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Biografia ácida expõe Diana dez anos após sua morte
Livro da jornalista Tina Brown mostra princesa fria e desfaz imagem de vítima
Nova biografia conta como Diana decidiu se casar com Charles e revela detalhes do seu relacionamento com o futuro rei dos britânicos
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foram mais de 250 entrevistas. Várias viagens ao Reino
Unido. Um adiantamento de
US$ 2 milhões. Dois anos de
prazo -um para a reportagem,
um para escrever o calhamaço
de 486 páginas. E um almoço
no restaurante do hotel Four
Seasons de Nova York, um mês
antes da morte da princesa, em
31 de agosto de 1997.
Tina Brown e Diana não estavam sozinhas. Anna Wintour,
outra editora britânica radicada em Manhattan, essa da revista "Vogue", queria comemorar a sessão que Diana tinha feito com o fotógrafo Mario Testino para a capa da edição de setembro de 1997. A princesa de
Gales, então com 36 anos, havia
gostado das fotos, das roupas,
de Testino, de tudo. Anna Wintour também.
Como sabia que sua colega da
"Vanity Fair" -que, como a
"Vogue", também faz parte do
cardápio da editora Condé
Nast- tinha um certo fascínio
pela princesa, convidou-a para
o almoço. O encontro das três
britânicas durou cerca de duas
horas, apesar de muito provavelmente nenhuma delas ter
dado mais de três garfadas em
seus pratos de peixes e legumes. Mas deu a Tina Brown a
chance de observar sua celebridade favorita e, depois, citar várias vezes o almoço e estrategicamente esquecer de mencionar a presença de Wintour.
É o que faz em "The Diana
Chronicles" (Doubleday,
2007), o mais completo relato
da trágica vida da princesa Diana, cuja morte num acidente de
carro, em Paris, completa dez
anos em 31 de agosto.
"High-low"
Nas revistas que editou, da
britânica "Tatler", que assumiu
aos 25 anos, à mais recente, a
publicação norte-americana
"Talk", dos irmãos produtores
de cinema Harvey e Bob
Weinstein, passando pelas que
chegou para mudar tudo, como
as americanas "Vanity Fair" e
"New Yorker", a marca registrada de Tina Brown era o que
se chama hoje de "high-low".
O que interessava a ela era
que as pessoas em suas revistas
fossem interessantes, sejam as
do expediente (foi ela quem
contratou autores como Malcolm Gladwell para a "New
Yorker" e que devolveu a Dominic Dunne sua coluna na
"Vanity Fair", que continua até
hoje, anos depois da saída da
editora), sejam as retratadas
em reportagens ou fotografadas (também é de sua gestão a
famosa foto de Demi Moore
nua, grávida de sete meses de
sua segunda filha na capa da
"Vanity Fair").
Sem preconceitos. Misturar
o "high-brow" e o "low-brow",
ou a alta e a baixa cultura -daí
o "high-low"-, sempre foi seu
maior talento. "Anna Nicole
Smith foi a personagem mais
desperdiçada pelas revistas de
cultura", disse recentemente à
revista "New York".
A ex-coelhinha da "Playboy",
que morreu de overdose provocada por um coquetel de remédios na Flórida no começo deste ano, lotou as páginas dos tablóides e das revistas de fofocas, mas foi quase ignorada por
títulos de mais prestígio.
"Se eu ainda estivesse editando uma revista, ela [Anna Nicole Smith] estaria na capa", afirmou Brown.
E é com esse espírito que a
escritora mergulha no fenômeno Diana. Em um momento,
afirma que os namorados que a
princesa teve enquanto ainda
era casada com Charles eram o
tipo de homem com quem ela
teria se casado se não desse de
topar com o príncipe em seu caminho. Estão nessa categoria o
major James Hewitt, o playboy
James Gilbey e o político Phillip Dunne, um dos poucos que
ela na verdade não conseguiu
seduzir, por "respeito à monarquia", justificativa que deu então ao atual membro do Parlamento britânico para cair fora.
"Diana teria vivido uma vida
satisfatória para uma mulher
de sua classe social, criado uma
família tradicional no campo e
tido quatro filhos que montariam em pôneis", aposta Tina.
Se tomasse esse outro caminho, acredita a autora, Diana
não teria a força de vontade
nem o desejo de se tornar uma
mulher tão sensacionalmente
bonita nem de ter experiências
de vida tão extraordinárias, como o seu trabalho filantrópico.
O esforço de Diana nasceu do
seu sofrimento no amor e da
inadequação que sentia na vida
cheia de regras da família real.
Mas Tina também não se deixa levar pela imagem de vítima
da princesa.
Ela acredita que Diana tenha
decidido se casar com Charles
quando ele começou a namorar
sua irmã mais velha, Sarah. Ela
tinha 16 anos, era gorducha e
bem sem graça, mas de alguma
maneira sabia que o príncipe
não se casaria tão cedo, quanto
mais com sua irmã, que era
bem mais rebelde que Diana e
já tinha tido outros namorados.
Boa família
Ele precisaria arrumar uma
noiva que fosse virgem e de
"boa família", bonita e bem-educada. Estava tão certa de
que esse era o seu destino que
costumava indagar a suas amigas mais próximas, quando
contava com toda a certeza do
mundo que seria a mulher de
Charles: "Com quem mais ele
pode se casar?".
Diana se manteve virgem e
cultivou a imagem de mocinha
inocente que encontrava nas
histórias de amor escritas pela
autora de romances água-com-açúcar Barbara Cartland -a
mesma que depois viraria sogra
de seu pai e diria que o problema do casamento de Charles e
Diana era que "ela se recusava a
fazer sexo oral", mas essa é uma
outra história.
E que ninguém pense que a
autora não revela detalhes mais
picantes. Logo nas primeiras
páginas, escancara um dos segredos mais íntimos do herdeiro do trono da Inglaterra.
Quando está em estado pré-ejaculatório, Charles gosta que
sua parceira o chame de Arthur, primeiro sussurrando no
seu ouvido, depois mais alto,
mais alto, mais alto...
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