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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Bush anuncia plano, mas evita cessar-fogo
Sob pressão, americano anuncia volta de Condoleezza Rice ao Oriente Médio para negociar criação de "força internacional"
Ao lado de Blair, presidente insiste que o conflito é "oportunidade para uma mudança mais ampla"
em todo o Oriente Médio
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Sob pressão cada vez maior
para que faça um pedido de cessar-fogo imediato, principalmente de países árabes aliados
e da União Européia, o presidente George W. Bush anunciou um pacote de medidas para o conflito entre Israel e o
Hizbollah. Em entrevista conjunta na Casa Branca, no entanto, tanto ele quanto o primeiro-ministro britânico,
Tony Blair, continuaram defendendo uma "solução duradoura", eufemismo diplomático para chancelar as ações de
Israel.
O líder republicano e seu
principal aliado em questões de
política externa anunciaram
um "plano" que inclui a volta
hoje ao Oriente Médio da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, e
uma promessa do envio de uma
"força internacional de estabilização" no âmbito da ONU que
ajude em questões humanitárias e permita que o Exército libanês retome o controle do sul
do país, atualmente em poder
do grupo extremista e sob ataque do Exército israelense.
Tanto Blair quanto Bush voltaram a culpar Síria, Irã, Hizbollah, Hamas e mesmo insurgentes do Iraque pela crise, e o norte-americano afirmou que quer
fazer do conflito uma "oportunidade para uma mudança
mais ampla" no Oriente Médio.
"Pelo bem de uma estabilidade
duradoura, nós temos de lidar
com essa questão agora", disse
Bush. Nenhum dos dois pediu
via cessar-fogo o fim imediato
do conflito, que já dura 17 dias,
deslocou 750 mil pessoas e matou mais de 450, dos quais pelo
menos 400 libaneses.
Nas últimas horas, aliados
importantes dos EUA na região, como a Arábia Saudita e a
Jordânia, que num primeiro
momento condenaram as
ações do grupo xiita radical,
vêm cedendo a pressões internas crescentes e passaram a
condenar o que alguns analistas chamam de reação exagerada de Israel a um custo humanitário cada vez mais intolerável. Ontem, Blair disse apenas
que lamentava "profundamente pelo povo no Líbano e em Israel que são as vítimas inocentes".
"Nós podemos realmente
trazer um fim a essa crise", ofereceu, para afirmar em seguida
que, a não ser que os líderes libaneses sejam fortalecidos,
"nada funcionará por muito
tempo". A tibieza das declarações de Blair e sua total harmonia com a Casa Branca contradisseram o que haviam adiantado seus assessores antes do
encontro, que ele pressionaria
pela "urgência" de um cessar-fogo. Reforçaram ainda as críticas que o primeiro-ministro sofre no Reino Unido.
Ontem, o jornal britânico
"Independent" havia publicado
texto cujo título perguntava:
"Poodle ou cão-guia?"-a crítica mais habitual feita ao trabalhista é a de que agiria como um
mascote dos EUA. Políticos europeus temem que o auge das
hostilidades entre Israel e Hizbollah ainda está por vir e que
provavelmente nas próximas
duas semanas a opção diplomática ainda será a principal arma
de retórica tanto dos EUA
quanto do Reino Unido.
Mesmo o detalhamento da
tal "força internacional", que já
fazia parte do discurso da primeira viagem de Condoleezza
Rice, não avançou. Bush disse
que na semana que vem o Conselho de Segurança da ONU se
reunirá, e ambos os países pedirão que seja determinado ali
um prazo claro para o fim das
hostilidades "urgentemente" e
instalada uma força multinacional. A reunião foi adiantada
para segunda-feira.
Indagado se Rice aproveitaria a nova viagem para falar
com o governo da Síria, com
quem a Casa Branca não se comunica desde 2005, Bush não
quis responder. Em outro momento, disse que sua mensagem para aquele país era: "Torne-se um membro ativo para a
paz na vizinhança". O objetivo
do conjunto de países e grupos
extremistas apontados pelos
dois líderes como os verdadeiros responsáveis pelos conflitos na região seria desestabilizar a incipiente democracia.
"Ultrajantes"
Ontem ainda, um porta-voz
do Departamento de Estado
classificou de "ultrajantes" as
declarações do ministro da Justiça de Israel de que o governo
norte-americano teria dado
seu aval para o avanço da campanha militar israelense. O
aval, segundo o ministro, teria
vindo implicitamente quando
Rice declarou, na quarta-feira,
que esperava por um cessar-fogo "sustentável", em vez de um
"imediato". Embora isolado,
chamou a atenção o tom duro
usado pelo porta-voz do departamento.
Na Malásia, Condoleezza Rice voltou a recitar a cartilha dos
últimos dias, confirmando que
chega a Jerusalém hoje, mas insistindo que não busca uma solução imediata. Ao final da reunião de Roma, relembrou, "todos concordamos que não podemos voltar às circunstâncias
que primeiro criaram essa situação."
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