São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Em meio ao clima hostil de NY, convenção que escolherá Bush ressalta apoio hispânico, negro, asiático e feminino

Ilhados, republicanos apelam às minorias

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

A primeira Convenção Nacional Republicana da história de Nova York começa amanhã sob fortes protestos e com o principal objetivo de atrair para o partido do presidente George W. Bush os votos dos americanos que, afinal, definirão a eleição em novembro.
O destaque às minorias hispânica, negra e asiática, além das mulheres, dará o tom ao evento, ao lado do já tradicional discurso sobre segurança interna e guerra ao terror, marca da atual campanha eleitoral de Bush.
A convenção, no Madison Square Garden, a principal arena esportiva de Manhattan, será cercada por estimados 400 mil manifestantes durante esta semana, além de 11 mil policiais e cifras que beiram os US$ 160 milhões gastos para a sua organização.
Os republicanos vêm alardeando que 17% dos 4.853 delegados que apontarão Bush oficialmente candidato pertencem a minorias. Na última convenção do partido, em 2000, as minorias representavam apenas 10% dos delegados.
Em relação às mulheres, também houve um aumento, de 36% em 2000 para 44% agora.
Com o país dividido ao meio entre Bush e o democrata John Kerry, todo o esforço republicano vai se concentrar em tentar mostrar à opinião pública um partido mais aberto e democrático.
Os quatro vetores da convenção ("A coragem de uma nação", "A compaixão do povo americano", "Terra da oportunidade" e "Construindo uma América mais segura e promissora") procurarão, de alguma forma, tentar remendar essa fratura.
Nesse "esforço conciliador", um dos principais oradores da convenção republicana será um senador democrata, Zell Miller, da Geórgia, cujo mandato termina neste ano e que acabou se tornando aliado de última hora de Bush.
Mas a conciliação está distante. O clima eleitoral ficou polarizado nos últimos dias, protagonizados por um anúncio no qual veteranos de guerra questionam o "heroísmo" de Kerry no Vietnã.
O senador acusou Bush pelo anúncio, bancado por um grupo sem ligação formal com os republicanos. Bush negou, mas não condenou o anúncio.
Assim, a tarefa "conciliatória" republicana será difícil, especialmente em Nova York, cidade mais liberal dos EUA, onde 4 em cada 5 eleitores votaram contra Bush no pleito de 2000.
Pesquisa feita no início do mês em Nova York mostrou Kerry com 18 pontos de vantagem sobre Bush. Mesmo em se tratando das minorias cortejadas nacionalmente pelos republicanos, os democratas levam vantagem.
Na convenção democrata, no mês passado, em Boston, 40% dos delegados pertenciam a alguma minoria. Nos EUA, tradicionalmente os negros votam nos democratas. Os hispânicos têm seguido a mesma tendência, com a exceção dos cubanos da Flórida.
Nova York foi escolhida para sediar a convenção republicana no final de 2002, quando Bush ainda surfava na alta popularidade da fase pré-Guerra do Iraque.
Apesar do mau humor local e dos protestos, os republicanos tentarão manter os planos.
"Bush tenta a reeleição se apresentando como um grande comandante-em-chefe do país. A idéia de fazer a convenção onde os EUA foram atacados e onde os democratas se sentem em casa tenta passar a idéia de que ele é um homem forte no comando da nação", afirma a analista política independente Tanya Melich.
Bush já decidiu, no entanto, que passará só algumas poucas horas em Nova York, tempo suficiente para fazer um discurso na quinta-feira. No resto da semana, fará campanha em vários Estados.
Outros estrategistas acreditam ainda que uma situação de descontrole que provoque cenas feias nos protestos em Nova York possa beneficiar os republicanos. Assim como Kerry, Bush dependerá sobretudo do eleitor indeciso.


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