirmou o ministro da Inteligência iraniano, Gholam Husein Mohseni Ejei.
O ministro das Relações Exteriores britânico, David Miliband, disse que "cerca de nove" pessoas haviam sido presas.
Para ele, as detenções pelo Irã são "uma intimidação inaceitável". "A ideia de que a embaixada esteja de alguma forma por trás dos protestos que têm ocorrido em Teerã é completamente sem fundamento."
Já o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, qualificou ontem de "absurdo" o comunicado do G8 (sete países mais industrializados e a Rússia), divulgado na última sexta, condenando a violência pós-eleições no país. Para o líder, são "comentários idiotas".
As relações entre Teerã e Londres vêm se deteriorando há uma semana, quando o Irã expulsou dois diplomatas britânicos e disse estudar rebaixar os laços diplomáticos com o Reino Unido. Londres também expulsou dois diplomatas iranianos em retaliação.
O governo iraniano acusa o país de incitar a onda de protestos que tomou conta do país desde o pleito do dia 12, em que o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi anunciado vencedor em condições consideradas suspeitas pela oposição liderada por Mir Hossein Mousavi.
De acordo com números oficiais, o presidente ultraconservador obteve 62,7% dos votos, contra 33% de Mousavi. Mais de 80% dos eleitores votaram.
Os protestos arrefeceram porém desde que Ali Khamenei respaldou reiteradas vezes o resultado, assim como o Conselho dos Guardiães -máxima instância constitucional-, e recrudesceu o cerco à oposição.
No protesto de ontem, segundo relatos, cerca de 3.000 pessoas transformaram um tradicional evento religioso no norte da capital -reduto de Mousavi- em ato da oposição. Eles foram dispersados pelas forças de segurança no local com balas de gás lacrimogêneo.
Ontem se esgotou também o prazo para os opositores apresentarem acusações de irregularidades na eleição. Mousavi, porém, voltou a desafiar o governo e recusou participar de comissão que investigará 10% das urnas. O opositor disse, em site na internet, que não recuará. Mousavi exige nova votação.
David Axelrod, um dos principais assessores do presidente dos EUA, Barack Obama, disse que as acusações de Ahmadinejad contra o país durante a semana são destinadas ao público interno. Para ele, ainda é possível a reaproximação que a nova Casa Branca vem buscando.


Com agências internacionais


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