São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Governo japonês deve perder eleição hoje

Segundo pesquisas, coligação do premiê perderá maioria no Senado; revés dificulta continuidade de gabinete já enfraquecido

Escândalo na Previdência e privatização dos correios fizeram cair popularidade do conservador Shinzo Abe, empossado há dez meses

Efe - 23.jul.2007
Cartazes dos candidatos ao Senado em Tóquio; eleição fortalecerá o Partido Democrático do Japão, de oposição, dizem pesquisas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Todas as pesquisas coincidem: o primeiro-ministro japonês, o conservador Shinzo Abe, 52, e o seu partido, o Liberal Democrático, perderão hoje a maioria no Senado, com as eleições que irão renovar a metade das 242 cadeiras da Casa.
Mas não são os senadores que determinam a composição do governo. É tarefa institucional da Câmara, onde Abe e aliados possuem dois terços dos 480 deputados. Essa confortável base de apoio parlamentar é uma das heranças que o premiê recebeu ao tomar posse, em setembro último, de seu antecessor, Junichiro Koizumi.
Confirmada hoje a derrota, Abe poderá teoricamente permanecer na chefia do governo. Foi aliás a intenção que ele manifestou em mensagem postada em seu blog pessoal. Mas há o precedente das senatoriais eleições de 1998, nas quais o então premiê Ryutaro Hashimoto perdeu a maioria e sentiu-se moralmente obrigado a renunciar ao cargo.

Belo país
O problema não é, no entanto, bem esse. O atual premiê é um exemplo raro de imperícia política. Há a queda vertiginosa de sua popularidade em apenas dez meses. Assumiu com 70,2% de aprovação. Está hoje com apenas 26%, segundo o jornal "Yomiuri Shimbun".
Tentou pôr em prática um programa de direita altamente ideologizado, chamado "O Belo País". Mas, pelo jeito, os 127 milhões de habitantes do arquipélago estão hoje mais sensíveis ao slogan da oposição: "A prioridade é a vida cotidiana".
O Partido Liberal Democrático tem 109 cadeiras no Senado, e seus aliados do Novo Komeito (budista), 23. Para manter a maioria eles deverão, em conjunto, eleger 64 senadores. As pesquisas indicam que elegerão em torno de 40.
O grande beneficiado será o maior grupo da oposição, o Partido Democrático do Japão, centrista. Os dois outros partidos visíveis, o Comunista e o Social Democrático, não deverão, indicam as pesquisas, superar juntos 8% dos votos.
A economia vai bem. Cresceu no ano passado 2,1%, em contraste com a prolongada recessão dos anos 90. O desemprego, a partir de outubro do ano passado, caiu de 4,2% para 3,8%.
Mas acabaram estourando no colo de Shinzo Abe duas bombas-relógio armadas por seus predecessores. A primeira é o sumiço de 50 milhões de fichas eletrônicas da Seguridade Social. Perderam-se os registros sobre contribuições de 20 milhões de japoneses aos caixas de aposentadorias e pensões. Pode ser negligência da burocracia desde os anos 90 ou então um antigo e fenomenal mecanismo de desvio de dinheiro público. Uma comissão independente apura o caso.
A segunda bomba é a privatização dos correios, com 5.500 agências que, além dos serviços postais, geriam cadernetas de poupança em que estão depositados US$ 3 trilhões. É um serviço que supria a falta de agências bancárias em pequenas aldeias do Japão rural. É justamente a população rural, mais velha que a média, que também se ressente do problema com as aposentadorias. Tais eleitores votavam no partido Abe.


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