São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COLÔMBIA

Governo dá salvo-conduto a líderes das AUC em sua primeira visita à Casa

Paramilitar discursa no Congresso

DA REDAÇÃO

Em um discurso inédito no Congresso da Colômbia, o líder máximo do grupo terrorista paramilitar de direita Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), Salvatore Mancuso, pediu ontem a criação de mais zonas de exclusão para prosseguir as negociações de paz com o governo do país.
"Insistimos na instalação de zonas de exclusão em lugares distintos, como Madgalena Medio (centro), o sul de Bolívar (norte), Cundinamarca (centro), os Llanos Orientales ou o norte de Santander (leste)", disse Mancuso.
"As zonas constituem uma forma nova de espaço de negociação social e de proveitosa articulação, onde se pode levar a cabo paralelamente o processo de paz e os acordos políticos com os setores representativos da comunidade local", afirmou.
A visita de Mancuso a Bogotá ao lado de Ernesto Báez e Ramón Isaza, também líderes das AUC, ocorreu em resposta a um convite da Comissão de Paz do Congresso. Os três, que são alvo de pedidos de captura internacional por tráfico de drogas, deixaram a única zona de exclusão autorizada até agora, próxima à aldeia de Santa Fe de Ralito (norte), onde estão concentrados, graças a um salvo-conduto do presidente Álvaro Uribe. O governo foi responsável pela escolta dos três.
Criada nos anos 80 para combater as guerrilhas terroristas das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do ELN (Exército de Libertação Nacional), as AUC foram responsáveis por algumas das piores matanças nas últimas décadas no país. Com mais de 20 mil membros, o grupo anunciou, em 2002, um cessar-fogo unilateral e iniciou um acordo com Uribe para a desmobilização de combatentes até 2006.
A presença dos paramilitares causou polêmica no Congresso. "A presença dos negociadores das AUC no Congresso é algo que não ajuda o processo de paz", disse o deputado independente Wilson Borja, da Comissão de Paz.

Ruptura
Os candidatos democratas a presidente e vice dos EUA, John Kerry e John Edwards, e mais 21 senadores enviaram uma carta a Uribe e pediram a ruptura de laços entre o Exército e os paramilitares. Embora entendam as "dificuldades que [Uribe] enfrenta", eles expressaram "preocupação" com os "contínuos níveis da violência que afeta a população civil" e pediram "a suspensão, a investigação e um enérgico julgamento dos oficiais implicados nessas relações [com a AUC]".
O governo Uribe agradeceu o envio da carta, mas considerou-a uma jogada eleitoral para satisfazer a esquerda do Partido Democrata. A carta foi publicada em meio à Convenção Nacional Democrata, em Boston (EUA).
"Entendemos esse jogo político e responderemos também, politicamente, com resultados", disse o vice-presidente, Francisco Santos.
Santos admitiu, no entanto, que as negociações de paz estão atravessando uma grave crise de credibilidade e cobrou explicações dos paramilitares. "Os senhores da AUC terão de responder cara a cara ao país por que estão violando o cessar de hostilidades."
Os paramilitares dizem que, enquanto as guerrilhas seguirem cometendo ataques contra a população civil e seus próprios militantes, não respeitarão o cessar-fogo.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Teresa Heinz volta a saudar os brasileiros
Próximo Texto: Venezuela: Caracas alerta contra atraso do plebiscito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.