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Governo japonês deve perder eleição hoje
Segundo pesquisas, coligação do premiê perderá maioria no Senado; revés dificulta continuidade de gabinete já enfraquecido
Escândalo na Previdência e privatização dos correios fizeram cair popularidade do conservador Shinzo Abe, empossado há dez meses
Efe - 23.jul.2007
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Cartazes dos candidatos ao Senado em Tóquio; eleição fortalecerá o Partido Democrático do Japão, de oposição, dizem pesquisas
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Todas as pesquisas coincidem: o primeiro-ministro japonês, o conservador Shinzo Abe,
52, e o seu partido, o Liberal
Democrático, perderão hoje a
maioria no Senado, com as eleições que irão renovar a metade
das 242 cadeiras da Casa.
Mas não são os senadores
que determinam a composição
do governo. É tarefa institucional da Câmara, onde Abe e aliados possuem dois terços dos
480 deputados. Essa confortável base de apoio parlamentar é
uma das heranças que o premiê
recebeu ao tomar posse, em setembro último, de seu antecessor, Junichiro Koizumi.
Confirmada hoje a derrota,
Abe poderá teoricamente permanecer na chefia do governo.
Foi aliás a intenção que ele manifestou em mensagem postada em seu blog pessoal. Mas há
o precedente das senatoriais
eleições de 1998, nas quais o então premiê Ryutaro Hashimoto
perdeu a maioria e sentiu-se
moralmente obrigado a renunciar ao cargo.
Belo país
O problema não é, no entanto, bem esse. O atual premiê é
um exemplo raro de imperícia
política. Há a queda vertiginosa
de sua popularidade em apenas
dez meses. Assumiu com 70,2%
de aprovação. Está hoje com
apenas 26%, segundo o jornal
"Yomiuri Shimbun".
Tentou pôr em prática um
programa de direita altamente
ideologizado, chamado "O Belo
País". Mas, pelo jeito, os 127 milhões de habitantes do arquipélago estão hoje mais sensíveis
ao slogan da oposição: "A prioridade é a vida cotidiana".
O Partido Liberal Democrático tem 109 cadeiras no Senado, e seus aliados do Novo Komeito (budista), 23. Para manter a maioria eles deverão, em
conjunto, eleger 64 senadores.
As pesquisas indicam que elegerão em torno de 40.
O grande beneficiado será o
maior grupo da oposição, o Partido Democrático do Japão,
centrista. Os dois outros partidos visíveis, o Comunista e o
Social Democrático, não deverão, indicam as pesquisas, superar juntos 8% dos votos.
A economia vai bem. Cresceu
no ano passado 2,1%, em contraste com a prolongada recessão dos anos 90. O desemprego,
a partir de outubro do ano passado, caiu de 4,2% para 3,8%.
Mas acabaram estourando
no colo de Shinzo Abe duas
bombas-relógio armadas por
seus predecessores. A primeira
é o sumiço de 50 milhões de fichas eletrônicas da Seguridade
Social. Perderam-se os registros sobre contribuições de 20
milhões de japoneses aos caixas de aposentadorias e pensões. Pode ser negligência da
burocracia desde os anos 90 ou
então um antigo e fenomenal
mecanismo de desvio de dinheiro público. Uma comissão
independente apura o caso.
A segunda bomba é a privatização dos correios, com 5.500
agências que, além dos serviços
postais, geriam cadernetas de
poupança em que estão depositados US$ 3 trilhões. É um serviço que supria a falta de agências bancárias em pequenas aldeias do Japão rural. É justamente a população rural, mais
velha que a média, que também
se ressente do problema com as
aposentadorias. Tais eleitores
votavam no partido Abe.
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