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Movimentos são muito distintos, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A aversão à imigração e o sentimento de viver num "continente
invadido" são os principais aspectos que unem todos os movimentos de extrema direita europeus.
A análise é de Jean Leca, politólogo do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po) e especialista na questão. Para ele, os
movimentos de extrema direita
ainda são muito distintos para defender uma plataforma comum.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu à Folha na
última semana, em São Paulo.
Folha - O que são os movimentos
de extrema direita na Europa hoje?
Jean Leca - Trata-se de diversos
grupos, não de movimentos coerentes e unidos. É verdade que há
aspectos que os unem, mas não
podemos esquecer que também
há enormes diferenças entre eles.
Por exemplo, o único ponto que
unia o líder da extrema direita holandesa assassinado em maio,
Pim Fortuyn, à Frente Nacional
francesa era a idéia de impedir a
entrada de imigrantes na Europa.
Fortuyn era homossexual e defendia os direitos das mulheres.
Muitos elementos de sua ideologia não eram característicos de
uma ideologia fascista tradicional. Ele não era machista nem antifeminista. Sua idéia-chave era a
de que os holandeses deveriam
"retomar o controle do país". Assim, era contrário à imigração e
desconfiava das intenções dos dirigentes da União Européia.
Essa idéia e o sentimento de viver num "continente invadido"
são os principais aspectos que
unem os movimentos de extrema
direita europeus. Invadido por estrangeiros que, para eles, tiraram
as coisas da ordem e provocaram
um sentimento de insegurança.
Eles querem, portanto, restabelecer a ordem e a segurança por
meio de medidas xenófobas.
Folha - Como esse nacionalismo
radical influencia a sociedade?
Leca - Trata-se, em sua maioria,
de países que tiveram colônias,
mas que hoje não são mais grandes potências mundiais. Assim, o
nacionalismo não é mais um elemento de política externa, porém
continua sendo um fator social
importante. Nenhum governo
europeu admite ser nacionalista,
contudo, internamente, os políticos não cansam de lembrar a importância dos valores nacionais.
O nacionalismo social básico está presente da Espanha à Áustria,
da Dinamarca à Itália, inclusive
provocando disputas entre países
europeus, como ilustram os protestos dos caminhoneiros franceses contra seus colegas espanhóis.
Como esse nacionalismo bruto,
quase instintivo, não costumava
fazer parte da plataforma dos partidos de direita, a porta ficou aberta para a extrema direita.
Folha - A direita tenta usar parte
desse discurso para ganhar votos?
Leca - A principal característica
da extrema direita européia é a de
ligar dois temas: atitude repressiva no que se refere à insegurança e
aversão aos estrangeiros. Para os
extremistas, os imigrantes são
responsáveis pela insegurança.
Com isso, para eles, é necessário
pôr fim à imigração.
Por outro lado, a estratégia da
direita tradicional nessa área, que,
às vezes, também é a da esquerda,
consiste em separar os dois temas:
a insegurança e a imigração.
Assim, a direita fala em repressão aos infratores, já que se trata
de um tema importante para seus
eleitores. Todavia somente a extrema direita vê ligação direta entre uma atitude repressora que visa a restaurar o sentimento de segurança da população e a exclusão dos estrangeiros. Trata-se de
um tema delicado, pois os políticos tradicionais sabem que, muitas vezes, a imigração é indispensável por razões demográficas.
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