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Desenvolvimentistas apostam em América do Sul mais autônoma
Seminário no Rio debate relação entre integração regional e política externa
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
A entrada da Venezuela no
Mercosul e as decisões de Brasil e Argentina de quitarem
suas dívidas com o FMI são sinais de que os maiores países
da América do Sul estão caminhando para uma política externa menos dependente da
norte-americana e dos organismos multilaterais de financiamento.
Essa análise foi comum a vários participantes do seminário
"Pobreza e Desenvolvimento
no Contexto da Globalização",
realizado na semana passada
no Rio pelo Centro Internacional Celso Furtado, criado no
ano passado por discípulos do
economista e ministro do Planejamento no governo João
Goulart (1961-1964), morto em
2004.
O tom dos participantes, a
maioria ligada ao desenvolvimentismo, era de otimismo em
relação aos acontecimentos recentes na região. O economista
da Universidade de Buenos Aires Aldo Ferrer, por exemplo,
defendeu a tese de que a adoção
de posições conjuntas dos países do Mercosul em processos
de negociação internacionais
-como as discussões sobre a
Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) e na OMC (Organização Mundial de Comércio)- fortaleceu a autonomia
desses países.
"Quando um país estabelece
relações especiais por meio de
acordos de livre comércio com
as potências industriais maiores, reduz o campo de integração possível com os outros países da região. Nesse sentido, o
espaço onde se preservou
maior liberdade possível foi o
Mercosul. Isso ficou claro no
processo de negociação da formação da Alca", disse Ferrer.
Disparidades regionais
O sociólogo Hélio Jaguaribe,
concordando com Ferrer, afirmou que a inclusão da Venezuela no Mercosul demonstra
que há um interesse comum de
vários governos da região de
"superar o entrave do neoliberalismo" e de apostar em políticas de desenvolvimento. Para
ele, no entanto, a integração
sul-americana tem que levar
em conta algumas disparidades
regionais.
"Temos vários países que
ainda não lograram consolidar
o seu Estado nacional, como é o
caso dos andinos. Esses e outros, especialmente os da costa
do Pacífico, estão intimamente
associados aos EUA, o que não
permite que sua independência
seja comparável àquela que está sendo realizada pelos países
que integram o Mercosul. Somente uma integração maior
na América do Sul permitirá
que os países preservem ou ampliem a margem de autonomia
de que ainda dispõem", disse
Jaguaribe.
No mesmo seminário, Mark
Weisbrot, diretor do Centro de
Economia e Políticas Públicas,
com sede nos EUA, viu na decisão de Argentina e Brasil de
quitarem suas dívidas com o
FMI uma prova de que a influência do fundo na América
Latina está em queda.
No caso da Venezuela, Weisbrot citou os casos recentes de
apoio, inclusive financeiro, que
esse país deu recentemente à
Argentina e à Bolívia. No caso
da Argentina, a Venezuela
comprou US$ 2,5 bilhões em títulos da dívida externa daquele
país. No caso da Bolívia, o presidente Hugo Chávez anunciou
em maio que faria o mesmo e
ainda fez investimentos diretos
no país por meio da estatal venezuelana PDVSA.
Ferrer, Weisbrot e Jaguaribe
disseram enxergar no atual cenário político sul-americano
uma oportunidade para a criação de um banco próprio que
fomente o desenvolvimento na
região sem estar vinculado às
diretrizes do FMI.
"A idéia de fazer um banco do
Mercosul, usando 5% das reservas disponíveis nos Bancos
Centrais dos países membros,
já é um bom começo", defendeu o sociólogo.
Para Ferrer, além da criação
de um fundo para fortalecimento do bloco, é preciso avançar também no sentido de criar
um tribunal permanente de revisão e um parlamento para
tratar das questões comuns ao
Mercosul.
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