São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007

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Biografia ácida expõe Diana dez anos após sua morte

Livro da jornalista Tina Brown mostra princesa fria e desfaz imagem de vítima

Nova biografia conta como Diana decidiu se casar com Charles e revela detalhes do seu relacionamento com o futuro rei dos britânicos

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foram mais de 250 entrevistas. Várias viagens ao Reino Unido. Um adiantamento de US$ 2 milhões. Dois anos de prazo -um para a reportagem, um para escrever o calhamaço de 486 páginas. E um almoço no restaurante do hotel Four Seasons de Nova York, um mês antes da morte da princesa, em 31 de agosto de 1997.
Tina Brown e Diana não estavam sozinhas. Anna Wintour, outra editora britânica radicada em Manhattan, essa da revista "Vogue", queria comemorar a sessão que Diana tinha feito com o fotógrafo Mario Testino para a capa da edição de setembro de 1997. A princesa de Gales, então com 36 anos, havia gostado das fotos, das roupas, de Testino, de tudo. Anna Wintour também.
Como sabia que sua colega da "Vanity Fair" -que, como a "Vogue", também faz parte do cardápio da editora Condé Nast- tinha um certo fascínio pela princesa, convidou-a para o almoço. O encontro das três britânicas durou cerca de duas horas, apesar de muito provavelmente nenhuma delas ter dado mais de três garfadas em seus pratos de peixes e legumes. Mas deu a Tina Brown a chance de observar sua celebridade favorita e, depois, citar várias vezes o almoço e estrategicamente esquecer de mencionar a presença de Wintour.
É o que faz em "The Diana Chronicles" (Doubleday, 2007), o mais completo relato da trágica vida da princesa Diana, cuja morte num acidente de carro, em Paris, completa dez anos em 31 de agosto.

"High-low"
Nas revistas que editou, da britânica "Tatler", que assumiu aos 25 anos, à mais recente, a publicação norte-americana "Talk", dos irmãos produtores de cinema Harvey e Bob Weinstein, passando pelas que chegou para mudar tudo, como as americanas "Vanity Fair" e "New Yorker", a marca registrada de Tina Brown era o que se chama hoje de "high-low".
O que interessava a ela era que as pessoas em suas revistas fossem interessantes, sejam as do expediente (foi ela quem contratou autores como Malcolm Gladwell para a "New Yorker" e que devolveu a Dominic Dunne sua coluna na "Vanity Fair", que continua até hoje, anos depois da saída da editora), sejam as retratadas em reportagens ou fotografadas (também é de sua gestão a famosa foto de Demi Moore nua, grávida de sete meses de sua segunda filha na capa da "Vanity Fair").
Sem preconceitos. Misturar o "high-brow" e o "low-brow", ou a alta e a baixa cultura -daí o "high-low"-, sempre foi seu maior talento. "Anna Nicole Smith foi a personagem mais desperdiçada pelas revistas de cultura", disse recentemente à revista "New York".
A ex-coelhinha da "Playboy", que morreu de overdose provocada por um coquetel de remédios na Flórida no começo deste ano, lotou as páginas dos tablóides e das revistas de fofocas, mas foi quase ignorada por títulos de mais prestígio.
"Se eu ainda estivesse editando uma revista, ela [Anna Nicole Smith] estaria na capa", afirmou Brown.
E é com esse espírito que a escritora mergulha no fenômeno Diana. Em um momento, afirma que os namorados que a princesa teve enquanto ainda era casada com Charles eram o tipo de homem com quem ela teria se casado se não desse de topar com o príncipe em seu caminho. Estão nessa categoria o major James Hewitt, o playboy James Gilbey e o político Phillip Dunne, um dos poucos que ela na verdade não conseguiu seduzir, por "respeito à monarquia", justificativa que deu então ao atual membro do Parlamento britânico para cair fora.
"Diana teria vivido uma vida satisfatória para uma mulher de sua classe social, criado uma família tradicional no campo e tido quatro filhos que montariam em pôneis", aposta Tina. Se tomasse esse outro caminho, acredita a autora, Diana não teria a força de vontade nem o desejo de se tornar uma mulher tão sensacionalmente bonita nem de ter experiências de vida tão extraordinárias, como o seu trabalho filantrópico.
O esforço de Diana nasceu do seu sofrimento no amor e da inadequação que sentia na vida cheia de regras da família real.
Mas Tina também não se deixa levar pela imagem de vítima da princesa.
Ela acredita que Diana tenha decidido se casar com Charles quando ele começou a namorar sua irmã mais velha, Sarah. Ela tinha 16 anos, era gorducha e bem sem graça, mas de alguma maneira sabia que o príncipe não se casaria tão cedo, quanto mais com sua irmã, que era bem mais rebelde que Diana e já tinha tido outros namorados.

Boa família
Ele precisaria arrumar uma noiva que fosse virgem e de "boa família", bonita e bem-educada. Estava tão certa de que esse era o seu destino que costumava indagar a suas amigas mais próximas, quando contava com toda a certeza do mundo que seria a mulher de Charles: "Com quem mais ele pode se casar?".
Diana se manteve virgem e cultivou a imagem de mocinha inocente que encontrava nas histórias de amor escritas pela autora de romances água-com-açúcar Barbara Cartland -a mesma que depois viraria sogra de seu pai e diria que o problema do casamento de Charles e Diana era que "ela se recusava a fazer sexo oral", mas essa é uma outra história.
E que ninguém pense que a autora não revela detalhes mais picantes. Logo nas primeiras páginas, escancara um dos segredos mais íntimos do herdeiro do trono da Inglaterra. Quando está em estado pré-ejaculatório, Charles gosta que sua parceira o chame de Arthur, primeiro sussurrando no seu ouvido, depois mais alto, mais alto, mais alto...


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